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EL CHE, roteiro romanceado para película cinematográfica, composto de ..X.. sequências, podendo desdobrar-se em tantas outras, o quanto for necessário, considerando que o protagonista exibe uma biografia significativa entre as que se desenvolveram no Século XX. É certamente uma das mais admiráveis, pois se trata de Ernesto Guevara de la Serna, o Che Guevara, extraordinário combatente das guerrilhas latino-americanas. Portanto, não há como negar, distorcer ou simplesmente ignorar esta verdade: Che Guevara é importante vulto histórico contemporâneo. Sua memória ocupa posição de destaque entre os mais expressivos ícones da História.
027 — Estaleiro em Tuxpán — Ext./Dia
Pequeno estaleiro de reparos navais nas proximidades do porto de Tuxpán. Uma embarcação de aproximadamente vinte metros de comprimento está sobreposta em uma carreira de trabalho. Fidel, Bayo, Hermes e Guevara acompanham um homem até o barco. O homem sobe pela escada apoiada no costado; Fidel, Bayo e Hermes o seguem; Guevara abaixa-se e caminha curvado por debaixo da embarcação, inspecionando o casco recoberto por algas. Apanha um pedaço de chapa metálica no chão e raspa uma pequena área, livrando-a das incrustações marinhas. Analisa visualmente o local, em seguida continua vistoriando o fundo do iate. Corta para o interior do barco. Hermes e Bayo estão diante do motor de propulsão, falam (off) e gesticulam, apreciam e comentam as condições da maquinaria. Corta para a cabine de comando, onde Fidel e o homem do estaleiro verificam o local. Corta para Guevara chegando ao pé da escada de acesso ao barco; os homens que estavam a bordo começam a descer pela escada. Todos reunidos nas imediações da embarcação.
Guevara: — Como estão as coisas lá dentro?
Fidel: — Necessitam de reparos, mas nada que não se possa resolver.
Coronel Bayo: — Acho que a maquinaria é a parte que dará mais trabalho.
Homem do estaleiro: — Resolveremos tudo. Temos peças de reposição.
Caminham em direção ao escritório do estaleiro.
028 — Escritório do estaleiro — Int./Dia
O grupo entrando no escritório. O homem do estaleiro senta-se à sua mesa de trabalho, Fidel acomoda-se numa poltrona em frente, Bayo e Hermes permanecem em pé ao lado da mesa. Guevara se afasta dos demais e passa a observar o ambiente, detendo-se diante de um grande timão que serve de adorno em uma parede. Guevara observando o timão (voz do homem do estaleiro citando custos, prazos etc.) Close de Fidel com expressão de espanto.
Fidel: — Tudo isso por uma simples bússola?!
Homem do estaleiro: — Não podem navegar sem bússola. A do barco está danificada... e tudo está cada vez mais caro... compreende?
Corta para Guevara apontando para um canto do escritório.
Guevara: — Aquela parece perfeita. Funciona?
Detalhe: a bússola para a qual Guevara aponta é um instrumento antigo, decorativo.
Homem do estaleiro: — Sim, funciona, sim, mas estou oferecendo o que há de mais moderno na praça.
Guevara passando a mão sobre a bússola.
Guevara: — Ela não deve estar satisfeita com o prolongado ócio. Sente falta do balanço das ondas.
Homem do estaleiro: — Está bem, podem ficar com ela. Brinde da casa.
Todos demonstram satisfação. O homem do estaleiro continua falando (off). Guevara se aproxima da janela do escritório. Ponto de vista: Guevara observa a embarcação em cima da carreira.
029 — Cidade do México - loja Recuerdos — Ext./Dia
Fachada da loja. Corta para o interior da loja. O Sr. Oscar, do lado de dentro do balcão, conversa (off) com outro homem, este do lado de fora. Entre eles, sobre o balcão, há um rádio transmissor/receptor. Parecem discutir sobre o aparelho. O Sr. Oscar faz um gesto (cruza as mãos espalmadas em rápido vaivém) indicando o encerramento da discussão. O homem sacode a cabeça afirmativamente. O Sr. Oscar abre a caixa registradora, retira algumas cédulas e as entrega ao homem. Este, após contar e embolsá-las, sai do estabelecimento. O Sr. Oscar põe o rádio em uma caixa de papelão. Do cômodo dos fundos da loja, sai o velho motorista do caminhão carregando uma volumosa caixa. O Sr. Oscar parece recomendar ao velho que ele deve levar também a embalagem com o rádio. O velho acena afirmativamente com a cabeça, indicando haver entendido.
