Edward
Snowden, Julian Assange e Glenn Greenwald, heróis ou pop puppets?
Fernando
Soares Campos
Assim
como se faz arte pela arte, e adquire-se conhecimento pelo conhecimento, e
acumula-se fortuna pela fortuna, hoje se busca, cada vez com maior empenho e aperfeiçoamento,
o poder pelo poder, e pratica-se o terror pelo terror, e declara-se a guerra
pela guerra.
A
espionagem passou a ter um fim em si mesma, e as agências de inteligência
tornaram-se empresas altamente rentáveis, cujos produtos, mão de obra e serviços
são ofertados para atender à demanda gerada pelo terrorismo de estado e às guerras
autotélicas.
Os
“vazamentos” feitos por Edward Snowden, “ex-funcionário” subcontratado da CIA
através de empresa de terceirização de mão de obra e serviços, a Booz Allen Hamilton, não
alteram a imagem que temos dos seus antigos contratantes, pois já faz muito
tempo que soubemos que eram o que são: colonialistas, escravagistas,
exploradores, aventureiros, corruptores, armamentistas, belicistas e
imperialistas ― hoje até podemos admitir mais uma degradante qualificação:
terroristas.
Tais
“documentos vazados” têm servido para criar o caos no mundo da diplomacia, uma
providencial perturbação que só “beneficia” a quem não tem habilidade para
relações diplomáticas (o “Fuck” União Europeia, de Victoria Nuland para o
embaixador Geoffrey Pyatt,
demonstra esse estado), a quem sempre “conquistou” aliados através da
demonstração da força bélica, ou corrompendo valores morais e culturais. É gente
que atualmente dissemina o terror para vender instrumentos e métodos de
segurança, o que também não é uma prática recentemente arquitetada e
implementada, nem revela qualquer originalidade, pois criar dificuldades para
vender facilidades sempre foi o lema de opressores nas mais variadas atividades
humanas ― sistemas públicos de educação, saúde e segurança são intencionalmente
desmantelados para gerar alternativas nos setores privados. (Um pouco mais de
esclarecimento sobre essa questão pode vir da leitura do artigo “Snowden! A bomba!”)
Concordo
com aqueles que afirmam que Edward Snowden e Julian Assange (Wikileaks) não
revelaram nada que muita gente mundo afora não soubesse, principalmente as
pessoas diretamente relacionadas com órgãos de inteligência de qualquer país,
ou pesquisadores e curiosos interessados no assunto.
No artigo-reportagem “Revelações de Edward Snowden – Geopolítica e lições a aprender (I)”, o autor afirma: “Muitos creem que Edward Snowden não teria
revelado nada que já não se soubesse, ou do que já não se desconfiasse há muito
tempo. Mas o que chama a atenção é a escala da invasão, que deixa boquiabertos
até os especialistas profissionais.”
Subtende-se, portanto, que o autor também
concorda que as denúncias do ex-funcionário subcontratado para monitoramento de
espionagem da CIA (um dos tentáculos da NSA, a Agência de Segurança Nacional
dos EUA) realmente não revelaram novidades, atos praticados e até então
desconhecidos, mas apenas surpreenderam pela magnitude das operações, a
abrangência de alvos e a difusividade de interesses; surpresa essa que só se
justifica porque as vias internáuticas, as comunicações no chamado mundo
virtual, ainda surpreendem por si mesmas, visto que sua existência não foi
conscientemente assimilada e naturalizada por seus próprios usuários (não
confundir “naturalizar” com “viciar”).
Entretanto,
um dos fatos que parece ter causado mais estarrecimento foi o de que os
sistemas de espionagem têm características de Big Brother, do gênero “1984”, de
George Orwell, visto que espionam inclusive as pessoas comuns, com a colaboração
de empresas tais como Microsoft,
Yahoo!, Google, Facebook, AOL, Skype, YouTube, Apple, PalTalk... Porém,
em muitos casos, esse “estarrecimento” pode ser interpretado como “regozijo”,
contentamento disfarçado de contrariedade. Pessoas que se sentem inferiorizadas,
complexadas, carentes de atenção e reconhecimento, se sentiriam extremamente
prestigiadas, caso fossem identificadas como alguém que despertou o interesse
das hollywoodianas agências de inteligência, e “protestariam veementes”, a fim
de que todos soubessem que foram alvos delas.
