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Fernando
Soares Campos
Quando
anunciaram que Dilma seria a candidata à sucessão de Lula, em 2010, com apenas 2% de
intenções de voto apontados pelos institutos de pesquisa, muita gente falou que
ela não se elegeria e que os petistas e aliados acabariam se rendendo à
proposta de alterar a Constituição e implantar o “terceiro mandato”. Recebemos,
inclusive, mensagem de um grande jornalista brasileiro, hoje atuando na Europa,
informando que viria ao Brasil com o propósito de incentivar os defensores do
governo trabalhista a deflagrar um movimento a favor da reeleição de Lula.
Respondemos a ele que “ficasse frio”, tranquilo; pois, como a própria oposição
gracejava maliciosamente, tendo Lula como cabo eleitoral até um poste seria
eleito. Parece que eles tinham razão: o “poste” foi eleito presidente da
República. Mas esse poste dá, deitada, seus bebês à luz.
Os suportes
midiáticos da imprensa empresarial disseminavam os mais ambíguos comentários,
opiniões e futricas sobre a questão do possível terceiro mandato de Lula. Uns
já se adiantavam berrando que Lula queria se tornar o Chávez brasileiro (até
hoje dizem que ele é...). Outros falavam que provavelmente haveria compra de
voto de parlamentares para a aprovação de emenda constitucional, um “mensalão2”. Mas não faziam qualquer referência à aprovação da emenda que instituiu a
reeleição de presidente da República, isso no primeiro mandato do governo de
Fernando Henrique Cardoso. A tchiurma
de FHC comprou votos para aprovação de emenda constitucional instituindo a sua
reeleição. E, contrariando dispositivos legais que determinavam que, apesar
de aprovada a emenda, esta somente teria validade na eleição seguinte ao mandato
do presidente que sucedesse FHC, mesmo assim este foi eleito no primeiro turno das eleições. O STF
não se manifestou contrário a essa aplicação (i)legal. Também não importunou
muito o deputado Ronnie Von Santiago (PFL – hoje DEM), que confessou ter
recebido R$ 200 mil para votar a favor da reeleição do Coisa Ruim. Já no caso
do “mensalão” petista, apenas o próprio acusador Roberto Jefferson confessou
ter recebido dinheiro do PT para os deputados de sua legenda (PTB) apoiarem
votações, na Câmara, favoráveis aos projetos do governo. Depois, Jeff desmentiu,
mentiu de novo, desmentiu... mentiu... Prevaleceu o dito sobre o não-dito. E
Jefferson ganhou a alcunha de “dedo-duro”, conferida pelos próprios comparsas da guerra
golpista. “Ele é alcaguete, mas é nosso alcaguete!”
O golpe de jogar um de encontro ao outro
Já faz muito
tempo que a oposição, que não tem costume de ficar nessa posição, anda, à falta
de projeto político e argumentos consistentes, por diversas veredas obscuras,
umbráticas, tentando retornar ao Palácio do Planalto, do qual eles se
consideram legítimos herdeiros. Até acusam o ex-operário, retirante da seca do
Nordeste, de ter-lhes usurpado o trono, devido a um cochilo, ou distração, num
momento em que precisavam se livrar de stalinistas, marxistas, leninistas e até
de brizolistas ― não existe crime perfeito, o que existe mesmo é justiça falha,
faltante ou tardia. Porém, antes tarde do que nunca.
Desde o
primeiro ano do governo Lula, a imprensa manobrista e as oposições de direita e
de esquerda sectária têm tentado conquistar parceiros e comparsas até mesmo no
PT. Em 2005, com o escândalo do “mensalão”, conseguiram colocar algumas
madalenas arrependidas de joelho fazendo mea-culpa, chorando lágrimas de crocodilo
para as câmeras de televisão. Outros supliciaram em talk shows, em que talk is
cheap, e prevalece uma small talk, como foi o caso do senador Eduardo Suplicy,
que, ao ser perguntado por que um político “tão honesto” como ele não saía do
PT, apenas esboçava um sorriso maroto e desconversava. Mas o telespectador
sacava que ele permanecia no partido pelos votos que a legenda ainda gerava. No
entanto, se os golpistas viessem a ter êxito em suas escusas investidas,
culminando no impeachment de Lula,
ele não contaria até três, cairia fora.
