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por Fernando Soares Campos
O Brasil é, como o presidente Lula deixou bem claro para o sumo pontífice da Igreja Católica, um Estado laico, portanto não se deixa influenciar por qualquer poder religioso. A Constituição Federal garante a liberdade de consciência, de religião e de culto a todos, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. No nosso país ninguém pode ser prejudicado, perseguido, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever por causa das suas convicções ou prática religiosa. Baseados nesses preceitos constitucionais, ministros do STF e do STJ expediram alvarás de soltura em favor dos adeptos da seita Gautama, que se encontravam recolhidos em retiro nas carceragens da Polícia Federal desde a semana passada, vítimas de supostas perseguições religiosas, talvez devido à influência da visita do Papa ao Brasil
A Gautama é uma seita que aceita os princípios, os meios e os fins afínicos, a fim de se alcançar o Nirvana, a extinção definitiva do sofrimento humano, através da sublimação das verbas públicas. Trata-se de uma dissidência do budismo oriental: enquanto este prega o apego ao desapego a bens materiais, aquela prega o desapego ao desapego. Trata-se, portanto, de uma complexa e profunda filosofia, que vai fundo aos fundos de financiamento das sagradas obras do estado, influenciado pelo cristão espírito franciscano: "É emendando que se recebe".
Os noviços da Gautama são os VVVV's, ou "tetravês", como também são carinhosamente conhecidos os velhos velhacos viciados em vigarice. São seguidores do guru Zuleidho Soh Hares, cabra-macho paraibano radicado numa paradisíaca mansão na Bahia, fundador da seita que ceifa os recursos públicos. Zu (para os íntimos) é hoje considerado o protestante do Budismo tradicional. Ao contrário de Lutero, que não aceitava que se pagasse por indulgências, o guru dos gautamistas acredita que qualquer dos seus discípulos pode comprar o perdão, quando estiver sendo julgado pelo Tribunal Faz-de-Conta da União. Para isso, basta o fiel seguidor da seita praticar a corrupyoga. O método é simples: o corrupyogue senta-se em posição de lótus, concentra-se, mentaliza o número correto e liga para o celular do deputado responsável pelo contato com o ministro que possa transferir o seu dia do juízo para outro mês, ano e década, até a poeira cósmica baixar. "É um momento sublime!", garante Zuleidho. "Porém isso só acontece quando você consegue fazer levitar uma pesada propina", adverte.
O Mimo (Mosteiro da Integração das Minas Orgiásticas) é um dos misteriosos monastérios da Gautama e é lá que se encontra o segredo "Luz para Todos", que se baseia no ensinamento maior: "Pé e mão grande na estrada e na ponte que liga todas as verbas às nossas contas". Mimosos são os que professam essa Ordo Sancti, cujo abade é o mestre do primeiro grau Silascou Rhou Bandhu. Alguns dos membros dessa Ordem ainda se encontram enclausurados na PF, conforme é conhecido o local sagrado onde meditam os Penitentes a Ferros.
Nos últimos tempos, a seita Gautama tem conseguido arregimentar prosélitos em todo o país, principalmente em Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Maranhão, São Paulo e no Distrito Federal. Acredita-se que, em Alagoas, a Gautama mantém uma prelazia, a Guabirhus dha Merendha, culto religioso que atuou naquele estado durante muitos anos.
O mais poderoso mantra dos gautamistas é: "Om mano, se tutare deboh beirah, thoma lah dhez pehr centi", uma versão falada do sânscrito. Esse mantra é secularmente utilizado por diversas facções religiosas, sendo o preferido dos organizadores dos jogos eletrônicos e do bicho que pegou (carinhosamente conhecida como máfia dos bingos), cujo lema é "vale o sânscrito".
Ommm... Ommm... Omi, tu ti fu!
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sexta-feira, 1 de junho de 2007
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