“Ai, meu Deus! / O que foi que aconteceu / com a música popular brasileira”?
Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”. Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana. Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados. De um lado, reforçam a idéia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política. A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.
- “Venenosa! Êh êh êh êh êh! / Erva venenosa, êh êh êh êh êh! / É pior do que cobra cascavel / o seu veneno é cruel.../.Deus do céu! / Como ela é maldosa!”. Nenhum dos dois – nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito de roqueira paulista, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre. Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não agüentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever. Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT. Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco, quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal. Combateu, através do IBAMA, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1500 empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.
Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que – na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido / a buchada e o cabrito / o cinzento e o colorido / a ditadura e o oprimido / o prometido e não cumprido / e o programa do partido:/ tudo vira bosta”.
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan / pra te botar no divã / e ouvir sua merda / Se manca, neném! / Gente mala a gente trata com desdém / Se manca, neném / Não vem se achando bacana / você é babaca”.
Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política / Juro que o Brasil não é mais chanchada / Você vem....e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê / Eu não queria magoar você”.
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”. O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil.
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.
P.S. – Uma leitora cricri, mas competente, que está fazendo doutorado em São Paulo (e a tese, quando é que sai?) me lembra que a FAPEAM e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas constituem o lado sério da atual política estadual, responsável, em 2007, pela primeira lei de mudanças climáticas no Brasil.
José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos e assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti
http://www.taquiprati.com.br/home/index.php
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domingo, 31 de janeiro de 2010
AS VÁRIAS FOMES DA MARINA
sábado, 30 de janeiro de 2010
Saiu o livro "Livre Pensar Literário", da Nova Coletânea, com autores de vários estados brasileiros e de países de 4 continentes
Nasceu nosso querido livro "Livre Pensar Literário", bonito como seus pais.
Depois de sofrer as demoras necessárias ao bom e inspirado nascimento, temos muito a festejar e, a partir de agora, cedê-los à contemplação daqueles que o geraram.
O título, inspirado na página literária da escritora Maria Angélica Ramos Generoso (foto) defendia a liberdade desde o início; uma liberdade engajada, formatada pelas almas de gente que disciplinadamente produz o melhor néctar nas palavras. São poemas, contos e crônicas que enaltecem valores, criticam alienações, fomentam novas consciências, engradecem a alma civil.
Homenageando, merecidamente, Cirene Alves Ferreira, autora mineira de literariedades universais, a OBRA quer ganhar o leitor pela qualidade que a compõe.
Com o gratificante apoio de profissionais do ramo editorial, podendo citar Edir de Oliveira Barbosa (editor), Miro Saraiva (diagramador), Constança Chaves (revisora), Nelson Coeli (revisora), e finalização dos trabalhos de impressão com a Gráfica e Editora Suprema, o resultado dessa parceria não poderia ser melhor.
A todos os autores, colaboradores e aqueles que de algum modo encorajaram e fizeram parte deste projeto nosso muito obrigado
A organização
Teixeiras [MG], 29 de janeiro de 2010
* * *
Agora me diga mesmo: este não parece o título de uma monografia de final de curso? Mas não é. Trata-se do miniconto de autoria deste Editor-Assaz-Atroz-Chefe, publicado no livro Livre Pensar Literário.
A lógica da plataforma eleitoral
Fernando Soares Campos
Todos os dias os três amigos aposentados se reuniam naquele bar. Invariavelmente, discutiam as notícias em destaque na mídia. Tudo acontecia como num ritual de confraria: Natanael lia o jornal e os amigos opinavam sobre os fatos. Quase sempre Bernardo discordava da opinião de Alcebíades, e Natanael costumava rebater os dois com um parecer, digamos, “inusitado”.
– A polícia estourou depósito com uma tonelada de maconha – informou Natanael.
– Salta essa, Natan – sugeriu Alcebíades. – Isso aí é rotina policial.
– Rotina na favela ou na fronteira do Paraguai. Mas não é todo dia que se descobre uma tonelada de maconha em fundo falso de ônibus da Viação Pássaros da Serra...
–Pera lá! – cortou Bernardo. – Logo a Pássaros da Serra?! Isso quer dizer que, sempre que levei minha família para finais de semana no litoral, viajamos em cima de uma carga de maconha!
Alcebíades emendou:
– Isso quer dizer que, depois de viajarem de ônibus, os passageiros da Pássaros da Serra podiam viajar num baseado, à beira-mar. Ora, deveriam liberar de vez a Cannabis!
– Sou contra a legalização da maconha! – quase gritou Bernardo.
Natanael abriu o jornal e fingiu que o lia enquanto falava:
– Vocês se lembram que, tempos atrás, nós comentamos sobre doação de campanha?
– Sim... – confirmou Alcebíades.
– O que tem uma coisa a ver com a outra? – quis saber Bernardo.
– Bom, é que a empresa Viação Pássaros da Serra é doadora de campanha de três deputados e um senador.
Bernardo, desatento ao que ele próprio falava, soltou o verbo:
– Votei num desses deputados e no senador exatamente por serem... – súbito, Bernardo engasgou; olhou para os amigos, que esperavam a conclusão de sua fala. – Bom... é que... esses camaradas são...
Natanael dobrou o jornal, colocou-o sobre a mesa e concluiu pelo amigo:
– Isso mesmo, Berná! Lógico que todos eles são... contra a legalização da maconha!
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Mais informações sobre o livro e a editora Nova Coletânea:
http://novacoletanea.blogspot.com/2010/01/nova-coletanea-livre-pensar-literario-o.html
http://assazatroz.blogspot.com/2009/12/nosso-editor-assaz-atroz-chefe-no.html
Você pode participar da próxima edição.
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Polícia catarinense prende líderes do MST em "ação preventiva"
Segundo informações divulgadas no jornal Diário Catarinense, que estava “magicamente” no ato da prisão ao lado da polícia, os integrantes do MST estavam sendo monitorados desde novembro depois que um integrante do Conselho de Segurança Comunitária de Imbituba passou informações sobre a organização de uma suposta ocupação em terras do estado. Outras duas pessoas também foram presas, sendo que uma delas, Marlene Borges, presidente da Associação Comunitária Rural, está grávida. Ela teve a casa cercada na madrugada de sexta-feira e foi levada para Criciúma. Outro militante, Rui Fernando da Silva Junior, foi levado para a cidade de Laguna.
Integrantes do MST, advogados e um deputado estadual estiveram procurando por Lavratti durante a noite toda, mas não haviam conseguido contato até a manhã de sexta-feira, quando souberam que de Imbituba ele havia sido levado para Tubarão.
Ainda segundo informações da polícia, o juiz Fernando Seara Hinckel autorizou gravações telefônicas e determinou a intervenção do Ministério Público. Também teria havido a participação de P-2 (policiais a paisana, disfarçados) infiltrados nas reuniões dos militantes sociais da região de Imbituba.
Usando de um artifício já usado contra o Movimento dos Atingidos das Barragens, que foi o de prender “preventivamente” integrantes do movimento alegando “suspeita de invasão”, o poder repressivo de Santa Catarina repete a dose agora contra o MST. Para a polícia e para o poder público, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e sendo assim, passíveis de serem interrompidas com prisão. Só para lembrar, este é um tipo de ação agora muito usado nos Estados Unidos, depois de 11 de setembro, quando o presidente George Bush acabou com todas as garantias individuais dos cidadãos. Lá, e agora também aqui, o estado pode considerar suspeita qualquer tipo de reunião que envolva movimentos sociais. Conversar e organizar a luta por uma vida melhor passa a ser coisa de “bandido”.
A acusação de formação de quadrilha não encontra respaldo uma vez que é pública e notória a preocupação do MST com a situação das famílias daquela região, que vem sistematicamente tendo que abandonar a zona rural em função da falta de apoio à agricultura familiar, enquanto o agronegócio recebe generosa ajuda governamental. A reunião na qual estava Lavratti justamente discutia esta situação e levava a solidariedade do movimento às famílias que seguem sendo despejadas de suas terras, ações que fazem parte do cotidiano do MST. A ação do governo se deve ao fato de em Imbituba ter sido criada uma Zona de Processamento e Exportações que tem engolido fatias consideráveis de dinheiro público sendo, portanto, considerada estratégica para os empresários da região.
Para o MST, as prisões foram descabidas, e só reflete a forma autoritária como o governo de Santa Catarina tem conduzido a relação com os movimentos sociais, criminalizando as tentativas dos catarinenses de realizar a luta por uma vida digna. Já para dar respostas aos atingidos pelo desastre em Blumenau, ou aos desabrigados pelas chuvas que tem caído torrencialmente este ano em Santa Catarina, não há a mesma agilidade estatal. Como bem já analisava o sociólogo Manoel Bomfim, no início do século vinte, ao refletir sobre a formação do estado brasileiro: “desde o princípio o Estado foi um aparelho de espoliação e tirania, feroz na opressão, implacável na extorsão. É um parasita”. Sempre aliado aos donos do poder e da riqueza, o Estado abandona as gentes e só existe para o mal do povo. É por conta disso, que, conforme Bomfim, “a revolta contra as autoridades públicas é o processo normal de reclamar justiça” já que as populações são sistematicamente abandonadas pelo Estado e pela Justiça enquanto a minoria predadora dos ricos e poderosos tem seus interesses defendidos, inclusive com o uso do dinheiro e do patrimônio que é de todos.