Depois
de muitas décadas, o cinema finalmente faz a vida imitar a arte em todo o seu
ilusório esplendor. Hoje qualquer anônimo em qualquer parte do mundo pode se
sentir tão importante quanto O Satânico
Dr. No e parodiar Bond, James Bond,
dizendo: “Meu nome é Mané, Zé Mané”.
Espionar
pessoas comuns é prática antiga. Sempre grampearam as telecomunicações, há
muitos anos espionam as correspondências via correios e telégrafos.
Desenvolveram técnicas para abrir e fechar cartas sem deixar marcas de
violação.
Em
épocas de intensos conflitos bélicos (como hoje em dia) funcionários dos
correios e telégrafos eram treinados para identificar correspondências e
decodificar mensagens telegráficas suspeitas. Os indícios que despertariam as
suspeições eram fundamentalmente estabelecidos pelas origens e destinos, assim
como em função das personalidades envolvidas, atentando-se
para alguns detalhes subjetivos, como a frequência na troca de correspondência
entre os mesmos elementos.
Pessoas
comuns podem ser alvo de espionagem (ou simples monitoramento) por interesses
diversos, mas, hoje, geralmente o são em função do controle e manipulação de
dados pessoais que possam servir de base para estratégias de marketing e propaganda
comercial (esta notícia extraída do site CUBADEBATE indica o quanto estão
avançando neste sentido: Televisores
inteligentes "espían" en los hogares).
As revelações de Snowden incluem espionagem com
grampos telefônicos e vigilância de atividades online, sem autorização
judicial, com a colaboração dos gigantes da informática. Entretanto esses meios
empregados e a legislação que ampara as operações (“USA
Patriot Act”, uma lei de 2001, que recebeu posteriores adições) também já eram de conhecimento público muito antes dos tais
vazamentos.
Atualmente
qualquer pessoa pode ser envolvida em operações de espionagem, por mera suspeita
ou acidentalmente, e sofrer consequências angustiantes, visto que o
monitoramento através da rede mundial de computadores é feito por programas e sistemas robôs (atentemos
para este detalhe, isso aí pode nos esclarecer mais que os tais “vazamentos” de
Wikileaks e de Snowden).
Observemos
como funciona o sistema de monitoramento a partir de uma das muitas centrais de
interceptação de mensagens espalhadas pelo mundo:
A cerca de
2,5 mil quilômetros do Recife (PE), numa região inóspita do Atlântico Sul,
existe uma pequena ilha de colonização britânica chamada Ascensão. É lá que os
agentes de Barack Obama captam aproximadamente dois milhões de mensagens por
hora. São basicamente conversas telefônicas, troca de e-mails e posts em redes
sociais.
As antenas
da ilha de Ascensão conseguem captar as mensagens logo depois de serem
produzidas, antes mesmo que elas cheguem aos satélites para serem distribuídas.
Uma vez recolhidas, as informações são lançadas em um gigantesco computador
instalado no Fort Meade, em Maryland, nos EUA. Lá, são processadas em um
programa chamado Prism (Prisma), que localiza, por intermédio de
palavras-chaves, aquilo que os bisbilhoteiros procuram, entre os milhões de
dados recebidos por hora. A partir daí as informações são submetidas a um outro
programa, que quebra a criptografia. Ainda em Maryland, computadores traduzem
as informações coletadas. Feita a análise, o que for de interesse do governo
americano será distribuído aos agentes espalhados por todo o mundo para
continuar o serviço de monitoramento. Muitas vezes empresas americanas ligadas
à telefonia e à internet são acionadas para informações complementares. Com
acesso à rede, por um técnico autorizado, é possível captar todo o tráfego de
dados, sejam arquivos de vídeo, sejam fotos, trocas de mensagens ou chamadas de
voz sobre IP. [“Como eles Espionam” ―
ISTOÉ Independente]
Quer
dizer: só precisaram sofisticar os instrumentos de espionagem, em função das
novas tecnologias de comunicação interpessoal (principalmente o celular e o computador
conectado à internet), mas tudo isso tem as mesmas características dos métodos
antigos.
