10.08.2009 | Fonte de informações:
Pravda.ru
Fernando Soares Campos
Depois de longa caminhada, pai e filho juntaram-se a um movimento reivindicatório na grande cidade. O deslocamento da multidão em passeata, do local de concentração até o ginásio onde ocorreria um encontro de trabalhadores rurais, fazia parte da estratégia dos organizadores do movimento e tinha o propósito de chamar a atenção da imprensa; era uma tentativa de informar a população urbana sobre os seus problemas no campo.
Atendendo às exigências legais, os líderes do movimento haviam
solicitado apoio das autoridades para acompanhar a multidão desde a
concentração até o ginásio municipal. O comando da Polícia determinou que os
seus efetivos se pusessem em guarda, acompanhando o cortejo. Entretanto os
militares foram orientados para reagir a qualquer manifestação
"agressiva" por parte dos participantes do evento.
Quando a passeata atravessava uma das mais movimentadas avenidas da
metrópole, os motoristas dos carros parados no sinal ( farol, sinaleira ou
semáforo, que já abrira e fechara diversas vezes enquanto os trabalhadores
passavam), impacientes, buzinavam com insistência e gritavam protestando contra
a perda de seus preciosos minutos de espera.
No meio da multidão pai e filho conversavam:
Filho I: ― Pai, já que a gente tá aqui hoje e eu
num vou trabalhar na carvoaria, então, depois que terminar as fala, vamo andar
um pouco pela cidade?
Pai I: ― Depende da hora que terminar, fio.
Filho I: ― Pai, o homem que falou lá no acampamento disse uma palavra que eu num
entendi.
Pai I: ― Qual?
Filho I: ― Excrusão. O que quer dizer isso pai?
Pai I: ― Pelo que eu entendi, fio, é quando a gente num pode disfrutá de quase
nada, enquanto outras pessoas têm direito a tudo. E até mais um pouco.
Filho I: ― Ah! então, quer dizer que aquelas pessoas naqueles carro bonito num sofre
de excrusão, né?
Pai I: ― Acho que é isso mesmo, fio.
Filho I: ― Pai, quando eu crescer, eu vou poder comprar um carro daqueles?
Pai I: ― Se você continuar na carvoaria, nem vai crescer, fio. Mas, se nóis
conseguir um pedaço de terra boa e trabalhar, aí, até pra escola você vai.
Então, pode até pensar em comprar um carro daqueles.
Subitamente, uns elementos infiltrados no movimento sacaram os
pedregulhos que traziam em sacolas e, aos gritos de "abaixo a
burguesia!", atiraram contra os carros parados no sinal. Imediatamente o
comandante das tropas autorizou a repressão. Foram lançadas as primeiras bombas
de gás contra os trabalhadores. Criou-se o tumulto. Correria, pessoas
pisoteadas, gritos, protestos, resistência; os líderes ainda tentaram apaziguar
os ânimos. Os policiais conseguiram dominar alguns manifestantes e baixaram o
cacete. Os lojistas fecharam seus estabelecimentos, mas não evitaram que
algumas vitrines fossem destruídas. Tiros, quebra-quebra, prisões.
* * *
À noite, em casa, Pai II e Filho II, que estavam num dos carros parados
no sinal, assistem ao telejornal das oito. As cenas, editadas, são de uma
verdadeira batalha urbana. A família assiste a tudo em silêncio. De repente o
filho grita entusiasmado:
Filho II: ― Olha lá, pai! Você viu?!
A cena muda rapidamente.
Pai II: ― O quê, filho?!
Filho II: ― Você não viu, pai?!
Pai II: ― Não sei do que você está falando, filho! Você está se referindo ao
espancamento dos baderneiros que foram presos?
Filho II: ― Não, pai! Ah! pena que você não viu! Você viu, mãe?!
Mãe: ― Claro que vi! Vi aquele moleque chorando porque o baderneiro do pai
estava sangrando...
Filho II: ― Não, mãe, não é nada disso...
Irmãzinha: ― Eu vi.
Pai II: ― Vocês viram o quê?!
Filho II: ― Pai, o que estava em cima da faixa de pedestre, pai, era o nosso carro!
O nosso carro saiu na tevê!
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Leia também...
por Conceição Lemes
Na próxima terça-feira, os deputados estaduais Adriano Diogo e Beth Sahão (PT) proporão à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) a convocação do comandante da Polícia Militar (PM), para dar explicações sobre barbárie dessa quinta-feira, 13 de junho.
“Nos últimos dias, o governo Alckmin prometeu intensificar a repressão nas próximas manifestações de rua. Ao anunciar isso publicamente, ele deu a senha para a repressão abusiva, descabida, desnecessária da PM”, atenta Adriano Diogo, que preside a Comissão. “Os policiais atiraram em jovens, jornalistas, pessoas que estavam passando… Barbarizam mesmo para forçar uma reação violenta.”
“Embora o metrô e o trem tenham aumentado, o governo Alckmin, nas entrevistas, só se refere ao aumento do ônibus, para atingir o governo Haddad”, prossegue o deputado. “É uma ação pensada, bem orquestrada, com vistas à eleição de 2014, e com o objetivo de desmoralizar o PT.”
“Nessas horas, dá perceber claramente o que nós já sabemos: a estrutura policial da ditadura permanece intacta, principalmente os setores de inteligência, como a P2 [serviço reservado da PM] e a tropa de choque”, denuncia Adriano. “Infiltraram policiais civis e militares à paisana no meio da garotada para incitar a violência. Ninguém me contou, eu vi um bando de profissionais em provocação – não eram estudantes! –, quebrando vidro, fazendo bandidagem.”
Leia também:
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Promotor pede que polícia [ditabranda] mate manifestantes do Movimento Passe Livre
O promotor Rogério Zagallo, de São Paulo, usou o Facebook para escrever uma mensagem bizarra [AA: eufemismo para "estúpido", ou "golpista"] sobre o protesto do Movimento Passe Livre.
“Estou há 2 horas tentando voltar para casa mas tem um bando de bugios revoltados parando a avenida Faria Lima e a Marginal do Pinheiros.”
(Bugios é macacos, para quem não saiba.)
“Por favor alguém poderia avisar a Tropa de Choque que essa região faz parte do meu Tribunal do Júri e que se eles matarem esses filhos da puta eu arquivarei o inquérito policial. Petistas de merda. Filhos da puta.”
(Se tiver estômago, clique no título e leia completo)
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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