Como exemplo disso, basta trazer à memória o escândalo da Moeda Verde, quando ricos empresários locais fraudaram laudos ambientais para a construção de grandes empreendimentos na cidade de Florianópolis. Presos sob a luz dos holofotes, não ficaram um dia sequer na cadeia e o governador do Estado segue frequentando suas festas e dizendo ao país inteiro, através da televisão, que os empreendimentos construídos a partir da fraude são os mais bonitos da cidade e necessitam ser conhecidos e consumidos. Outro caso emblemático e atual, que não recebe a mão pesada do poder público, é o que envolve o vice-governador Leonel Pavan, enredado em escândalo de corrupção, e que também muito pouco interesse provoca na mídia. Não precisa ir muito longe para observar que Manoel Bomfim está coberto de razão: “os estadistas devem inquirir das condições sociais, indagar se as populações se sentem mais felizes e as causas dos males que ainda as atormentam, para combatê-las eficazmente”. Mas, em vez disso, lutadores do povo são presos e os direitos coletivos se perdem diante do interesse privado de uma minoria.
Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: http://www.eteia.blogspot.com/
América Latina Livre - http://www.iela.ufsc.br/
Desacato - http://www.desacato.info/
Pobres & Nojentas - http://www.pobresenojentas.blogspot.com/
Agencia Contestado de Noticias Populares - http://www.agecon.org.br/
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Que religião que nada! O sangue será o ópio do povo
TERROR COM CONTEÚDO
Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.
André Lux
“Daybreakers” parece, a princípio, apenas mais um filme sobre vampiros que quer se aproveitar da atual onda de fanatismo que cerca a saga “Crepúsculo”. Mas não se engane. Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.
Estamos na Terra do ano 2019, dez anos após uma epidemia que transformou grande parte da humanidade em vampiros. O problema é que existem cada vez menos humanos e até animais e o precioso sangue está cada vez mais escasso. Assim, o que restou da raça humana é caçada e cultivada por uma mega corporação comandada por um vampiro neoliberal sem escrúpulos que lucra horrores com a alta do preço do sangue. E para piorar tudo, a falta do precioso alimento começa a transformar os vampiros mais pobres em verdadeiros monstros sem controle, os quais são perseguidos e destruídos pela polícia.
Temos aí uma ótima alegoria sobre a crueldade do sistema capitalista, que pode remeter à escassez de água que parece estar chegando, onde só os que podem ter acesso a esses “comodities” (como os defensores desse sistema desumano chamam aquilo que pode gerar lucros) poderão sobreviver, enquanto o resto é tratado como lixo e enviado para a morte. Em tempos onde favelas de São Paulo são sistemática e criminosamente incendiadas, o filme não poderia ser mais atual.
Esse subtexto político permeia toda a obra, que conta com boas atuações de um elenco liderado por Ethan Hawke (como um vampiro cientista que se recusa a beber sangue humano e tenta encontrar desesperadamente um substituto sintético para ele), Willem Dafoe (no papel de caçador de vampiros que funciona como alívio cômico) e Sam Neill.
Assistindo a “Daybreakers” podemos notar também o quanto a música é importante para o cinema. Composta pelo australiano Christopher Gordon (das minisséries para a televisão “A Hora Final” e “Moby Dick”), a partitura é simplesmente espetacular e eleva o filme a patamares maiores do que os sonhados pelos seus realizadores (os irmãos Michael e
Peter Spierig, também australianos).
Tenso, bem dirigido, com diálogos inteligentes, sem finais redentores idiotas ou excesso de cenas nojentas, “Daybreakers” é um dos raros filmes que misturam terror com ficção científica que valem a pena serem assistidos atualmente. Não percam – e não se esqueçam de prestar atenção à música!
Cotação: * * * *
André Lux, jornalista, presta assessoria na área de Comunicação Social, crítico-spam, administra o blog “Tudo em Cima”. http://tudo-em-cima.blogspot.com/
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
ATÉ ONDE A JUSTIÇA PODE PERDOAR
Rui Martins (*)
Berna (Suiça) - A estréia do novo filme de Clint Eastwood, Invictus, é de extrema atualidade no Brasil, porque faz refletir sobre punição ou perdão ou, se quiserem, sobre justiça e verdade, tendo com pano de fundo a reconciliação.
Ainda me lembro do meu encontro com Simon Wiesenthal, em Viena, há vinte anos, numa entrevista sobre seu livro Justiça não é Vingança, no qual justificava a transformação de sua vida de sobrevivente de um dos campos do Holocausto, na caça aos nazistas.
E me emociono, diante do relato dos que acompanharam os três anos de depoimentos públicos, por vítimas e culpados, na Comissão de Verdade e Reconciliação, na África do Sul, de que o bispo Desmond Tutu, presidindo os trabalhos, com a cabeça apoiada nas mãos chorava, diante dos relatos de tantas atrocidades e crimes cometidos pelo apartheid contra os negros.
Ali, naquele tribunal moral, sem poder para punir, registraram-se os depoimentos de familiares de nove mil torturados, mortos, enterrados ou lançados ao mar, e de mais de 50 mil vítimas de torturas e agressões por serem negros ou por terem tentado se revoltar contra o apartheid ou por serem do ANC. Também os excessos cometidos pelo ANC na sua luta armada contra o apartheid foram ali levados.
Quando, em abril de 94, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul, o país corria o risco de não resistir à explosão dos ajustes de contas. Porém, Mandela tomou a dianteira e defendeu um país de negros e brancos reconciliados. Sem a pacificação, a África do Sul não teria sobrevivido ao apartheid e, no caos previsível, pouco restaria do país.
É aqui entra a atualidade do filme Invictus, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman, escolhido pelo próprio Nelson Mandela para representá-lo na tela. Ao ler, no ano passado, um livro sobre o papel do esporte na pacificação sulafricana, Morgan fez a Clint a proposta de uma versão cinematográfica do papel da seleção Springboks, na Copa do Mundo de Rugby, em 95, disputada na África do Sul como será agora disputada a Copa do Mundo de Futebol.
Logo após a eleição de Mandela como presidente, seu partido ANC tinha por objetivo desmantelar todo o poder branco. E isso incluía a seleção Springboks, símbolo do poder branco. Mas Mandela surge, inopinadamenge, no encontro em que seu partido pretende acabar com o Springboks dos brancos para impor a reconciliação e transformar a conquista da copa do mundo de rugby, numa conquista da África do Sul negra e branca. Assim, François Peinaar, um branco boer, pôde continuar dirigindo o Springboks e levar a África do Sul à vitória.
Até que ponto ia essa pacificação? Um dos ouvidos pela comissão verdade e reconciliação foi o médico e cientista Wouter Basson, também chamado de Doutor Morte. Evitando se desculpar e afirmando que trabalhava como médico militar para seu país, Basson concordou ter feito pesquisas diversas, num projeto do governo branco sulafricano, destinado a encontrar uma molécula capaz de ser sensível à melanina, para matar ou tornar estéreis as pessoas de pigmentação negra. Em outras palavras, Wouter Basson era uma versão sulafricana do nazista Mengele e chegou também a fazer experiências mortais com negros levados ao seu laboratório.
Ao fim dos debates, Wouter Basson, acusado de 46 mortes estranhas pela Anistia Internacional e mesmo de inoculações mortais do virus da Aids em negros, pôde sair do tribunal sem escolta e foi considerado inocente, num julgamento presidido por um juiz nomeado ainda sob o regime do apartheid, sob protestos de pessoas como o bispo Desmond Tutu.
A reconciliação desejada por Mandela impediu uma fragmentação da África do Sul, mas o país vive hoje um clima de violências e não parece ainda ter se encontrado. Teria havido muito perdão, como esse concedido ao Doutor Morte, ainda hoje médico militar com consultório de cardiologia em Pretória ?
Rui Martins também pode ser encontrado em...
http://www.francophones-de-berne.ch/
http://www.estadodoemigrante.org/
(*) Ex- correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação.