Niilismo e uma nova era
Por que nas últimas décadas do século passado
falavam tanto sobre o fim de tanta coisa, como, por exemplo, o fim da História,
o fim das ideologias, o fim das religiões, o fim do emprego e até o fim do
mundo? Certamente porque o simbolismo da entrada do novo milênio era bastante
apropriado para se estabelecer o início de uma “nova era”.
Mas... a quem interessa um “novo mundo” a
partir de uma virtual hecatombe global da esperança? Quem quer mesmo o
aniquilamento de práticas religiosas (progressistas ou conservadoras, se forem
evangelizadoras; mantendo-se apenas um arremedo de “religião mercantilista”)?
Quais os interesses de quem decreta o fracasso de experiências sociais que, na
verdade, vêm mesmo é gradativamente se aperfeiçoando? Que “novideologia” é essa
que nega a autenticidade de conceitos ideológicos formulados através do debate
filosófico ao longo dos séculos?
Provavelmente tudo isso interessa a quem
manipula a verdade dos fatos históricos e a realidade contemporânea, a fim de
manter o domínio sobre os destinos da Humanidade.
E como fazê-lo?
Certamente os mais eficientes instrumentos são
as mídias de massa (mass media).
Organizações oligopolizadas controlam as
tecnologias mais populares, manipulam a informação criando para o seu público
ilusórias visões da realidade; massificam o pensamento único em função do
individualismo: o perigo mora ao lado, o inferno são os outros, dormindo com o
inimigo, entre a cruz e a espada, salve-se quem puder, primeiro eu, depois eu,
em seguida eu... Não é propriamente o egoísmo sendo revelado como sentimento
dominante na natureza humana, mas sim o terror obrigando o indivíduo a
manifestá-lo com maior intensidade do que os sentimentos nobres, que, por sua
vez, passam a ser considerados atitudes ingênuas, próprias dos parvos.
Nessa inversão de valores, existem aqueles que,
em raras ocasiões, praticam o altruísmo, a abnegação, o desapego, a renúncia, o
sacrifico voluntário... mas tratam de justificar suas atitudes, como se
estivessem se desculpando por terem cometido deslizes: “Não me segurei, aquilo
amoleceu meu coração!”, “Nem sei por que estou lhe dando uma segunda chance...”,
“Pegue logo, antes que eu me arrependa!”, “Perdoo, mas não esqueço!” (querendo
dizer que a mágoa permanece latente),
Espiões, a fama pela incompetência
No final dos anos 1980 eu trabalhava para uma
indústria do setor químico, produtora de revestimento anticorrosivo (tintas
industriais). Participei de um encontro de funcionários da empresa em um hotel em
Águas de Londóia, interior do Estado de São Paulo. Conversando com um jovem
técnico que atuava no departamento de pesquisa e desenvolvimento de produtos,
ele me perguntou: “Por que hoje não surgem mais inventores como antigamente?” ―
aí citou alguns exemplos de inventos e inventores consagrados tempos atrás.
Naquele exato momento não tive uma resposta
satisfatória, e, como sempre me aconteceu em outras ocasiões, aquilo ficou me
incomodando, passei a ser mais um entre milhões de pessoas que devem estar fazendo
essa pergunta.
A partir daquele questionamento, comecei a
observar que megaempresas dos setores eletroeletrônico e automotivo fazem
pré-lançamento de seus novos produtos através de matérias jornalísticas (merchandising), anunciando
aperfeiçoamentos tecnológicos, descobertas e inventos, mas sempre atribuindo o
mérito das criações aos seus laboratórios de pesquisa, ou ao seu quadro de
engenharia, nunca destacando possíveis responsáveis diretos pela criação de
novos engenhos.
