Geraldo e Cláudio são amigos inseparáveis. Aposentados, podem ser vistos a partir das duas da tarde, todos os dias, na mesa exclusiva da dupla, no Bar do Cardoso. Nos últimos vinte anos, só falharam um dia. Foi no domingo passado, pois naquele dia o bar fechou devido ao recrudescimento da violência que toma conta da cidade há uma semana.
Geraldo abre o jornal e lê para o companheiro:
— Vê essa, meu: "Já somam 107 os suspeitos abatidos pela polícia desde sexta-feira passada".
— Suspeitos de quê?! — perguntou Cláudio
— Aqui só fala em suspeitos.
— Mas quem são esses suspeitos?
— Ora! eu já li isso pra você, são os mortos, meu!
— Sei, mas quem são os mortos?
— Putz!, meu, você não saca uma! Quer que eu desenhe? Os mortos são os suspeitos, meu!
— Mas, meu, eu quero saber quem são os mortos suspeitos.
— Fácil: são os caras que a polícia matou.
— E esses caras têm nome?
— Tinham.
— Como "tinham"?
— Agora são somente números.
— São suspeitos de quê?
— Suspeita-se que alguns desses suspeitos participaram de um movimento suspeito, supostamente ligado ao suspeito crime organizado.
— Mas, se depois de investigados os casos, descobrirem que alguns dos suspeitos são inocentes?
— E daí?!
— O que acontece com esses que já morreram?
— O que acontece?! Ora, meu!, não acontece mais nada, os caras já morreram.
— E a polícia está procurando novos suspeitos?
— Claro.
— Mas, pelo que estou entendendo, qualquer pessoa que estava na cidade, nos últimos dias, é um suspeito.
— Claro que não!
— Por que não?
— A polícia, antes de atirar, não pergunta onde o cara estava nos últimos dias.
— E se ficar provado que o morto suspeito não estava na cidade há mais de uma semana e não tinha nenhum envolvimento com organizações criminosas?
— Aí o suspeito morto passa a ser apenas morto.
— Hein?!
— Torna-se um morto acima de qualquer suspeita.
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quarta-feira, 27 de junho de 2007
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"Sabía que nunca jamás podría elevar mi voz contra la violencia entre los oprimidos de los ghettos sin primero haber hablado claramente sobre el más grande surtidor de violencia en el mundo hoy día: mi propio gobierno", afirmó King en su famoso discurso contra la política bélica de Washington y la guerra en Vietnam el 4 de abril de 1967.
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