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
A “contenção” do século 21, contra o socialismo do século 21
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Greg Grandin - The Nation
Em setembro, o presidente do Equador, Rafael Correa, cumpriu promessa eleitoral e recusou-se a renovar o empréstimo sem custos para os EUA, vigente há dez anos, para uso de uma base aérea localizada na cidade de Manta, na costa do Pacífico – que por uma década foi o principal posto avançado do Pentágono na América do Sul. A evicção foi sério esforço para atender à conclamação da nova Constituição do Equador, de promover “o desarmamento universal” e opor-se à “imposição” de bases militares “[impostas] por alguns países em territórios de outros”. Foi também uma das mais importantes vitórias do movimento de desmilitarização universal, fracamente organizado em torno da International Network for the Abolition of Foreign Military Bases [Rede Internacional para a Abolição de Bases Militares Estrangeiras], desde que protestos de rua forçaram a Marinha dos EUA a retirar-se de Vieques, Porto Rico, em 2003. Correa não deixou passar a oportunidade de fazer piada: “Renovaremos o empréstimo”, disse ele, “se os EUA nos emprestarem terreno para instalar uma base militar em Miami.” Engraçado.
Washington, então, respondeu com um show de força: nos tiram uma, tomamos sete! No final de outubro, os EUA e a Colômbia assinaram acordo pelo qual o Pentágono foi autorizado a usar sete bases militares, além de número ilimitado de “instalações e locações” até agora não especificados. Aquelas bases somam-se à já considerável presença militar de Washington na Colômbia, na América Central e Caribe.
Respondendo às críticas da América do Sul ao negócio com a Colômbia, a Casa Branca insiste em que se trata de mera formalização da cooperação militar que já existia entre os dois países, nos termos do “Plano Colômbia [1]” e que não implica aumento da capacidade militar ofensiva do Comando Sul dos EUA (Southcom).
O Pentágono diz outra coisa – e em 2009 incluiu no seu orçamento pedido para novos fundos para ampliar uma de suas bases, para capacitar-se “para o pleno espectro de operações em toda a América do Sul”, com vistas a “conter”, dentre outras ameaças “governos anti-EUA” e “expandir a capacidade de guerra expedicionária”. Esse linguajar obsceno, copiado do documento do orçamento, parece sugerir ameaças, para justificar maiores gastos militares em tempos de pobreza para tantos nos EUA. Pois a decisão do governo Obama, de seguir avante com o projeto daquelas bases, acelera, de fato, uma perigosa tendência na política dos EUA para o hemisfério.
Nos últimos anos, Washington tem sofrido rápida erosão de sua influência na América do Sul, resultado, sobretudo, do maior prestígio do Brasil, do movimento à esquerda em todo o continente, da crescente influência da China e de a Venezuela estar usando a renda de seu petróleo para promover uma diplomacia multipolar. Amplos movimentos sociais desafiam os esforços de empresas sediadas nos EUA e no Canadá para expandir indústrias de extração, seja de minério, de biocombustíveis, de petróleo, de madeira.
Ano passado, no Peru, massivos protestos de indígenas levaram o Congresso a rejeitar a abertura de vastas áreas da Amazônia a madeireiras, mineradoras e empresas de petróleo estrangeiras, e por todo o continente ativismo similar continua a classificar a América Latina na vanguarda do movimento global antimilitarista e anticorporações.
Esses desafios à autoridade dos EUA levaram o Conselho de Relações Exteriores a declarar “obsoleta” a Doutrina Monroe. Mas aquela doutrina, que por quase 200 anos foi usada para justificar a intervenção militar da Patagônia ao Rio Grande, não expirou, assim, quase “naturalmente”; de fato, ela perdeu potência, uma vez que os patéticos aliados do governo Obama na região continuam a gerar apenas uma mesma mistura venenosa de militarismo e ortodoxia do “livre” mercado, num corredor que vai do México à Colômbia.
A âncora dessa neo-Doutrina Monroe é o Plano Colômbia. Já chegando ao 11º aniversário de um acordo previsto para durar cinco anos, o multibilionário pacote de ajuda militar de Washington, não conseguiu, até agora, controlar sequer o fluxo de drogas ilegais para os EUA. Muito mais coca andina foi convertida em cocaína em 2008 que em 1998, e o preço da droga no varejo é hoje consideravelmente inferior, ajustado pela inflação, do que há dez anos.
Mas o Plano Colômbia, de fato, não trata de drogas; é a edição latino-americana da “Contraguerrilha Global” [ing. Global Counterinsurgency, GCOIN], termo que os estrategistas usam hoje, na tentativa de desvincular-se das conotações religiosas e ideológicas do vocabulário de George W. Bush com sua “guerra global ao terror”, e de focar-se em programa mais modesto, dirigido só para “Estados sem lei” ou “espaços sem governo”, no jargão da “Contraguerrilha Global”.
Iniciado em 2006, quando a ocupação do Iraque começou a desandar, o Plano Colômbia tornou-se a menina-dos-olhos dos teóricos da contraguerrilha, celebrado como bem-sucedida aplicação de “tendência clara e consistentemente construída” por teóricos da envergadura de um David Petraeus, general. Aquelas lições foram incorporadas na grade curricular de vários colégios militares nos EUA e citadas pelo Comando Conjunto do Estado-Maior como modelo para o Afeganistão. Os militares colombianos, com apoio de Washington, minaram as Forças Armadas Revolucionárias (FARC), o mais antigo e forte grupo guerrilheiro da América Latina, mas, segundo o Conselho de Relações Exteriores, garantiu a presença do Estado “em inúmeras regiões previamente controladas por grupos ilegais armados, restabelecendo o poder de governos democraticamente eleitos, construindo e reconstruindo a infra-estrutura pública e impondo o jugo democrático da lei”. O Plano Colômbia, em outros termos, teria oferecido não apenas um mapa do caminho até o sucesso, mas como o próprio sucesso. “É como se a Colômbia fosse o que o Iraque deveria ser”, escreveu Robert Kaplan, no Atlantic, “nos melhores sonhos dos EUA.”
Tradicionalmente, em muitas guerras antiguerrilhas, o estágio “limpo” sempre implica negação verossímil de qualquer relacionamento com esquadrões da morte –, como o comprovam a Operação Fênix no Vietnã, ou Mano Blanca em El Salvador. O governo Bush estava em andamento, quando o Plano Colômbia foi dado por pronto e entrou em operação; e, segundo Scott Wilson do Washington Post, serviu para acobertar as atividades de paramilitares de direita, frouxamente organizados como Forças de Autodefesa Unidas, em espanhol, AUC. “O argumento naquele momento, sempre exposto em encontros privados”, escreve Wilson, “foi que os paramilitares – responsáveis pela maioria dos assassinatos políticos na Colômbia – ofereceram a força que o exército colombiano ainda não construíra.” Logo depois, veio a etapa de “ocupação” – quando houve massivo movimento de apropriação de terras, pelos grupos paramilitares e seus financiadores. Fraude e violência – “ou você vende a terra, ou compraremos da viúva”, como conta a história daqueles dias –, combinadas com o envenenamento de pastagens e plantações, converteram em refugiados milhares de camponeses. Os paramilitares, com seus aliados narcotraficantes, controlam hoje cerca de 10 milhões de acres, praticamente metade da terra mais fértil do país.
Depois de algumas áreas do país terem sido pacificadas, começou a etapa de “construir” o Estado. Tecnicamente, os EUA definem a AUC colombiana como organização terrorista, um dos pés do tripé do narcoterrorismo (com as FARC e os narcos) que se supõe que o Comando Sul dos EUA exista para combater. Mas o Plano Colômbia não implica apenas reforço para os assaltos dos paramilitares – apesar de muito recalcitrante, além de caríssimo; ele também cria uma via pela qual a guerra perpétua fica definida como “política pública”; os paramilitares, portanto, acabam por ser definidos como o próprio Estado.
Sob a cortina de fumaça de uma anistia negociada com a intermediação do governo, condenada por grupos de direitos humanos nacionais e internacionais, para institucionalizar a impunidade, os paramilitares colombianos assumiram o controle administrativo de centenas de municípios, estabelecendo o que o cientista social colombiano León Valencia chama de “verdadeiras ditaduras municipais”, consolidando as invasões de terras e aprofundando os laços com os narcotraficantes, com as elites agrárias e seus representantes políticos. O aparelho de inteligência da Colômbia, que não para de crescer, está infiltrado pelos interesses dessa mistura de esquadrões da morte e narcotraficantes, como também o aparelho judiciário e o Congresso: mais de 40 deputados do partido governante na Colômbia estão sob investigação, acusados de manter laços políticos e comerciais estreitos com a AUC.
O Plano Colômbia, em outras palavras, financiou o movimento exatamente oposto ao que está em andamento nos vizinhos Equador, Bolívia e Venezuela, nos quais movimentos progressistas trabalham aplicadamente para “refundar” suas respectivas sociedade sob parâmetros sociais mais democráticos e inclusivos. Em vez de uma “democracia participativa” que a esquerda latino-americana está oferecendo, o presidente Álvaro Uribe da Colômbia só oferece “segurança democrática” – uma espécie de engodo social local, pelo qual, aos que se submetam a uma nova ordem, prometem-se segurança em bairros povoados de yuppies americanizados e estradas “seguras”; e à sociedade civil que se oponha a esse “projeto” só se oferecem intimidações e assassinatos.