Nos últimos tempos, somente os criadores de
alguns produtos de Tecnologia da Informática tiveram seus nomes consagrados
como autores dos inventos: Henry Edward Roberts, criador do primeiro
microcomputador (PC), Tim Berners-Lee, criador da internet, Mark Zuckerberg,
criador do Facebook (junto com alguns colegas menos expressivos), entre outros
inventores na área de TI.
Lembrei-me de alguns agentes de espionagem, aqueles
que se tornaram famosos enquanto ainda atuavam, os espiões que entraram numa
fria, pois, na vida real, espião que vira celebridade demonstra, ao contrário
de inventores, incompetência profissional.
Mata Hari (Margaretha Gertruida Zelle): Contratada pelos alemães durante a Primeira
Guerra Mundial, foi capturada pelo inimigo e trabalhou como agente duplo,
encerrando sua carreira em frente a um pelotão de fuzilamento.
Harold Worden: EUA, espionagem industrial, trabalhou durante 30 anos para
Kodak, aposentou-se e criou uma firma de consultoria, empresa de fachada, que
na verdade servia apenas para vender informações sobre processos industriais da
Kodak. Detido e processado, não se pôde comprovar sua atuação como espião, mas,
em 1997, foi julgado e condenado por outros delitos.
Julius e Ethel Rosenberg: EUA, atuaram em período da Guerra Fria (pós-Segunda Guerra
Mundial), forneceram aos russos (à União Soviética) segredos militares,
informações sobre armas nucleares. Foram presos em 1950 e executados na cadeira
elétrica em 1953. [“O McCarthyismo
não passou de fascismo em embrião, embora, com a execução do casal
Rosenberg, já estivéssemos desgraçadamente próximos do
fascismo.” [Norman Pollack, Counterpunch, em EUA: interpenetração “business”- estado, capital monopolista e industrialismo avançado]
Espião competente termina sua carreira,
aposenta-se e curte o resto da vida em paradisíaca ilha caribenha ou polinésia,
anônimo.
Emancipação do indivíduo e terceirização de mão de obra e
serviços
Nos
primeiros momentos da popularização da Rede Mundial de Computadores, a Web, que
tem como base a Internet, muito se falava (e ainda se insiste em afirmar) que o
emprego formal estaria em extinção, que a tendência seria o empreendedorismo, a
implementação de projetos individuais de geração de renda por produtividade, comissão, contrato
temporário, consultoria, freelancer
etc.; o autoemprego, o indivíduo como agente do seu próprio negócio, autônomo,
profissional liberal, nas mais diversas atividades, desde engenheiros e
técnicos a torneiros mecânicos, pintores, polidores e tantos outros menos
qualificados. Tudo isso baseado no avanço das novas tecnologias da informática e robotização
das linhas de produção.
Viver sem patrão, sem a monótona rotina de
trabalho sob autoritárias chefias, também sem o caos estressante dos
congestionamentos de trânsito ou as filas e superlotação dos transportes
coletivos, talvez seja isso que chamam de “emancipação do indivíduo”;
entretanto, já podemos observar que essa promessa não passa de um “salve-se
quem puder”.
Agentes
e subagentes de espionagem sempre puderam ser encontrados em qualquer latitude
(elementos estrangeiros titulares de cargos em suas agências, ou terceirizados,
subcontratados, como ocorre hoje em dia) e sempre contaram com ajuda de
informantes remunerados à base de propina.
O que o fim da História, o fim das ideologias,
o fim das religiões, o fim do emprego e até o fim do mundo têm a ver com o
aparente recrudescimento da prática de espionagem?
A questão é que tudo isso está relacionado com
o declínio do capitalismo e a crise econômica mundial, que revela o fracasso do
modelo neoliberal, com a priorização e incremento da prática do rentismo,
agiotagem e investimentos especulativos em geral. Tudo isso provocou, em alguns
países do chamado Primeiro Mundo, um extremo desequilíbrio nos setores básicos
da economia: primário, secundário e terciário.
