quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O saudável paradoxo do Raul Longo


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O paradoxo do nosso colaborador e amigo Raul Longo está no título desta sua saudável crônica. 

O Raul, com o coração apertado por assistir à destruição de sua cidade natal, vendo-a chegar praticamente ao estado em que Inácio de Loyola Brandão, em "Não Verás País Nenhum", alertou que ela chegaria, nos diz...

Nada acontece no meu coração



Raul Longo*


Na verdade, não é de hoje que nada acontece no meu coração a respeito da cidade de São Paulo.

Já há umas duas décadas a poluição daquela capital me provocou um escarro em plena Ipiranga com São João, justo no pico do horário de rush. Ao contrário de Augusto dos Anjos, senti-me sem um único abismo para filosofar sobre a queda daquela secreção. Acuado por tantos pés céleres a atravessar a esquina, segui até à Avenida Consolação onde, enfim, encontrei um canteiro para me livrar do horrível gosto de fuligem.

Fui em frente considerando a impossibilidade de voltar a viver numa cidade onde a sucessão de representantes dos interesses capitalistas, por puro descaso e desleixo amontoam as pessoas em tão densa concentração.

Terceira ou segunda maior cidade do mundo, São Paulo é o mais acabado exemplo da ausência de humanismo do sistema político/econômico em vertiginosa evolução desde os anos 50, quando ali fui educado pela família e pelo Instituto de Educação Caetano de Campos.

Colégio Caetano de Campos, Praça da República - SP
A família me ensinava a ser cordial com os mais velhos e às mulheres, proceder civilizadamente com todas as pessoas independente de gênero ou faixa etária. Por isso planejei a caminhada da São João à Consolação, evitando cuspir nos pés dos apressados transeuntes das 18 horas da Av. Ipiranga.

Já o Caetano de Campos me ensinou outras coisas, entre elas a importância histórica de São Paulo desde quando os Bandeirantes planejavam incursões pelos interiores, reunidos no ponto de partida lá na antiga bica do Largo da Memória. Os objetivos das Bandeiras eram dos mais deploráveis: prear indígenas e descobrir riquezas minerais a serem espoliadas pelos colonizadores. Mas no século XIX, já com o nome de Largo do Piques, atraindo moradores pela água da nascente, o local testemunhou os moradores do então pequeno vilarejo a planejar o cotidiano e viajantes a projetar o prosseguimento pelas longas trilhas ao sul, ao norte ou a oeste do país.

Ainda no começo daquele mesmo século se criou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco que junto com a de Olinda é a mais antiga do Brasil e onde se planejou muitos dos principais versos da literatura romântica brasileira, como os de Castro Alves. Em São Paulo, ali se planejou a abolição da escravatura no país! A grande maioria das leis que hoje regulamentam a civilidade de toda a nação.

O verdadeiro Bauru do Ponto Chic
Até o sanduíche nacionalmente conhecido como “Bauru”, foi planejado por um estudante das Arcadas de São Francisco. Era diferente do que hoje se serve, mas quem for ao Ponto Chic, lá no Largo do Paissandu, poderá conhecer a versão original projetada por Casimiro Pinto Neto, natural da interiorana cidade que deu nome ao indevido pão com tomate, presunto e queijo. Projetado para se constituir em uma refeição, o  verdadeiro bauru leva rosbife, queijo branco em pedaço grosso e dilatado no calor da chapa e, além do tomate, vem com rodelas de pepino.

As falsidades exportadas de São Paulo para o resto do país não se resumiram ao bauru. O mato-grossense Jânio Quadros, que renunciou aos 7 meses de presidência, foi outro. Mas o Ponto Chic chegou a ser frequentado pelos que planejaram a promoção da real cultura brasileira: a Semana de Arte Moderna de 1922.

Ponto Chic
Graças àquele movimento o Brasil descobriu-se em Oswald e Mário de Andrade, Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho e tantos outros.

Nasci em São Paulo, mas só tomei consciência da importância da cidade nos anos 60. Apesar de um dos mais corruptos políticos paulistas ter criado a Marcha de Deus com a Família que apoiou o mais longo e triste período da história da república, o da ditadura militar, naquele tempo planejava-se ali a resistência à opressão do país. Fosse pela UNE de Dirceu e Travassos, fosse pela luta armada de Lamarca ou Marighela.

Mesmo depois de deixar a cidade nos 70, o meu coração continuou batendo pela São Paulo que também resistia planejando muito do que melhor aconteceu no país na década através de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, José Martinez Correa, Plínio Marcos e tantos outros do teatro, como os muitos dos festivais de música: Chico Buarque, Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo. E de todas as artes: Leny Dale, Wesley Duke Lee, Rogério Sganzerla.
Esquina da Av. São João com Av. Ipiranga (Centro na madrugada)


Foi em São Paulo que Caetano Veloso e Gilberto Gil, unidos aos Mutantes, Tom Zé, Torquato Neto, Capinam e o Maestro Rogério Duprat planejaram o Tropicalismo.