A Colômbia continua a ser o pior Estado repressor da América Latina. Mais de 500 sindicalistas foram executados, desde que Uribe assumiu a presidência. Recentemente, 195 professores foram assassinados, sem que ninguém jamais tenha sido preso pelos crimes. E os militares são acusados de mais de 2.000 assassinatos de civis – cujos cadáveres são vestidos em uniformes de campanha, para comprovar “progressos” na luta contra as FARC.
Parece também que muitos militantes da direita não são talhados para a vida que a “Paz Uribista” oferece. Para o centro de pesquisas Nuevo Arco Iris, que trabalha em Bogotá, têm eclodido inúmeras “miniguerras civis” entre grupos que, todos, consideram-se “herdeiros” da AUC, e disputam o controle do espólio local, em vários locais. Com tudo isso, há quem ainda elogie o Plano Colômbia.
No vôo que o trazia de volta para casa de uma recente reunião em Bogotá da “Contraguerrilha Global”, um ex-comandante do Comando Sul do Exército dos EUA, escreveu, em seu blog, que “a Colômbia é país que nenhum turista deve deixar de conhecer, vitorioso depois de uma longa guerra contra guerrilheiros perigosos, a apenas duas horas de vôo de Miami. Temos muito a aprender com o sucesso do governo Uribe.”
Analisada à luz da escalada da guerra no Afeganistão, o apoio do governo Obama ao negócio das bases colombianas parece confirmar o mesmo tipo de avaliação frouxa e tendenciosa de “ameaças” contra os EUA, que levou a converter a “guerra longa” contra o radicalismo de islâmicos, em guerra muito mais ampla, cujo fim parece dever ser a implantação de um mundo sem crimes – depois da vitória dos EUA “contra todas as guerrilhas”, quero dizer, depois do “fim” de uma guerra sem fim, como Andrew Bacevich escreveu recentemente.
Pouco depois da queda de Bagdá, Washington tentou envolver toda a América Latina no conflito. Em outubro de 2003, forçou a OEA a incluir corrupção, migração dos sem-documentos, lavagem de dinheiro, desastres naturais e provocados, AIDS, degradação ambiental, pobreza, invasão de programas de computador, além de terrorismo e tráfico de drogas, na relação de “ameaças à segurança”. Em 2004, um estrategista do Colégio Militar do Exército propôs que o Plano Colômbia fosse “exportado” para toda a América Latina – o que Donald Rumsfeld tentou fazer mais adiante, no mesmo ano, em encontro dos ministros de Defesa, no Equador. A ideia foi rejeitada; Chile e Brasil, dentre outros países, recusaram-se a subordinar seus militares – como havia sido feito na Guerra Fria –, ao comando militar dos EUA.
Então, os EUA recuaram para as trincheiras, e puseram-se a lutar a guerra ampla, em campo mais estreito: criaram um corredor de segurança, da Colômbia, pela América Central, até o México. Com uma mistura de tratados e projetos, todos numa mesma caçarola, como a “International Law Enforcement Academy” e a “Merida Initiative”, Obama está dando continuidade às políticas de seus predecessores, gastando milhões para integrar a região, do ponto de vista militar, político, de inteligências e até – considerando leis inspiradas no “Patriot Act” –, também os sistemas judiciários.
O processo pode ser mais facilmente entendido como esforço para aumentar o raio do Plano Colômbia e criar uma infraestrutura supranacional de combate a guerrilhas em todo o continente. Dado que há “fusão” entre os terroristas e criminosos latino-americanos, como se lê em edição recente da revista Pentagon's Joint Force Quarterly, “a luta de contraguerrilhas exigirá fusão também do nosso lado”.
Ao mesmo tempo, esquemas como o Mesoamerican Integration and Development Project estão usando financiamentos do Banco Mundial e do BID para sincronizar as redes de comunicação e de transmissão de energia do México, América Central e Colômbia, misturando tratados de livre comércio entre EUA e países centro-americanos e, vez ou outra, também o ainda não assinado Tratado de Livre Comércio Colombiano, para formar um só grande “acórdão”. Thomas Shannon, principal enviado de Bush à América Latina e embaixador de Obama no Brasil, chamou essas iniciativas de “blindar o NAFTA”.
“Fusão” é boa palavra para essa integração, porque a mistura de economia neoliberal e diplomacia de antiguerrilha é mistura explosiva.
Um dos efeitos do Plano Colômbia foi ter diversificado a violência e a corrupção endêmicas e “acasalá-las” com o tráfico de cocaína, com os cartéis da AL e mexicano, com facções militares assumindo o comando da exportação da droga para os EUA. Esse ciclo de violência é reforçado pelo rápido avanço das operações industriais de mineração, hidrelétricas, usinas de biocombustível e exploração de petróleo – que sempre criam revoltas e tumulto social onde se implantam, porque envenenam terra e água e porque, por abrirem os mercados nacionais para a agroindústria dos EUA, destroem economias locais e geram miséria. O deslocamento, a criação de miseráveis locais cria, assim, todas as ameaças que a “grande guerra” deveria combater; ou provoca revolta social, que acaba por ser manipulada pelos “vingadores” aos quais a “grande guerra” dá poderes.
Por toda a América Latina, uma nova geração de ativistas continua a fazer avançar o movimento por uma democracia global, que sofreu grave abalo depois nos EUA como resultado do 11/9. Mas da mesma geração têm saído importantes lideranças norte-americanas para organizações que lutam, também nos EUA, pela preservação do meio ambiente, defesa dos povos originais, direitos humanos e religiosos, que trabalham para preservar uma agenda compreensiva e sustentável de justiça social.
Mas no corredor Mexico-Colômbia, esses ativistas enfrentam o que bem se pode chamar um bio-paramilitarismo, um renascimento da velha aliança entre anticomunismo e agronegócio, ambos com seus respectivos esquadrões da morte, energizadas pelo atual prestígio das indústrias agro-extrativistas.
Na Colômbia, comunidades afro-colombianas e nativas combatem os paramilitares que roubam terras para cultivar cana-de-acúcar para produzir etanol, e têm sido expulsas de suas terras por mercenários e soldados [ver, sobre isso, Teo Ballvé, “The Dark Side of Plan Colômbia” (“O Lado Escuro do Plano Colômbia), 15/6/2009]. Do Panamá ao México, pequenos agricultores e camponeses têm sido alvo dos mesmos tipos de ataques. Na província de Cabañas, em San Salvador, por exemplo, esquadrões da morte executaram quatro líderes comunitários – três, no mês de dezembro – que se opunham aos planos da mineradora Pacific Rim Mining Company, sediada em Vancouver, Canadá, de explorar uma mina de ouro existente naquela região.
E em Honduras, organizações de direitos humanos relatam que fazendeiros locais recrutaram 40 mercenários membros da AUC Colombiana, para trabalharem como seguranças privados, imediatamente depois do golpe que sequestrou o presidente Manuel Zelaya.
Esse golpe foi provocado, em parte, pela aliança que Zelaya havia feito com sacerdotes do movimento “Teologia da Libertação” e ambientalistas, que protestavam contra o desflorestamento causado por mineradoras e plantadores de cana-de-açúcar.
Apenas um mês antes do golpe, Zelaya – em resposta a um inquérito do qual resultaram várias acusações contra a empresa Goldcorp (também com base em Vancouver) por ter contaminado o Vale Siria, em Honduras – assinou lei que tornava indispensável a aprovação das comunidades, para a concessão de autorização para funcionamento de novas empresas de mineração em Honduras; além disso, também ordenou o fechamento de minas que utilizassem cianeto e mercúrio. Com o sequestro de Zelaya, todas essas leis foram anuladas.
Zelaya também tentou quebrar o acordo vigente na região, pelo qual o petróleo extraído em Honduras era vendido aos EUA em troca apenas de gasolina e diesel, com preços impostos pelo monopólio. Associou Honduras à Petrocaribe – espécie de Opep da região, que garante petróleo venezuelano barato a seus oito países-membros – e assinou um contrato competitivo com a empresa Conoco Phillips.
Tudo isso acendeu contra Zelaya e seu governo a ira das empresas Exxon e Chevron, que dominam o mercado centro-americano de combustível. Depois das controversas eleições presidenciais de 29/11, Honduras saiu completamente do radar da imprensa comercial-corporativa – e a repressão cresceu sem qualquer controle. Desde que o Departamento de Estado dos EUA reconheceu a validade daquela “eleição”, cerca de dez importantes líderes oposicionistas foram executados – outros cinco, no mínimo, foram assassinados nos cinco meses anteriores.