Nesses países os setores primário (atividades agrícolas, pecuárias e extrativistas) e secundário (indústria de transformação) foram
relegados a plano inferior, negligenciados pelos órgãos de planejamento e
desenvolvimento, os quais dedicaram todo empenho em estruturar uma sociedade fundada
nas atividades econômicas próprias do setor terciário: comércio, educação, saúde,
segurança, telecomunicações, turismo, serviços de informática, transporte, limpeza, alimentação, serviços bancários,
administrativos etc.
Vejamos esse depoimento:
Ao contrário do setor manufatureiro, o capital financeiro não
necessita de uma população de trabalhadores educados, saudáveis e produtivos. A
sua própria “força de trabalho” é composta de uma pequena elite educada de
especuladores, analistas, traders e corretores nos níveis de topo e
médios e de um pequeno exército de varredores de escritório contratados,
secretárias e trabalhadores subalternos na base. Eles têm o seu próprio
exército “invisível” de servidores domésticos, cozinheiros, fornecedores de
comida, jardineiros e governantes privados de qualquer “Segurança Social”,
cobertura de saúde e planos de pensão. E o setor financeiro tem as suas
próprias redes de médicos e clínicas, escolas, sistemas de comunicações e
mensageiros, propriedades e clubes, agências de segurança e guardas pessoais;
ele não necessita um sector público educado e qualificado; e certamente não
quer que a riqueza nacional apoie sistemas públicos de alta qualidade em saúde
e educação. Ele não tem interesse em apoiar estas instituições públicas de
massa que considera como um obstáculo para “libertar” vastas quantias de
riqueza pública para a especulação. Por outras palavras, o setor dominante do
capital não tem objeções ao “Homeland
Security”[Ministério da Segurança Interna]; na
verdade partilha muitos sentimentos com os proponentes do estado policial e
apoia a contração do estado de bem-estar social. Ele está preocupado é com a
redução de impostos sobre o capital financeiro e o aumento dos fundos de
salvamento federais para a Wall Street enquanto controla a cidadania
empobrecida.” (James
Petras, em A Grande Transformação dos EUA: “De Estado-Previdência em Estado-Policial-Imperial”.)
Depois dessa longa digressão nos últimos
parágrafos, volto a lembrar a questão da robotização
dos meios de produção (“...o monitoramento através da rede
mundial de computadores é feito por programas
e sistemas robôs”).
[Acabei
de receber release do Portal Comunique-se com o seguinte título em destaque: JORNALISMO SEM JORNALISTA Robôs já escrevem artigos, revela pesquisa.]
O buraco negro é mais
em cima
Enquanto
o mundo indigna-se e discute a questão da invasão de privacidade e a
sofisticação dos métodos empregados, trava-se, nos EUA, outro debate, talvez o
que mais interessa ao povo estadunidense e do qual pode aflorar melhor entendimento
sobre o desenrolar dos fatos. Trata-se da análise e contestações sobre a influência
e os custos das empresas privadas nos sistemas de segurança nacional, as quais ficam
com cerca de 70% dos US$ 52
bilhões do orçamento nacional destinado aos serviços secretos, deixando apenas
30% para cobrir as despesas dos efetivos da administração direta do Estado. A exagerada
desproporção torna-se mais evidente quando se observa que o setor privado fornece
apenas cerca de 30% do pessoal (os subcontratados), enquanto 70% trabalham sob
regime de administração direta.