Agora, pesquisa
do Data Folha indica que “Lula se elegeria no primeiro turno das eleições” de
2014. E, também no primeiro turno, Dilma ganharia, mas um tanto apertada. A pesquisa
aponta a corrida, o sobe-e-desce de outros possíveis candidatos: Joaquim Barbosa,
Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves (“o único que cresceu em relação ao
levantamento de março”, informa a matéria).
Muito generosa
essa pesquisa do Data Folha, empresa do grupo Folha de São Paulo, uma das que
mais destilam ódio contra os petistas. Eles mesmos, de vez em quando, estão
acusando o PT de fazer propaganda eleitoral antecipada, transgredindo a
legislação. Desconfio que o escuso objetivo dessa vez é incrementar a discórdia
entre petistas e aliados (como o PSB de Eduardo Campos, por exemplo), criar
clima de receio (medo mesmo), entre os governistas. Medo de Dilma “perder” a
reeleição, como aconteceu com Michelle Bachelet, no Chile, que, apesar da sua
imensa popularidade, não conseguiu eleger seu candidato à sucessão presidencial.
Depois de passar 20 anos fora do poder, a direita chilena voltou “para ficar”.
Os comentários
e opiniões dos articulistas de plantão me deixam com a pulga atrás da orelha.
Vejamos:
A colunista do Painel, da Folha, Vera Magalhães, insinuou o coro"Volta Lula" diante da pesquisa Datafolha deste final de semana que
mostra melhor aprovação do ex-presidente em relação a Dilma Rousseff. Leia:
Colunista da Folha destaca preferência de pessimistas com o
rumo da economia pelo ex-presidente, que tem 43% das intenções desses votos
contra 29% da presidente, segundo o Datafolha; "No geral, o estrago para
Dilma é maior entre os eleitores preocupados com perdas no próprio orçamento
(sua preferência cai de 51% para 31%)"
Segundo ele, aliados já ensaiam uma torcida pela volta
de Lula. Leia:
Segundo colunista, cresce entre os partidos aliados a torcida
silenciosa pela volta de Lula. “Dilma é temida. Amada? Bem, só por Aloizio
Mercadante, ministro da Educação”; para Noblat, presidente não é gerente
sintonizada com as exigências dos tempos modernos, muito menos gestora
admirável; atrapalhada na condução da economia e um rotundo desastre no
exercício cotidiano da política
Ainda acenam
com a possibilidade de Lula vencer Alckmin na disputa pelo Palácio dos
Bandeirantes: “Para Data Folha, só Lula ameaça Alckmin em SP”.
Pelo que me
consta, até um noia da Boca do Lixo poderia ameaçar o Picolé de Chuchu.
Com essa
pesquisa do Data Folha, fiquei cá com meus botões imaginando: “Creio que eles concluíram
que Dilma está imbatível. Pode ser que com muitos golpes midiáticos consigam
reverter o quadro. Lula, que passou por sérios problemas de saúde, pode estar
debilitado e talvez seja menos difícil... (vá lá!) ...mais fácil abatê-lo dessa
vez”. Mas meus botões às vezes me confundem. O fato é que estão muito assanhados, e isso pode ser indicativo de que, hoje, eles têm mais medo de Dilma nas urnas do que de Lula, sabem que Dilma tem, talvez, mais chances que Lula.
Ano passado o
intelectual opinioso Fernando Henrique Cardoso escreveu artigo, publicado e
distribuído pela imprensa grande, falando que Dilma estaria enfrentando sérias
dificuldades em seu governo devido a suposta “herança maldita” deixada por
Lula. O objetivo estava claro: fazer Dilma ouvir o canto da sereia e, pelo
menos, agradecer as “análises” de sua geniosa ex-excelência. Estaria assim plantada
a semente da discórdia entre Dilma e Lula. Porém, pelo contrário, a presidenta
mandou de volta, na mesma medida, um petardo dizendo que “herança maldita” foi
a que ele deixou para Lula e para todo o povo brasileiro. E que tudo estava
indo bem em sua administração. Melhor seria se os entreguistas de antanho se
arrependessem e passassem a trabalhar pelo desenvolvimento da Nação,
redimindo-se dos pecados de lesa-pátria que cometeram quando tinham o poder nas mãos. Este episódio nos inspirou a escrever uma
paródia fabulosa:
Quando Barack
Obama disse que Lula era “o cara”, mandamos essa frase freudiana para o
presidente: “Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um
elogio”.
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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