Nada disso teria necessariamente de ser assim. A América Latina não representa qualquer grave risco militar. Nenhum dos países latino-americanos está trabalhando para construir bombas atômicas, nem jamais impediu o acesso de qualquer nação a fontes vitais de recursos. A Venezuela continua a fornecer petróleo aos EUA. Obama é popular na América Latina, e a maioria dos governos, inclusive os de esquerda, acolheriam com bons olhos uma diplomacia desmilitarizada, que não falasse tanto de “terror” e “terroristas” e desse prioridade à redução da pobreza e da desigualdade – exatamente o tipo de “novo multilateralismo” de que Obama falou na campanha eleitoral.
Contudo, apesar de a América Latina não representar real ameaça, não há qualquer incentivo para que os latino-americanos superem as forças que, elas sim, opõem-se à modernização das relações hemisféricas. “Obama” – disse importante diplomata argentino, com ares de desilusão – “resolveu que a América Latina não vale qualquer empenho. Obama entregou a América Latina à direita.”
A Casa Branca poderia ter trabalhado com a OEA para restaurar a democracia em Honduras. Em vez disso, depois de meses de sinais pouco claros, Obama capitulou ante os senadores do Partido Republicano e reconheceu o regime golpista e assassino lá imposto. Washington poderia tentar traçar alguma nova política econômica hemisférica, que equilibrasse melhor os reclamos dos povos latino-americanos por igualdade e desenvolvimento, e os interesses empresariais. Mas os Democratas ainda são o partido de Wall Street, e, pouco depois da posse, Obama esqueceu qualquer promessa de renegociar o NAFTA. Com as bênçãos de Washington, o FMI continua a empurrar países latino-americanos em direção à liberalização de suas economias. Em dezembro, Arturo Valenzuela, secretário-assistente de Estado de Obama para o Hemisfério Ocidental, provocou escândalo na Argentina, ao ‘exigir’ que o país voltasse ao clima de investimentos de 1996 – o que equivale, aproximadamente, a Buenos Aires ‘exigir’ que os EUA “reinflem” a última bolha de Greenspan.
O governo Obama pode reconsiderar o Plano Colômbia e o acordo sobre a base militar do Pentágono. Mas isso exigiria reconsiderar uma “guerra às drogas” que já se estendeu além de todos os prazos razoáveis, que já atravessou décadas, que já custou um trilhão e continua a devorar dólares... Mas Obama tem outras guerras das quais precisa encontrar a porta da saída – ou não, se escolher, como parece já ter escolhido, “aprofundar” cada vez mais aquelas guerras.
Sem querer fazê-lo, ou sem saber como operar para atender às importantes reivindicações dos latino-americanos – normalizar as relações com Cuba, por exemplo, ou fazer avançar a reforma das leis de imigração –, a Casa Branca está adotando postura cada vez mais antagônica.
Hilária Clinton, depois de visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil, “alertou” os latino-americanos para que “pensassem duas vezes” sobre “as consequências de aproximar-se do Irã”. A Bolívia denunciou o comentário como ameaça, o Brasil cancelou visita do enviado de Obama, Valenzuela; e até a Argentina, que não é simpática ao Iran, deu sinais de irritação com a atitude de Hilária Clinton. O mesmo diplomata argentino que citei acima, disse-me: “O governo Obama e a secretária Hilária jamais falariam nesse tom a qualquer país europeu.”
Diplomatas norte-americanos do serviço diplomático interno relatam que os funcionários de alto nível do Departamento de Estado estariam furiosos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil que, nos últimos meses, aproximou-se muito de Hugo Chávez e o tem apoiado na oposição ao crescente militarismo de Washington – sobretudo aos movimentos da Casa Branca para legitimar o golpe em Honduras. Tendo ajudado Evo Morales da Bolívia a superar campanha similar de desestabilização, o Brasil, segundo o principal assessor de Lula para política exterior, Marco Aurélio Garcia, preocupa-se agora com a evidência de que a política de Obama para Honduras esteja “introduzindo na América Latina a teoria do “golpe preventivo” ”. Garcia referia-se, claramente, a uma “variante”, que estaria sendo criada pelo governo Obama, para a AL, da teoria da “guerra preventiva”, de Bush.
Em região que não conhece guerra entre Estados há mais de setenta anos, o Brasil preocupa-se com o aumento de tensões entre Colômbia e Venezuela, decorrente da negociação em torno da base colombiana, comandada pelo Pentágono. A mídia comercial norte-americana focou-se na resposta de Chávez, para quem “ventos de guerra” estariam soprando sobre a América Latina. Mas para Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores de Lula, muito maior responsabilidade sobre o aumento das tensões cabe à diplomacia de Obama. “Chávez”, disse Amorim, “já recuou, depois daquela frase. Falar de guerra – palavra que, a rigor, jamais se deveria pronunciar – é uma coisa. Outra coisa, mais real e bem diferente é a questão das bases militares norte-americanas na Colômbia. Se a Rússia ou o Irã estivessem construindo bases militares na Venezuela, todos também estaríamos preocupados.”
Também há sinais de que a Casa Branca espera que, no próximo round eleitoral na América Latina, os eleitores reinstalarão no poder governos mais cordatos. Em recente viagem a Buenos Aires, por exemplo, o enviado de Obama, Valenzuela, reuniu-se com políticos da extrema direita, mas não se reuniu com líderes da oposição moderada – o que motivou críticas do governo de centro-esquerda da presidenta Cristina Kirschner. Em janeiro, um bilionário de direita, Sebastián Piñera, foi eleito presidente do Chile.
Se o Partido dos Trabalhadores de Lula perder as próximas eleições presidenciais no Brasil – possibilidade que as pesquisas ainda não descartam completamente – a esquerda andina estará ainda mais isolada, apanhada entre o corredor “de segurança” Colômbia-México e governos cada vez mais desejosos de servir aos interesses de Washington na América Latina: teremos a “contenção” do século 21, contra o socialismo do século 21.
Fidel Castro, normalmente otimista, especulou recentemente que, antes de que Obama chegue ao fim do primeiro mandato, “haverá seis ou oito governos de direita na América Latina.”
Até que aconteça, os EUA só contam com uma Doutrina Monroe desossada e com frases cada vez mais ameaçadoras, para usar contra uma região que os EUA habituaram-se a ver com se lhes pertencesse.
[1] Para saber mais, ver Le Monde Diplomatique, fev.-2005, em:
http://diplo.uol.com.br/2005-02,a1063
O artigo original, em inglês, pode ser lido em:
http://www.thenation.com/doc/20100208/grandin/3
Greg Grandin leciona na New York University. É autor de Fordlandia: The Rise and Fall of Henry Ford's Forgotten Jungle City (2009).
Caia Fittipaldi reside em São Paulo, é formada em Linguística, pela USP, e trabalha como tradutora e editora de texto.
Texto recebido por e-mail da rede castorphoto.
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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terça-feira, 26 de janeiro de 2010
O CAOS NO HAITI É PETRÓLEO
Bráulio Martinez Zerpa, coronel da Aeronáutica boliviana escreveu uma lúcida análise e denúncia em http://www.aporrea.org/, sobre a existência de petróleo em grandes quantidades em solo haitiano. Explica os dez mil soldados norte-americanos para a “ajuda humanitária”. Petróleo, gás natural, urânio e outros minerais considerados estratégicos.
Um artigo publicado no dia 22 de janeiro deste ano no jornal PAGINA WAR IN IRAQ, Marguerite Laurent oferece dados e valores sobre essas reservas de petróleo, gás, ouro e urânio. Cita um outro artigo, de 2000, de Bob Perdue, proprietário da fazenda Dauphine onde estão localizadas grandes jazidas de petróleo. Dá conta que em setembro de 1973, portanto, há 27 anos, a funcionária da embaixada dos EUA no Haiti, Martha Carbone enviou correspondência ao Escritório de Energia e Combustível do Departamento de Estado norte-americano, afirmando que o governo haitiano havia recebido propostas de outros grupos para construir um porto em águas profundas, capazes de receber instalações e petroleiros para o transporte desse petróleo para os EUA.
Em 2004 o presidente dos EUA, George Bush, numa operação relâmpago, ao tomar conhecimento que o presidente do Haiti, Jean Bertrand Aristides estava tomando outra direção que não os interesses de Washington, seqüestrou e depôs o presidente, mantendo-o no exílio na África do Sul, enquanto vendia a idéia de “reconstrução da democracia no Haiti”, e nela embarcou o governo brasileiro.
O prédio da embaixada dos EUA em território haitiano é o quinto em tamanho dentre todos os prédios de embaixadas norte-americanas em todo o mundo, depois da China, Iraque, Irã e Alemanha. As reservas foram mantidas intocadas, pois à época os EUA recebiam fornecimento de petróleo de vários países, dentre os quais a Venezuela. As reservas sauditas têm um limite e a Venezuela passou a tomar conta do seu petróleo em função de seu povo.