Oficiais superiores das Forças Armadas dos
EUA e civis que ocuparam cargos no primeiro escalão do governo daquele país são
hoje diretores executivos de grandes empresas privadas de segurança, formam e realizam
fortíssimos lobbies que influenciam congressistas, ministros e governantes, também
exercem poder junto a empresas midiáticas (presstitutes,
como hoje são camadas), de tal forma que são atendidos em quase tudo que
propõem: criação de novas agências e legislações específicas (em alguns casos, inconstitucionais),
determinam público alvo e inimigos em potencial, trabalham para a iniciativa
privada (bancos, petroleiras, e corporações com interesses diversos) fazendo tráfico
de influencia e usando todo o poder que detêm no âmbito do Estado, inclusive
informações de inteligência ultrassecreta: “A
marinha dos Estados Unidos escolheu, no mês passado [junho/2013], a mesma
companhia como parte de um consórcio para trabalhar em outro projeto
multimilionário para uma “nova geração de operações de inteligência, vigilância
e combate”. A Booz Allen obteve esses contratos de várias formas. Além de seus
vínculos com o DNI (Diretor de
Inteligência Nacional), se orgulha do
fato de metade de seus 25 mil empregados estarem autorizados a acessar
informação de inteligência ultrassecreta. Um terço dos 1,4 milhão de pessoas
com essa autorização trabalha no setor privado.”
Ainda sobre A Grande Transformação dos EUA: “De Estado-Previdência em
Estado-Policial-Imperial, diz James Petras:
“Não houve virtualmente qualquer oposição dos trabalhadores:
a conversão gradual dos sindicatos dos EUA em organizações altamente
autoritárias dirigidas por “líderes” milionários que se auto-perpetuavam e a
redução do número de sindicalizados dos 30% da força de trabalho em 1950 para
menos de 11% em 2012 (com mais de 91% dos trabalhadores do setor privado sem
qualquer representação sindical) significou que os trabalhadores americanos
ficaram com menos poderes para organizar greves a fim de proteger seus
empregos, muito menos para aplicar pressão política em defesa de programas
públicos e do bem-estar.”
Snowden sempre foi contra investimentos
públicos no Sistema de Segurança Social e ardoroso defensor do Sistema de
Segurança Nacional.
Em janeiro de 2009 , no site Ars Technica,
usando o antigo nome de usuário, “TheTrueHOOHA”, Snowden criticou The New York
Times e as suas fontes anônimas por expor uma operação secreta da administração
Bush para sabotar as capacidades nucleares iranianas. Tais violações, para ele irritantes, haviam ocorrido "uma e outra e outra vez", reclamou Snowden. The
Times, disse ele, era "como Wikileaks" e merecia ir à falência;
fontes que vazaram "merda classificada" para o Times deveriam tomar
"um tiro nas bolas".
Quando um interlocutor em linha sugeriu que
poderia ser "ético " denunciar “intriga do governo", Snowden
respondeu enfaticamente: "Violar segurança nacional? Não".
Quanto à Segurança Social, ele disse coisas
assim: "Quase todo mundo era antes de 1900 trabalhadores por conta própria".
Em outra troca de sala de bate-papo, Snowden
debateu os problemas da Segurança Social fazendo afirmações como estas:
“Economizar dinheiro? Corta essa merda de
segurança social.”
“Yeah! Foda-se as pessoas de idade!”
“segurança social é uma treta”
“vamos atirar idosos na rua”
“cheiram engraçado”
“De alguma forma, a nossa sociedade conseguiu
existir centenas de anos sem segurança social”
“Malditos retardados”
(Informação coletadas em " Será que você sentiria de forma diferente sobre Snowden, Greenwald eAssange se você soubesse o que eles realmente pensam?", em inglês)
O que podemos deduzir de tudo isso?
Que a celeuma criada em torno da invasão de
privacidade dos cidadãos comuns tornou-se matéria mainstream, corrente em voga para desviar a atenção sobre a verdadeira
questão: a desavença entre os que ficam de
fora ou comem pelas beiras e os que abocanham as maiores fatias do bolo: os
bilhões de dólares destinados ao Sistema de Segurança.
Na
Sociedade de Serviços e Estado Policial em que se tornaram os Estados Unidos da
América, a terceirização e subcontratação dos postos de trabalho, tanto nos
setores privados quanto no setor público, geraram a criação de milhares de
micro, pequenas, médias e grandes empresas fornecedoras de mão de obra e
serviços. Num ambiente desses, os tubarões se fartam, e os peixes pequenos ou
lhes servem de alimento ou sobrevivem em orgia simbiótica.
Edward
Snowden, Julian Assange e Glenn Greenwald são heróis ou pop puppets de um puppet government? Eles “estouraram no norte” e brilham no sul.
