Portugal
Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, informou que o Ministério da Saúde deve limitar o acesso aos medicamentos mais caros para tratar doenças como a sida ou o cancro. Explica: "vivemos numa sociedade em que, independentemente das restrições orçamentais, não é possível, em termos de cuidados de saúde, todos terem acesso a tudo". No "tudo" inclui a dignidade de quem está nos últimos meses da sua vida. "Será que mais dois meses de vida, independentemente dessa qualidade de vida, justifica uma terapêutica de 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros?"
Onde acaba o "racionamento ético"? E se for um ano? Já vale a pena? E dez anos? No fim, não vamos todos morrer? E se forem 20 mil euros? E se o doente tiver recursos para pagar o tratamento, pode viver mais uns meses? E que tal aprovar um quadro para o tempo merecido de vida com os valores correspondentes? Em que valores exatos, medidos em meses de vida/euros, para o médico de lutar por um ser humano que entregue as suas derradeiras energias a sobreviver? Quanto vale o nosso inabalável instinto de sobrevivência? Quando passará a contabilidade a ser uma fria máquina de morte? E porque ficar pelos doentes? E os velhos que vivem mais do que devem, incapazes de se mover e de trabalhar? Quanto nos custam? Valerá a pena? Terão qualidade de vida que justifique tanto desperdício e ineficiência?
Que fique claro: para continuar a lutar por uma vida não vale tudo. Há coisas que se devem ter em conta. A vontade do doente. A sua qualidade de vida. O sucesso previsível do tratamento. Não os custos. Porque uma vida, um mês de vida que seja, não tem preço. É isso que separa a civilização da barbárie. E no dia em que o médico passa a contabilista sabemos que nada estará entre nós e quem tem de fazer as contas. Que alguém deixou de cumprir o seu papel. O do médico não é medir o valor financeiro dos últimos dias que vivemos. É lutar por nós.
O Presidente daquele órgão consultivo, responsável por um relatório sobre o tema (que li e que é menos explícito, menos brutal e mais cauteloso do que estas inacreditáveis declarações), explica: "é uma luta contra o desperdício e a ineficiência". Finalmente conseguiu-se: os médicos transformados em contabilistas, a vida decidida por uma máquina calculadora. Poderemos, coisa que nos fazia falta, medir o BPN em meses de vida. Refrescante.
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Portugal at flashpoint as austerity lights fires in mild-mannered populace
[Matéria em inglês. Um translado do Google não é lá muita coisa, mas quebra um galho. Clique no título e leia completo]
("Nós somos calmos, respeitamos a lei, mas 1 milhão de pessoas nas ruas, é 10% da população. Se não conseguirem ver que este é um país que se está a erguer contra este tipo de políticas, que mais teremos de fazer?" [...] Agora a questão é saber se os protestos criaram uma marca permanente; se foi o ponto em que os ponderados portugueses dizem basta. De volta a Vialonga, o pai de Marina pensa que se ainda não o foi, então o momento estará bem próximo. "As coisas estão a ficar muito tensas agora," diz. "Poderá quebrar muito facilmente - e muito depressa.")
(...)
O Português são vistos para ser bem-educado e aceitar comparação com os seus de cabeça quente vizinhos espanhóis, mas, como um veterano sindicato observou secamente: "Nós tivemos uma revolução, o espanhol teve uma transição de uma ditadura."
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Fabricantes locais também sofreram. Empresas portuguesas vendem quase 70% de seus bens os consumidores domésticos, muitos dos quais já não têm o dinheiro para itens não essenciais. Como as empresas faliram ou vendas caíram, assim como as receitas de impostos do governo.
(...)
Há um sentimento de desconfiança completo em políticos de todo o espectro político. Durante os protestos, as pessoas gritavam "ladrões" no palácio presidencial e um motorista de táxi brincou dizendo que ele iria me levar ", onde os assaltantes estão", quando perguntado sobre o edifício do parlamento.
[Lá, como aqui, o sentimento sobre a politicalha é o mesmo, com uma diferença fundamental: os portugueses não dizem "cansei", estão na luta nossos irmãos da Pátria Mãe]
E fiquem com Chico Buarque em "Tanto Mar"
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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