O petróleo no Haiti ganha importância capital para os EUA. A idéia que o terremoto possa ter sido fabricado por Washington não é tão despropositada assim, nem mergulha no rótulo de “teoria da conspiração”, como gostam de dizer. O Projeto Haarp (High Frequency Active Auroral Researche Program) é uma investigação financiada pela Força Aérea dos EUA, a Marinha e a Universidade do Alaska e visa controlar “processos ionosféricos capazes de mudar o funcionamento das comunicações e sistemas de vigilância”.
Teve início em 1993 e especula-se que é uma arma capaz de controlar o clima provocando inundações e outras catástrofes. O presidente Chávez da Venezuela fez essa denúncia logo após o terremoto que devastou o Haiti.
O Haarp está instalado nas imediações do Monte Sanford, no Alaska.
A crise econômica que afeta os EUA está longe de ser superada. A despeito de todo o esforço que se faz para vender a idéia de recuperação da economia norte-americana, não conseguem esconder dados vitais como o aumento do desemprego, queda no consumo, quebra de pequenas e médias empresas e um número maior de cidadãos daquele país em situação de pobreza.
O que acontece nos EUA é simples de explicar. Mais ou menos como alguém que gasta além da conta no cartão de crédito, no cheque especial, em empréstimos e para contornar o problema toma novos empréstimos, abre novas contas para novos cheques especiais e novos cartões. Bola de neve.
Com a diferença que, ao contrário do cidadão comum que tem que se submeter aos bancos, o governo dos EUA cobra impostos, o Banco Central do país é privado, e detém o porrete capaz de alcançar qualquer parte do mundo.
E vive, os EUA, da exploração e saque de países como o Haiti. Toda aquela arrogância e prepotência típica do povo norte-americano viraria pó se o resto do mundo, principalmente nações não desenvolvidas, deixassem de sustentar o país.
Isso tem um preço que, num determinado momento, fica impagável. A guerra do Afeganistão tem um custo altíssimo e resultados pífios. O Talibã está fortalecido, vencendo batalhas decisivas e o povo afegão cansado da presença militar dos EUA. No Iraque a situação é instável mesmo com a saída de boa parte das tropas.
Um livro “COWBOYS DEL INFIERNO”, escrito pelo sargento Jimmy Massey, dos fuzileiros navais dos EUA, conta em detalhes o que foi a invasão e a ocupação do Iraque. O absoluto desprezo dos militares pelo povo iraquiano.
Jimmy concedeu uma entrevista à jornalista Rosa Miriam Ezalde (RME), cubana, e lá se pode ler o seguinte:
“Tenho 32 anos e sou um assassino psicopata treinado. As únicas coisas que sei fazer é vender aos jovens a idéia de se juntarem aos marines e matar. Sou incapaz de conservar um trabalho. Para mim os civis são depreciáveis, atrasados mentais, uns débeis, uma manada de ovelhas. Eu sou seu cão pastor. Sou um predador. Nas Forcas Armadas me chamam ‘Jimmy o Terrível’”.
Este é o segundo parágrafo do livro escrito há três anos por Jimmy Massey, com a ajuda da jornalista Natasha Saulnier, que foi apresentado na Feira do Livro de Caracas. Cowboys do Inferno é o relato mais violento já escrito sobre a experiência de um ex-membro do Corpo de Marines, um dos primeiros a chegar ao Iraque durante a invasão de 2003 e que decidiu contar todas as vezes que seja necessário o que significa ter sido por 12 anos um desapiedado marine e como a guerra o transformou”.
Ou,
“No Iraque, onde cheguei em março de 2003. Meu pelotão foi enviado aos lugares que haviam sido do Exército iraquiano e vimos milhares e milhares de munições em caixas que tinham a etiqueta norteamericana e estavam ali desde que os Estados Unidos ajudaram o governo de Saddan na guerra contra o Iran. Vi caixas com a bandeira norteamericana e tanques dos EUA. Meus marines – eu era sargento de categoria E6, uma categoria superior a sargento, e dirigia 45 marines – me perguntaram porque haviam munições de nosso país no Iraque. Não entendiam. Os informes da CIA afirmavam que Salmon Pac era um campo de terroristas e que íamos encontrar armas químicas e biológicas. Não encontramos nada. Nesse momento comecei a pensar que nossa missão realmente era o petróleo”.
E,
R. M. E:. Você também relata como seu pelotão metralhou uma manifestação pacífica. Foi isso?
J. M.: Sim. Nos arredores do Complexo Militar de Rashees, ao sul de Bagdá, perto do rio Tigre. Haviam manifestantes ao final da rua. Eram jovens e tinham armas. Quando avançamos havia um tanque que estava estacionado de um lado da rua. O motorista do tanque nos disse que eram manifestantes pacíficos. Se os iraquianos quisessem fazer algo podiam ter feito apontando o tanque. Mas não fizeram. Só estavam se manifestando. Isso nós sentimos bem porque pensamos: “Se fossem disparar, teriam feito naquele momento”. Eles estavam a cerca de 200 metros de nossa tropa.
R. M. E.: Quem deu a ordem de metralhar os manifestantes?
J. M.: O Alto Comando nos disse que não perdêssemos de vista os civis porque muitos combatentes da Guarda Republicana haviam tirado os uniformes, vestiam-se com roupas civis e estavam desencadeando ataques terroristas contra os soldados americanos. Os informes da inteligência que nos davam eram conhecidos basicamente por cada membro da cadeia de comando. Todos os marines tinham muito claro a estrutura da cadeia de comando que se organizou no Iraque. Creio que a ordem de disparar nos manifestantes veio de altos funcionários da Administração, isso incluía tanto os centros de inteligência militar como governamental.
R. M. E.: Você, o que fez?
J. M.: Regressei ao meu veículo, um jipe altamente equipado, e escutei um tiro por cima de minha cabeça. Meus marines começaram a atirar e eu também. Não nos devolveram nenhum disparo, mesmo eu tendo disparado 12 vezes.
Quis assegurar-me de que havíamos matado segundo as normas de combate, da Convenção de Genebra e dos procedimentos operacionais regulamentares. Tentei evitar seus rostos e procurei pelas armas, mas não havia nenhuma.
R. M. E.: E seus superiores, como reagiram?
J. M.: Me disseram que “a merda acontece”.
O livro de Massey foi lançado numa Feira de Livros em Caracas, onde concedeu a entrevista e torna desnecessário dizer que terroristas são os norte-americanos.
Os EUA são exportadores dessa doença para todo o mundo.
A propósito, o presidente eleito do Chile, o tal Sebastián Piñera, ganhou uma fábula com a alta das ações da Lan Chile, empresa de sua propriedade. No curso da campanha eleitoral o antigo assessor de Pinochet disse que não tinha mais a posse da empresa e iria vender suas ações. Tem a posse da empresa e não vendeu suas ações. Mas já disse que Chávez está errado.
Sugiro uma conferência nacional sobre o Big Brother Brasil para que se possa analisar as palavras sábias e fundamentais de Anamara, uma das integrantes da casa. Podem ser vistas em
http://bbb.globo.com/BBB10/Noticias/0,,MUL1461758-17402,00-ANAMARA+EU+FICARIA+COM+QUALQUER+UM+DA+CASA.html
Quem sabe não resolve o problema do Haiti?
E dizem que Obama é negro. Que seja. Tem a pele negra. A ideologia branca, pior, sionista/ariana, o que é a mesma coisa.
Laerte Braga, jornalista, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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domingo, 24 de janeiro de 2010
QUEM MANDA NOS TERREMOTOS E TSUNAMIS?
Berna (Suiça) - Quando criança pobre em Santos, gostava de estudar o comportamento de certos bichos que criava dentro dos antigos vidros de leite de um litro. Tinham um bocal grande, eram largos e transparentes, facilitando minhas observações (na verdade eu deveria ter me dedicado a esses estudos, em lugar de ter me viciado nessa profissão de jornalista).
Assim, passava horas vendo como se alimentavam os caracóis, como se moviam e construiam túneis as formigas introduzidos naqueles vidros, onde eram alimentados com fartura (às vezes demasiada) fosse com pedaços de banana, migalhas de pão ou mesmo moscas.
Eram meus bichinhos de estimação, como seriam mais tarde meus peixes de aquário, e o gatinho que dormia nos meus pés enquanto preparava minhas lições de escola. Mal chegava da escola, corria para ver os vidros em que viviam, apesar dos resmungos de minha mãe enojada com aqueles caracóis de baba viscosa e sempre prometendo jogar tudo no lixo, na minha ausência.
Essa oposição materna me obrigava a escolher bem os lugares onde deixasse os litros com seres vivos, durante minha presença na escola. Se deixasse num lugar onde batesse sol, seria uma tragédia, com os caracóis se derretendo e se desfazendo com o calor de estufa gerado dentro do litro, cuja tampa estava fechada.