Colocar Snowden, Assange e Greenwald no mesmo
saco de todos os acusados de vazamento de “ciberdocumentos” e denúncias contra
o governo e empresas dos Estados Unidos e seus parceiros mais graduados é fazer
o jogo do “todos são iguais” ou que “todos têm a mesma intenção”.
Por que a CIA e a NSA não divulgam
(deixam vazar) informações detalhadas sobre as atuações de Snowden no período
em que colaborou para eles? Certamente isso o desqualificaria da condição de
herói. Mas, nesse caso, sobraria para ele a desconfiança geral de que fora
obrigado (chantageado) a fazer os tais “vazamentos”, a fim de beneficiar algum
grupo em detrimento de outro. Sejam grupos dentro da própria esfera privada
(empresa contra empresa) ou entre o setor privado e os quadros da administração
direta do Estado.
A única atuação de Snowden como “espião em campo” ocorreu no período como
“olheiro” numa universidade. Em vista do silêncio em torno de suas atividades,
não sabemos das consequências desse seu “estágio” entre os estudantes: se
alguém foi preso, interrogado, perseguido, torturado, desaparecido ou
executado. Quaisquer que tenham sido suas tarefas, elas são inconfessáveis.
Mesmo assim, virou herói “sem passado”.
E existe
quem defenda essa condição:
“Snowden, um administrador de sistemas do Centro de Operações
de Ameaças da NSA no Havaí, trabalhou para a CIA e para a companhia de serviços
de informática Dell antes de se unir à Booz Allen. Mas o papel obscuro que pode ter desempenhado fica branco [!] ao lado do que
outros tiveram. (Pratap
Chatterjee, da IPS/Envolverde, em “Como a segurança dos EUA ficou a cargo de uma empresa privada.”)
Isso rende muito mais o que pensar do
que simplesmente discutir a questão da megaescala de invasão de privacidade.
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12/03/2014 - Copyleft
Obama ameaça privatizar programa do New Deal; sindicatos contestam
Criado pelo Congresso como parte das iniciativas do New Deal, o Tennessee Valley Authority (TVA) está ameaçado de privatização pela administração Obama.
Jon Queally, do Common Dreams
Na proposta de orçamento de 2014 do presidente Obama, lançada semana passada, está um programa renovado do governo para destruir uma das últimas políticas de sucesso que resultaram do New Deal de Franklin Delano Roosevelt, a mais de 80 anos.
Criado pelo Congresso como parte das iniciativas do New Deal de Roosevelt, o Tennessee Valley Authority (TVA) está ameaçado de privatização pela administração Obama. A (em tradução livre) Jurisdição do Vale do Tennessee foi criada em 1933 para controlar enchentes, fornecer energia elétrica e produzir fertilizantes para uma das regiões norte-americanas mais afetadas pela Grande Depressão.
De acordo com reportagem do periódico The Hill da última terça-feira, a inclusão de um plano para privatizar o TVA ataca os trabalhadores dos sindicatos empregados pelo Vale. Segundo os trabalhadores, o plano irá lhes custar seus empregos e, ao mesmo tempo, irá destruir uma entidade federal que cumpre sua missão.
Do periódico The Hill:
O presidente anunciou sua proposta no plano de orçamento do ano passado, alegando que a administração “pretende levar em conta uma revisão estratégica de opções ao para situação financeira do TVA, incluindo seu possível despojamento.”
No orçamento desse ano, a administração disse que “continua a acreditar que diminuindo ou eliminando o papel do governo federal em programas como o TVA, que alcançou seu objetivo, pode ajudar a mitigar o risco aos contribuintes.”
Esse trecho foi incluído apesar das vigorosas objeções dos sindicatos, que aprovaram uma resolução na convenção da Federação Americana do Trabalho e Congresso das Organizações Industriais (AFL-CIO) em setembro, exigindo que Washington rejeitasse todos os esforços para privatizar o TVA.