Também em São Paulo se planejou o lançamento de fenômenos como Elis Regina e Milton Nascimento. Se algo batia no coração do Brasil é porque começara a pulsar em São Paulo.

Ainda no inicio dos anos 80, a cada vez que ia a São Paulo, um novo latejar, uma nova vertente: Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e tantos outros que planejaram o movimento dos artistas independentes.

Mas, então, a cada retorno a cidade me parecia mais mofina em uma suntuosidade de pouco conteúdo e total falta de planejamento a soterrar o sorriso por seu humor de Adoniran Barbosa e o lamento por suas tragédias cotidianas de um Paulo Vanzolini.

Rua Direita em 1954, final de tarde
Sofrendo decepções com a cidade onde nasci, cansei-me dela ao perceber que por pura falta de planejamento, falta de qualquer cuidado com as vidas humanas que a ocupam, tornou-se um lugar sem espaço sequer para cuspir.

Muitos shoppings, grandes restaurantes, casas de espetáculos, templos de consumo, mas tudo tão frio e artificial quanto à sobrevida em uma UTI onde se esqueceu de planejar a recuperação dos pacientes. Pacientes mantidos por sensação de vida, mas já sem reais emoções, sem real vontade, sem qualquer percepção e possibilidade de futuro, sem nenhum outro plano se não o de ir de lá pra cá, correndo atrás do que há muito perderam e já nem se recordam o que seja.

Rua Direita em 2009, meio da tarde
Tenho muita saudade dos amigos e das mulheres que ali amei, mas hoje, quando vou a São Paulo, fico tentando perceber o que planejam as pessoas além desse eterno e apressado ir e vir sem chegar a lugar algum. Fico tentando senti-los, mas, talvez com medo de que me cuspam nos pés, nada acontece no meu coração.

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Observação Assaz Atroz: Mas, aí sim, nada deve acontecer no coração de um calculista, gente frígida, cujos planos não passam de projetos pessoais, pessoa que não sente nenhuma obrigação, necessidade moral, dever, disposição de retribuir apoios populares do passado, gratidão pelo que um povo já fez por ele... Acaba dizendo coisas assim...


“Não sou obrigado a apresentá-lo...”
Celso Russomanno, candidato a Prefeito da Capital do Estado de São Paulo, referindo-se ao seu plano administrativo.


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Leia também...


Celso Russomanno não é um candidato de muito currículo, mas tem história…


Russomanno é mais velho do que eu, mas a gente já esteve próximo num certo momento da vida. Ele fazia o programa Circuíto Night and Day e eu o Contramão, na TV Gazeta. O programa do qual fui repórter, ia para o ar antes do dele. Eu conheço algumas histórias do atual líder nas pesquisas, mas dando uma googlezada achei outras também bastante interessantes.

Apesar dessa imagem quase heroica que cultiva, Russomanno possui uma folha corrida… Ops, um passado complicado . Como o candidato não aceita falar dessas questões,  César Tralli que o diga, relaciono abaixo a “folha” do “herói” do consumidor.

Crime de peculato: 

Em 2008, Russomanno foi acusado no STF de peculato, que nada mais é que a apropriação, ou desvio, de recursos públicos em proveito próprio. O candidato do PRB teria desviado verba da Câmara para pagar salário de uma funcionária de sua empresa quando era deputado federal.

O caso chegou ao STF em 2008, mas como Russomanno deixou o cargo de deputado em 2010, o processo atualmente tramita na Justiça do Distrito Federal.

(...)

Crime de Falsidade ideológica:

Celso Russomanno é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ter cometido o crime de falsidade ideológica. Para o órgão, o candidato mentiu sobre seu endereço eleitoral para disputar a prefeitura de Santo André em 2000. A lei eleitoral exige que os candidatos morem na cidade onde se vai disputar um cargo eletivo por três meses, antes de solicitar a transferência do domicílio eleitoral.

A acusação contra o candidato do PRB foi aceita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em junho. Após o Supremo receber a denúncia, o processo voltou para a primeira instância, uma vez que Russomanno deixou o cargo de deputado federal e não possui mais direito ao foro privilegiado.

(...)

CPI do Cachoeira:

Reportagem do jornal Correio Brasiliense, publicada em julho deste ano, revelou que Russomanno teria R$ 7 milhões em uma conta no exterior operada pela organização de Carlinhos Cachoeira.

Russomanno teria recebido este dinheiro quando era deputado federal. De acordo com o jornal, a existência desta conta aparece em um relatório da Polícia Federal enviado à CPI.

(...)

(Tem mais... muito mais, e se isso interessar a algum eleitor paulista, é só clicar no título e ler tudo no Blog do Rovai )

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*Raul Longo, jornalista e escritor, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA


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