030 — Fazenda dos treinamentos — Ext./Dia
Plano geral da fazenda. Corta para o interior do paiol. Coronel Bayo e um pequeno grupo de auxiliares estão recolocando os fuzis, pistolas e granadas nos caixotes.
031 — Apartamento de Maria Antônia — Int./Dia
Em frente a um grande espelho, Raul experimenta uma roupa de campanha. Maria Antônia acerta as medidas, espeta alfinetes e observa o resultado.
032 — Apartamento de Dona Leda — Int./Dia
Dona Leda e Maria estão acondicionando produtos alimentícios em caixas espalhadas pela sala. Dona Leda olha para um retrato na parede (ela e o Sr. Oscar em foto retocada). A senhora interrompe a tarefa e se dirige a uma cristaleira, sobre a qual se encontra um porta-retratos com a fotografia de seus filhos, sorridentes universitários, abraçados. Dona Leda pega o porta-retratos, admira-o por um instante, beija a foto e enlaça-o contra o peito.
033 — Estaleiro de Tuxpán — Ext./Dia
Homens do grupo de Fidel e funcionários do estaleiro trabalham nos reparos do barco adquirido pelos cubanos, executam tarefas diversas: soldagem, pintura, transporte de material etc. Corta para o interior do barco: um técnico instalando o rádio comprado pelo Sr. Oscar.
034 — Apartamento de Guevara — Int./Noite
Sobre a mesa da sala, encontra-se uma caixa de primeiros socorros. Hilda está abastecendo-a com frascos e caixetas. Corta para Guevara entrando na sala. Ele fecha a porta, dirige-se à esposa e a beija. Observa o material.
Guevara: — Então, como ficaremos em caso de emergência?
Hilda: — Acho que tem o necessário.
Guevara: — Pelo visto, temos mais recursos que o Hospital Central. (Pega alguns produtos sobre a mesa). Gaze, algodão, esparadrapo, analgésico... Ah! cortisona, minha asma terá companhia.
Hilda (pegando um envelope na estante): — Chegou carta da sua mãe.
Hilda entrega o envelope a Guevara, que o abre, retira a carta e passa à sua leitura.
Corta para Célia, mãe de Guevara, na sala de sua residência em Buenos Aires, escrevendo a carta.
Voz de Célia sob efeitos especiais: — Filho, sei que já pensaste exaustivamente sobre tua decisão de acompanhar a expedição dos cubanos, mas não me custa perguntar se tens plena consciência dessa tua atitude? E Hilda? E minha neta? Já resolveram como ficarão aí no México? Tenho muita vontade de conhecê-las. Sei que agora Hilda trabalha, mesmo assim se trata de uma questão que exige muito cuidado. Não teremos a certeza do teu regresso. Estás convencido do êxito numa luta contra tão poderoso adversário? Reconheces a enorme diferença ente as forças envolvidas? Desculpa-me se te bombardeio com tantas perguntas, mas qualquer mãe no meu lugar faria o mesmo. Na última carta que me enviaste, foste conclusivo, disseste que “vale a pena morrer numa praia estrangeira por um ideal puro”. Encheste meu coração de orgulho, mas também fizeste a responsabilidade e as possíveis consequências de tua decisão me chamarem à razão. Este é o motivo pelo qual te submeto ao interrogatório acima. Um forte abraço a ti e a todos os teus”.
Célia
P.S.: Desde que nos trouxe tua carta, teu amigo Alberto tornou-se nosso amigo também.
Corta para Guevara, concentrado. Hilda continua a arrumação do material na caixa de primeiros socorros. Guevara se aproxima dela e a abraça por trás.
Guevara: — Dona Célia está muito preocupada contigo e com a neta. Acha que ficarão desamparadas. Não conhece nossos planos. Eu gostaria que você mesma escrevesse para ela a fim de tranquilizá-la. Está bem?
Hilda está visivelmente nervosa. Acidentalmente ela deixa um frasco cair. Ainda faz um rápido movimento na tentativa de evitar a queda do frasco, mas Guevara a detém, segurando-a pelo braço e puxando-a contra si, enlaçando-a por trás. \Detalhe do frasco caindo no chão e despedaçando-se em câmara lenta. O casal permanece parado por um instante, na posição em que Guevara abraçou Hilda. Lentamente, Hilda se volta de frente para o marido.