Junto com os engenheiros, a Associação Internacional dos Maquinistas (IAM) e a Irmandade internacional dos Eletricistas (IBEW) estão preocupadas com o risco imposto aos seus empregos com a privatização do TVA.
“É sempre uma preocupação quando acontece uma transição como essa,” disse Jim Spellane, o porta-voz da IBEW. “O primeiro lugar que eles irão procurar para reduzir custos é no trabalhador.”
O TVA foi criado pelo governo federal e continua sendo a maior corporação de planejamento regional federalmente administrada. Mesmo fornecendo eletricidade para 9 milhões de pessoas em 7 estados, o TVA sem fim lucrativos faz isso sem subsídio de contribuintes e com preços abaixo da média nacional.
Mesmo com falhas reais do TVA (o manuseio incorreto de tanques de pó de carvão que levou a um vazamento enorme em 2008) em termos de provar a viabilidade e eficiência como energia pública e como corporação de desenvolvimento econômico, conseguiu cumprir sua tarefa de melhorar a vida dos que moram em seu alcance.
Como Greg Junemann, presidente da Federação Internacional de Profissionais e Técnicos de Engenharia (IFPTE), disse ao The Hill, a ideia de privatizar não somente é improdutiva como também desafia a lógica.
“Atualmente, a Jurisdição do Vale do Tennessee fornece a mais barata e confiável fonte de energia do sul do país,” disse Junemann. “Não há nenhum motivo para fazer isso, a não ser a formação de algum tipo de parceria política que ninguém ainda desvendou.”
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Tradução de Isabela Palhares.
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Leia também...
14/03/2014 - Copyleft
O capitalismo global está destruindo a raça humana
Fora as armas nucleares, o capitalismo é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. Ele levou a ganância a um patamar de força determinante da história.
Paul Craig Roberts (*)
A teoria econômica ensina que os movimentos financeiros a preços e lucros livres garantem que o capitalismo produz o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Perdas indicam atividade econômica em que os custos excedem o valor da produção, de modo que investimentos nestas áreas devem ser restritos. Lucros indicam atividades em que o valor de produção excede o custo, que fazem o investimento crescer. Os preços indicam a escassez relativa e o valor das entradas e saídas, servindo assim para organizar a produção mais eficientemente.
(Para ler completo, clique no título)
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De...
...para a PressAA...
- Publicado em Quinta, 13 Março 2014 14:49
- Escrito por Redação Comunique-se
Após quase oito anos, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu, em segunda instância, que o fundador do PT, bancário e ex-ministro da Secretária de Comunicação Social do Governo Federal (Secom), Luiz Gushiken, deve ser indenizado por reportagem publicada na revista Veja. O político, porém, morreu em setembro do ano passado, após enfrentar durante anos batalha contra um câncer. A decisão judicial aconteceu em fevereiro, mas foi divulgada nessa quarta-feira, 11, pelo blog editado por Rodrigo Vianna, repórter da Record.
Família de Gushiken deve receber indenização
(Imagem: Reprodução)
A sentença assinada pelo desembargador Antonio Vilenilson afirma que o impresso controlado pela Editora Abril abusou da liberdade de imprensa. "Infere, da identidade dos acusadores e dos interesses em jogo, a verdade do conteúdo do documento. A falácia é de doer na retina".
Em sua página na internet, Vianna comentou que a família deGushiken deve receber R$ 100 mil reais pela indenização. A reportagem publicada na revista em maio de 2006 afirmava que o fundador do PT mantinha conta bancária secreta no exterior. Na mesma edição, o então colunista Diogo Mainardi falou sobre o tema. No entendimento do Judiciário, a Veja errou na ocasião."A Veja dá a entender que não eram fantasiosas as contas no exterior. E não oferece um único indício digno de confiança. ".
Em primeiro momento, a justiça avaliou em R$ 10 mil a indenização para Gushiken. O ex-ministro acompanhou o processo, que foi recorrido, mas faleceu antes do resultado da segunda instância. Vianna relatou que amigos próximos contam que o estado de saúde de Gushiken se agravou por causa dos "ataques que sofreu nos últimos anos".
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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