As formigas até que resistiam, dizem que nos sucederão na Terra com os escorpiões, mas o risco com elas era o litro cair e se despedaçar. Ocorria um verdadeiro terremoto que destruía seus túneis, seus armazens de alimentos, seus berçários e nem valia a pena querer catar de novo aquelas formigas sobreviventes desesperadas, correndo pelo chão.
Mas nessas vãs tentativas de criar bichos e insetos em vidros transparentes ou aquários, parece que todas as crianças, ou a quase totalidade, demonstra cuidado e mesmo carinho com suas criaturas. Não colocam os vidros na chapa do fogão, nem mergulham na banheira e nem andam em cima dos que escapam do acidente de um vidro caindo da mesa ou da beira da janela.
Nas longas horas de observação dos meus bichinhos de terra e de água nunca consegui manter um contato, do tipo chifrinho de caracol me fazendo alo, como vai ? Formiga me enviando beijinhos ou peixinhos me enviando mensagens com bolinhas de ar. E, as vezes, me vinha aquela idéia – o que será que pensam, se pensam, de mim ? Será que me vêem por inteiro ou só um pedaço, provavelmente só meus olhos, ficam com medo ? Ou me consideravam um ser superior. Será que têm vontade de se ajoelhar num gesto de sujeição?
Mas façamos uma abstração e imaginemos que pudéssemos ter contato mental com as formigas e que as formigas nos dedicassem uma certa adoração, por sermos maiores, por sermos poderosos. Será que teríamos coragem de chutar formigueiros, jogar água fervendo quando o chão da floresta estivessem formigando, de andar em cima delas esmagando seus corpos, cabeças por distração, inadvertência ou simples maldade ?
Agora, vamos falar de nós, grandes para as formigas e caracóis, mas vistos do alto do avião não somos também como formigas inteligentes, construtoras, falantes, amorosas, românticas, ligadas em famílias, medrosas, supersticiosas com medo do sol que nos olha, da lua, do trovão, do raio, do fogo, achando que nos olham, que sabem nossos nomes, nossas vidas e que escutam nossas queixas, como se estivéssemos dentro de um frasco de vidro ?
Mas se realmente alguém invisível passa horas e horas nos olhando, como eu diante dos meus vidros transparentes, será que seria tão mau a ponto de, vez ou outra, provocar um tsunami, matando de uma só vez mais de 200 mil pessoas, e sacudir a terra num terremoto, matando quase cem mil, fechando os olhos para tantos que com ou sem tsunami ou terremoto morrem de fome ? Eu prefiro achar que não, que não existe ninguém e que a natureza é assim como ela é, selvagem, indomável, boa e má. E que desfrutamos de uma extraordinária chance, temporária é verdade, mas transmissível, a de vivermos.
(*) Rui Martins: Ex- correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é membro do grupo de jornalistas do site Direto da Redação.
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
DESMITIFICANDO LULA - 7
Raul Longo (*)
Neste comentário final reuni as demais considerações de Príamo sobre o Presidente Lula, porque percebo que eu e meu amigo chegamos a um impasse.
Interessante lembrar já termos passado por este mesmo impasse há muitos anos, quando dirigíamos departamentos de uma mesma instituição pública de comunicação. Trabalhava conosco um rapaz com o qual Príamo tinha mais antigo relacionamento, e certa noite, por um momento de ausência, esse rapaz quase provoca um grande acidente. Na verdade o acidente ocorreu, mas felizmente nenhuma das pessoas nele envolvidas foi afetada.
Como estava ao lado do rapaz, pude testemunhar as razões que produziram a colisão e estranhei que, embora imediatamente se reconhecesse culpado, não pôde perceber o que o levara ao ato imprevidente, conferindo-o a causas injustificáveis. Não foi exatamente uma imprevidência, e, sim, um momento de inconsciência.
No dia seguinte relatei todo o episódio que por pouco não teve conseqüências drásticas para cada um de nós e, preocupado com a probabilidade de futuras ocorrências sem a mesma sorte, recomendei que Príamo o avisasse de seu problema. Concordou, mas considerando a dificuldade de convencê-lo, lembrando que assim como o bêbado nunca aceita a evidência de sua bebedeira, o louco jamais se reconhece como louco.
Claro que era apenas uma força de expressão, bastante exagerada. Sabíamos que nosso amigo não estava louco, apenas portava um problema neurológico. Mas, se não tinha percepção nem consciência da manifestação desse problema, como convencê-lo?
Pois aquele mesmo impasse se reproduz nesta contradição que agora Príamo aponta em Lula:
f) Devemos reconhecer a sua grande capacidade de comunicação, o que acabou criando-lhe, na realidade, uma visão distorcida porque passou a considerar-se o rei da cocada.
Entende-se a expressão “rei da cocada” por alguém que acredite ser o que, na verdade, não é. Por exemplo: se eu afirmar que Dona Zilda Arns tornou-se a rainha da cocada pelo sucesso de seu trabalho na Pastoral da Criança, a estarei acusando de pretensiosa, e a primeira impressão de quem ler ou ouvir tal afirmação é a de que conheci pessoalmente Dona Zilda. Afinal, publicamente, ela nunca assumiu qualquer postura que me autorizasse tal julgamento.
Em busca de alternativas que justificassem tão peremptória constatação, talvez se imaginasse que eu não goste de crianças. Ou pelo menos não das crianças pobres e desnutridas, como as que foram defendidas pela Dona Zilda.
De fato, preferiria que todas as crianças fossem suficientemente nutridas e que o governo Lula não houvesse resgatado apenas 12 milhões de famílias da miséria, mas sim que tivesse erradicado de vez a pobreza do país. Infelizmente, segundo os analistas internacionais, isso só deverá ocorrer em 2015 e se o próximo governo der continuidade às políticas sociais do atual.
Mas enquanto aguardamos por mais 5 anos para solucionar esse problema crônico que acompanha o país desde seu descobrimento, podemos continuar tentando encontrar a verdadeira razão para que eu julgue Dona Zilda a rainha da cocada. E não a encontraremos enquanto eu não assumir que esse meu julgamento provém de um preconceito que alimento contra, se não às crianças, talvez, às mulheres. Ou, quem sabe, à Igreja Católica a que Dona Zilda e a Pastoral eram ligadas.
Se eu quiser me livrar desse preconceito precisarei, primeiro, entender o que o provoca. Se eu for daqueles convencidos de que o lugar da mulher é na pia e no fogão, é aí que terei de trabalhar meu condicionamento.
Já no histórico da Igreja Católica, há muitas motivações para as minhas aversões pela instituição. No entanto, tenho de avaliar ser formada por diversas e diferentes correntes diametralmente opostas. Se me esforçar um pouco, poderei concluir que as mesmas razões que tornam muitas de suas faces execráveis à minha compreensão fazem com que me alie a outras da própria Igreja.
Através desse processo racional, poderei me livrar de meu preconceito contra Dona Zilda Arns, mas a grande dificuldade está em reconhecer que sou preconceituoso, exatamente como acontece com o bêbado e o louco. E o que mais dificulta é que, embora os preconceitos se assemelhem às delimitações de territórios de animais, ele não é instintivo nem natural. Ninguém nasce preconceituoso.
Será o preconceito fruto da observação sincera e do raciocínio? Desde o primórdio das civilizações, aqueles que mais atentamente observaram e raciocinaram sobre o comportamento humano são, ainda hoje, reconhecidos como os que mais combateram os preconceitos humanos.
No entanto, infelizmente, o ser humano continua sendo mais suscetível à inseminação, à implantação do preconceito, do que ao seu próprio raciocínio e mesmo à percepção da própria história, ou, até, de experiências pessoais.
Uma das razões de minhas admirações por Príamo foi pelo relato que me fez de um período muito difícil de sua vida, quando toda a cidade fronteiriça onde nascera passou a julgá-lo pela desonestidade de alguém em quem ele confiou e avalizou. Nos contares de Príamo sobre aqueles maus momentos, a passagem torna-se mais dramática quando outra pessoa, aproveitando-se da ansiedade em sanar a dívida que depunha contra sua imagem perante a comunidade, o convida para duro trabalho nos interiores do país vizinho.
Trabalhou solitário em meio à selva e, só quando o resgataram e ao que ele extraíra, percebe-se perseguido pela polícia até escaparem pela fronteira. Somente na fuga é que Príamo se dá conta de que o envolveram em um ato ilegal.
A história de Príamo termina bem quando, transferindo-se para um centro maior, destacam-se suas qualidades profissionais e de caráter. Há muitos anos retornou ao seu estado onde novamente tornou-se reconhecido e respeitado pelos próprios moralistas que então o condenavam. No entanto, hoje Príamo aponta como contradição do Presidente Lula:
g) Essa questão da ética, em que ele (Lula) se considera o mais ético, é outra distorção, fruto da empolgação e da falta de uma assessoria sincera para demonstrar-lhe o absurdo dessa e de outras manifestações dele. Ele precisa de alguém, com autoridade na sua assessoria mais íntima para chamar-lhe a atenção para determinados excessos. Neste mundo atual, se formos considerar a ética dentro da sua conceituação pura, vamos constatar que ninguém é ético, nem eu, nem você, nem ninguém.