Hilda: — Está bem, escreverei. Precisamos tranquilizar... dona Célia.
Abraçam-se fortemente. Ela chora. Guevara afasta a esposa delicadamente e ergue a sua cabeça, forçando o queixo com as pontas dos dedos.
Guevara: — Tudo vai dar certo, verá. Breve, estaremos todos em Havana. Eu, você, Hildita e... quem sabe mais algumas flores e frutos, hein?! Podem até não se comparar à imponência dos Andes ou à grandiosidade do Himalaia, mas Fidel me garantiu que aquela ilha tem magníficas montanhas.
Beijam-se ardentemente. Abre para plano geral: a câmera gira devagar pela sala até se deter na janela, onde as cortinas se esvoaçam ao vento. Através da janela, câmera enquadra vista parcial da cidade, sobre a qual incide raios e trovões que dão início a uma tempestade. Corta para Guevara e Hilda abraçados.
Guevara: — Esta não parece ser uma noite adequada para navegação.
035 — Apartamento dos cubanos — Int/Noite
Sonoplastia: som de trovões.
Na sala, atulhada de mochilas, caixas e outros volumes para viagem, alguns homens. Fidel e Bayo se movimentam transportando o material para fora do apartamento.
Fidel: — A maior parte dos homens já está no porto.
Coronel Bayo: — Acha que devemos partir, mesmo com a proibição da Divisão de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras?
Fidel: — Devemos sim. Eles não nos proibiram de zarpar pensando em nossa segurança, mas sim com o objetivo de retardar nossa operação. Certamente para nos dar um golpe, encontrar pretexto para nos mandar para a prisão. Nunca duvidei da influência de Batista junto a certas autoridades mexicanas.
Coronel Bayo: — Concordo plenamente com você, mas que existe o problema da tempestade, isso não podemos negar. Acredita que vamos navegar em segurança com essa tempestade?
Fidel: — Não.
Coronel Bayo: — Então, comandante?
Fidel: — Então, coronel, você não conheceu o limite da segurança na guerra civil espanhola?
Coronel Bayo: — Em qualquer que seja a guerra, o limite da segurança depende sempre da coragem dos envolvidos na luta.
Fidel: — Nesse caso, se considerarmos o quanto seremos corajosos, nos lançando ao mar nessas condições, entenderemos, de imediato, que, numa guerra, a nossa segurança estará sempre por um fio. Se não pudermos partir com essa consciência, melhor será ficarmos por aqui mesmo, ou... aceitemos a “anistia” de Batista.
Abre para plano geral: os homens continuam suas tarefas de arrumação e preparativos para a viagem.
036 — Apartamento do Sr. Oscar — Int./Dia
O Sr. Oscar, sentado em uma cadeira de balanço, ouve música no rádio. Detalhe: o aparelho sobre uma mesinha apropriada. Sonoplastia: toca prefixo musical característico de noticiário urgente.
Voz do locutor: — Em virtude do temporal que há mais de duas horas incide sobre a região litorânea, precipitação esta antecipadamente anunciada pelo serviço de meteorologia da Universidade do México, a Polícia Marítima informa que está proibida a saída de embarcações de pequeno porte em direção ao mar aberto, até que se normalize as condições do tempo para navegação.
O Sr. Oscar demonstra impaciência, mexe-se na cadeira, desliga o rádio. Dona Leda se aproxima do marido, trazendo uma xícara de chá fumegante. O Sr. Oscar aceita o chá oferecido pela esposa. Ela deixa a bandeja sobre uma mesinha de centro, dirige-se a um oratório num canto da sala, põe um véu sobre a cabeça, pega um terço aos pés da imagem da Virgem, ajoelha-se e ora em silêncio.
037 — Cais do porto de Tuxpán — Ext./Noite
A tempestade agita a maré em ondas que sacodem o iate Granma, o barco adquirido pelos cubanos. Homens se movimentam no convés tentando manter a embarcação protegida contra os impactos no cais, provocados pelos fluxos e refluxos das águas. Corta para o caminhão chegando ao cais, transportando homens na carroceria. Ao estacionar, os passageiros desembarcam apressados. Da boleia, saem, além do velho motorista, Fidel e Bayo. Todos auxiliam no transporte do material; em geral, caixas e mochilas. Corta para o interior da embarcação: Fidel descendo por uma escada que dá acesso ao piso abaixo do convés. Ao pé da escada, ele encontra Guevara.