De fato houve um momento terrível em nossa história política, em que a total ausência de ética dos governantes era um escândalo internacional. Basta lembrar que em 8 anos de governo FHC ocorreram apenas 28 operações da polícia federal, enquanto só no primeiro mandato do governo Lula se realizou mais de 500.
Ao acusar este governo de falto no empenho em investigações do que o acusaram - apesar das inúmeras CPIs e estritas atuações da PF, do MP, do STJ e demais órgãos federais - FHC foi calado por um jornalista da BBC. O ex-presidente não imaginava que até em Londres tornara-se famoso seu Procurador da República, Geraldo Brindeiro; mas o entrevistador questionou sua autoridade para qualquer denúncia, lembrando o termo “Engavetador Geral” e os 400 processos contra seu governo que nunca foram sequer avaliados.
Também é verdade que os integrantes do partido do Lula ou de partidos aliados muitas vezes se enalteceram como únicos sem envolvimentos nas amiúdes ocorrências de escândalos de corrupção em quaisquer das esferas políticas: municipais, estaduais ou federais. Mas quando, aproveitando-se dos erros de alguns, a mídia supervalorizou e especulou criando muitas ilações infundadas, o próprio Presidente Lula foi o primeiro a publicamente assumir como erro de seu partido e aliados o se apontarem pela ética, afirmando não ser uma qualidade, e sim uma conseqüência imposta a quem exerça a vida pública.
Portanto, Príamo que me desculpe, mas não prestou atenção à missa e está puxando reza atrasada. Não se fez sequer necessária essa “assessoria sincera” que diz faltar. E se houve alguma “empolgação”, “absurdos” e “excessos” que mais uma vez afirma sem especificar nem exemplificar, poderei reportar em detalhes muitos dos cometidos pelas lideranças do PSDB e do DEM, reconhecidos como corruptos e até envolvidos em crimes de outras ordens. Sem contar os discursos de falsos moralistas da mídia, pregando uma ética pela qual jamais se pautaram. Muito pelo contrário e em histórias que conheço de sobejo!
Chego a ter a impressão que não seja Príamo quem tenha escrito essa alínea “g”, mas, sim, alguém que não me conheça e se considere capaz de me enganar invertendo fatos que ocorreram há apenas 3 ou 4 anos. Se Príamo já se esqueceu quem sou, espero que ao menos recorde o que aqui reporto de nossas conversas e de seus relatos há 30 anos atrás, pois a única forma de se vencer nossos preconceitos é observando-nos através de nossa própria história.
Ninguém tem preconceito contra cavalos ou aviões. Mas por medo de cavalos ou aviões muita gente não sai do lugar onde sempre esteve. O preconceito humano sempre é contra seus semelhantes, mas também é filho do medo.
Talvez não seja a insegurança da inconsciência da bebedeira ou da loucura que dificulte o reconhecimento daqueles a quem afeta, mas não é preciso ser psicólogo para reconhecer o medo e a insegurança no homem que não consegue aceitar sua complementação na mulher. E onde se incrusta na homofobia a evidente insegurança e incerteza na própria sexualidade.
Jean Paul Sartre desvendou, nos temores e inseguranças do branco, a origem do racismo contra os negros. E a pergunta é: quando alguma vez um indivíduo ou grupo de preconceituosos já expressou segurança, serenidade, convincente certeza do que afirma, conseqüência no que pensa, real confiança em suas atitudes? Racionalidade? Realismo? Saudável alegria, ao menos?
Os nazistas? A Klu-Klux-Klan? Os fundamentalistas islâmicos? Os sionistas? Skinheads?
Mas não é preciso ir tão longe. Na tentativa de alguma percepção da realidade, encontramos em Príamo infundado preconceito a lhe impedir a percepção da real paisagem além das inexpugnáveis muralhas de sua Tróia:
h) A sua fala, na presença da Ângela Merkel, demonstra uma coragem que, até hoje, ninguém, nenhum presidente teve, ele foi muito claro, foi direto ao ponto, sem tergiversar, sem dar volta, falando com todas as letras. Eu me senti gratificado ao assistir esse momento, me deu uma alegria muito grande, foi um momento de estadista, que, no meu entender, ele quer ser e poderá chegar a isso; mas, volto a dizer, ele precisa ter um assessor que lhe exponha claramente as contradições do seu comportamento.
No entender de Príamo, Lula quer ser um estadista, mas lhe falta assessoria. Talvez imagine um professor de inglês ou de quaisquer dos tantos idiomas em que nosso infeliz ex-presidente era tão bem versado, embora nunca tenham lhe concedido o prêmio de Estadista do Ano como o que foi conferido a Lula em 2006, na Assembléia Geral da ONU.
No entender de Príamo, Lula se considera do rei da cocada. Já um hóspede argentino estranha que aqui no Brasil tanto se valorize os erros de português do Lula - como os notados pelos gramáticos no português do FHC ao comentar os desconhecimentos lingüísticos de Lula -; embora, lá na Argentina, se considere que Lula se expresse muito bem em espanhol quando entrevistado pela imprensa, ainda que em reuniões oficiais faça questão de se pronunciar em português.
No entender de Príamo, Lula poderá chegar a ser um estadista. Para a UNESCO, quando lhe concedeu o Prêmio Félix Houephouët-Boigny, Lula já é um estadista da Paz para o mundo.
Lula nunca precisou de assessores que o ensinassem a ser sincero. Lembro-me bem ter sido o primeiro a quebrar a formalidade do “Sr. Governador”, “Nobre Deputado”, “Caro Candidato” e que-tais. Sempre tratou a todos por você, sem ofensas nem grosseiras, como as tantas que, até hoje, amiúde lhe dirigem, inclusive pela imprensa. Mas Príamo só notou a sinceridade com que Lula invariavelmente utilizou com todos os governantes de qualquer país do mundo, quando o Presidente se dirigiu à Ângela Merkel.
Para Príamo falta a Lula um assessor que lhe aponte contradições de seu comportamento. No entanto, para o Le Monde, o El País, o Financial Time, diversas universidades e instituições européias e norte-americanas, para Lula ser uma grande personalidade internacional, talvez a mais reconhecida e agraciada em história da política mundial, não falta nada. Já o é.
O que falta para Príamo enxergar o que vê o resto do mundo? Por que ao longo de 7 capítulos tive de desmitificar as infundadas “contradições” percebidas por Príamo em Lula?
Será que já estaria programada para a próxima semana, talvez quando Príamo estiver lendo o que agora escrevo, a entrega do reconhecimento mundial ao Presidente Lula como Estadista Global em Davos, na Suíça, se ele realmente inchasse folhas de pagamento? Se permitisse gastos estratosféricos ou constituísse uma equipe de governo com competências desnecessárias e conflitantes, como convenceram a Príamo? Se despendesse perdulariamente verbas de apoio internacional ou perdoasse dívidas prejudicando seu próprio país?
Se apoiasse governos criminosos, antidemocráticos ou golpistas? Se interviesse em assuntos internos de outras nações, seria reconhecido como Estadista Global pelo Fórum de Davos?
Klaus Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial reconheceria que "O presidente Lula é um exemplo a ser seguido pela liderança global" se ele fosse um mero "rei da cocada"? Um dos "meu pai disse que tenho aquilo roxo"? Apenas mais um "homem que sabia falar javanês"?
Não sei se consegui assessorar Príamo com a sinceridade necessária para que possa ultrapassar seus preconceitos a respeito de Lula, mas espero que todos os que por ventura tenham acompanhado essa série possam chegar à conclusão de que o mito real da mídia não é Lula. Não é ele o rei da cocada.
Espero ter conseguido levantar o véu da mídia, para que os tantos Príamos que comigo se correspondem percebam que o verdadeiro mito criado pelos jornalistas e manipuladores de informações não é Hércules.
É sim o próprio Podarge, a quem a mídia faz acreditar-se Príamo, que por seus preconceitos temeu a Hércules e acabou aceitando o presente de grego arquitetado por Ulisses, pondo a perder seu reinado da bela e memorável Tróia.
Raul Longo
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC
(*) Jornalista, poeta e escritor, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
Para quem não leu as postagens anteriores da série DESMITIFICANDO LULA:
1 - http://assazatroz.blogspot.com/2009/12/desmitificando-lula-i.html
2 - http://assazatroz.blogspot.com/2009/12/desmitificando-lula-2_20.html
3 - http://assazatroz.blogspot.com/2009/12/desmitificando-lula-3.html
4 - http://assazatroz.blogspot.com/2010/01/desmitificando-lula-4.html
5 - http://assazatroz.blogspot.com/2010/01/desmitificando-lula-5.html
6 - http://assazatroz.blogspot.com/2010/01/desmitificando-lula-6.html
Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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