Fidel: — Estamos todos a bordo, podemos partir.
Guevara: — E não vai dar para esquecer esta madrugada de vinte e cinco de novembro de mil novecentos e cinquenta e seis.
Fidel (consultando o relógio): — Quinze para as duas da madrugada.
Corta para o cais, onde o velho motorista, usando uma capa, está de pé ao lado da cabine do caminhão. A tempestade, o mar agitado, o iate Granma ao vaivém das ondas, homens se movimentando no convés. Um homem na proa grita para o velho motorista.
Homem na proa: — Companheiro, solte as cordas!
O homem aponta para a extremidade do cabo do barco preso ao cais. O velho motorista se apressa em soltar as cordas, primeiro a de ré, em seguida, a de vante. O velho motorista acena para os homens no convés. O Granma começa a se afastar do cais enfrentando o mar revolto.
038 — Havana (vista aérea) — Ext./Dia
Após exibição das imagens aéreas da cidade, Corta para a fachada do prédio do Departamento de Polícia, pessoas entrando e saindo. Corta para o interior do Departamento, sala de radiotelegrafia. Um policial, fazendo anotações, acompanha a recepção de uma mensagem. Sonoplastia: bips indicando transmissão e recepção de mensagem em Código Morse. Encerram-se transmissão e recepção da mensagem. O policial levanta-se com o papel das anotações da mensagem na mão e sai da sala. Caminha apressado entre mesas de trabalho, aproxima-se de uma porta onde uma pequena placa informa: Chefe do Departamento. O policial abre a porta e entra. Corta para o interior da sala, policial fechando a porta atrás de si. Em seguida, caminha em direção a um homem sentado à mesa de trabalho. É o Chefe do Departamento de Polícia.
Policial: — Desculpe interrompê-lo, senhor, mas acho que isso tem prioridade.
O policial entrega a mensagem ao chefe e sai da sala. O chefe lê (off) a mensagem, pega o telefone, disca um número e aguarda um instante, até que alguém atende.
Chefe do Departamento de Polícia: — O coronel Montenegro, por favor (silêncio). É o Chefe do Departamento de Polícia, diga que é urgente!
Transcorridos alguns segundos, o coronel Montenegro atende: Alô!
Chefe do Departamento de Polícia: desculpe incomodá-lo, coronel. Recebemos uma mensagem importante (Silêncio). Sim, é sobre isso mesmo (Silêncio). Está bem, eu mesmo a levarei até aí.
O Chefe do Departamento de Polícia desliga o telefone, recosta-se na cadeira e olha para o papel na sua mão.
039 — Hotel Capri — Int./Dia
Balcão do bar, o coronel Montenegro desligando o telefone. O barman limpando e arrumando taças de cristal, apenas os dois estão no ambiente. O coronel permanece por um momento pensativo, em seguida se afasta do balcão e caminha em direção a um salão de jogos. Corta para o coronel se aproximando de uma mesa na qual três homens estão jogando, dentre estes o general Ortega. Um garçom serve o general.
Cel. Montenegro: — Senhores, o dever me chama, preciso me ausentar.
O general Ortega fala olhando para as cartas que tem na mão.
Gal. Ortega: — Ora, vejamos! Para afastá-lo das cartas num momento em que a sorte está sendo tão generosa com você, deve haver um motivo extremamente importante!
Cel. Montenegro: — Tão importante que também faria um general ter essa mesma atitude. Mas, por enquanto, não vejo razão suficiente para privar nossos amigos da sua generosidade. O senhor está contribuindo, significativamente, para aumentar as contas bancárias deles.
Os parceiros de jogo riem.
Gal. Ortega: — Apenas empresto! Chegará minha vez. Cobrarei com juros!
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OBJETIVO DESTA PUBLICAÇÃO:
Com a publicação do roteiro “EL CHE”, o autor tem como principal objetivo a busca de parcerias e recursos técnicos, humanos e financeiros que viabilizem a transformação deste trabalho em livro (roteiro romanceado), filme ou série especial para plataforma de exibição pelo método streaming.
O AUTOR: Fernando Soares Campos é escritor (contista, articulista e colaborador de diversos portais de notícias), com quatro livros publicados e participação em diversas obras de autoria coletiva, destacando-se estudo de caso em "Para além das grades: elementos para a transformação do sistema socioeducativo". Editora PUC/Rio. Coedição: Edições Loyola.
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"Assista" ao próximo capítulo
Aguardando próxima postagem
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