domingo, 14 de julho de 2013

O PAPA, O PAI-NOSSO E A FADA TUPI

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Na próxima semana, no Rio, o papa rezará o pai-nosso traduzido em 26 idiomas. É uma forma de a Igreja Católica prestigiar cada um deles. Na lista não consta, porém, nenhuma das mais de 180 línguas indígenas faladas hoje no Brasil. Acontece que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) adotou como oficiais somente línguas indo-europeias - inglês, francês, alemão, espanhol, português, italiano e polonês, que serão usados na catequese juntamente com outros 19 idiomas "paroquiais", entre os quais o coreano, o russo, o croata, o letão, o árabe e até o turco. Das línguas daqui nem sequer o guarani, que é falado em três municípios do Rio de Janeiro, fará parte do evento.

Se o papa não reza em guarani não é por falta de ave-maria. Basta que ele desça ao Arquivo Secreto do Vaticano - um bunker de concreto no subsolo perto da Capela Sistina com milhões de documentos em 43 quilômetros de prateleiras. Lá ele encontrará versões do pai-nosso em diversas línguas ameríndias, incluindo a Língua Geral de base tupi, que já foi a língua da catequese, além de catecismos, sermões, hinos e orações em guarani, idioma falado hoje em dez estados do Brasil, no Paraguai, na Argentina, na Bolívia e até mesmo no Uruguai, onde o Estado finge que não existe.

Por sua importância, por ser um ponto de união entre os países da América do Sul, o guarani foi declarado, em novembro de 2006, idioma oficial do Mercosul, "em igualdade de condições com o português e o espanhol". Tal decisão, aprovada na XXIII Reunião do Mercosul Cultural, obriga a tradução dos documentos para o Guarani, que dois anos antes já havia sido declarado idioma oficial alternativo da Província Argentina de Corrientes, sendo adotado depois, em 2010, como segunda língua oficial nos municípios de Tacuru e Paranhos, ambos em Mato Grosso do Sul.

Oré Ubá

Mesmo assim, os milhares de peregrinos vindos de todos os continentes, que serão distribuídos pelas paróquias do Rio, sairão do Brasil sem saber que visitaram um país diverso e multilíngue, porque a operação logística montada pela organização da JMJ, que contempla tradutores e aplicativos de tradução sonora com ajuda de smartphones para comunicação em línguas estrangeiras, deixou de fora as línguas nacionais. É nessa hora que a gente sente saudades do Policarpo Quaresma.

A tradução de orações para línguas indígenas tem uma história complicada. Por isso, se o papa Francisco, que é da Argentina onde se fala guarani, fosse rezar nessa língua, teria que evitar as primeiras versões do pai-nosso feitas por alguns de seus confrades que cometeram erros quase "folclóricos". Pai-nosso, por exemplo, foi traduzido como oré ubá, o que obrigou os índios a excluir do seu convívio a figura de um Deus Pai, cuja paternidade era questionável, e de um Deus Filho para sempre incompreendido. Tanto o oré como o ubá são inadequados - dizem os especialistas.

Oré, efetivamente, é nosso. Mas ali onde a língua portuguesa tem apenas uma forma para o possessivo, o tupi antigo possui duas: quando o 'nosso' inclui a pessoa com quem estou falando, tenho que usar iandé ou nhandé. Já quando excluo o interlocutor, uso oré. O tupi parece mais adequado a um discurso de transparência. No caso, por exemplo, das emendas orçamentárias, na hora de pedir verba seus autores usariam o inclusivo nhandé: a verba pública é nossa (minha e tua). Mas na hora de aplicá-la e embolsá-la, seriam obrigados a usar o exclusivo oré, pois o nosso aqui é o do Mateus: primeiro o meu, depois os teus.

Usar o oré no pai-nosso não permite que quem reza junto compartilhe o mesmo pai. Se o papa rezar em guarani dessa forma, estará dizendo aos índios "pai nosso que não é de vocês", o que pensando bem talvez seja o mais correto, afinal o tradutor pode ter escrito certo por linhas tortas. A voracidade com a qual o agronegócio abocanha as terras indígenas com a cumplicidade do poder político permite que os índios duvidem se compartilham o mesmo pai com a senadora Kátia Abreu, católica fervorosa.

Anga e Ceiuci

Além disso, quando na Oração do Senhor o papa chamar pai de ubá, a confusão vai aumentar, porque a estrutura de parentesco tupi obedece a princípios diferentes dos nossos, como esclarece o padre Lemos Barbosa em seu Curso de Tupi Antigo, oferecido na PUC/RJ nos anos 1950. Ele diz que ubánão tem correspondente preciso em português, porque denomina tanto o pai como o irmão do pai, da mesma forma que filho não tem equivalente em tupi, pois ayra ou rayra significa também filho do irmão, ou seja sobrinho paterno.

Quando se trata do filho de Deus, então, a questão se complica ainda mais, por envolver valores morais, tabus e preconceitos. Posto que a palavra rayra ou ayra significa também sêmen, ela foi omitida na tradução de ‘imagem do filho de Deus’, substituída por "Tupã tay raangaba",segundo avaliação de Teodoro Sampaio (1885-1937), um engenheiro baiano, filho de uma escrava, que estudou a toponímia tupi na geografia nacional.

Por não conseguirem transferir toda a carga de significados de uma cultura a outra, reduziram e deformaram a diversidade cultural e ambiental. O papa Francisco teria dificuldades com a tradução de palavras como alma (anga), céu (ybaka), yasy (lua), ara (dia ou tempo), mano (morrer), etc, como observa o padre Lemos:

"Os dicionários podem dizer que anga significa alma. Mas o conceito de alma é diferente do de anga, tanto em compreensão como em extensão. Nós atribuímos à alma características (por exemplo, a imaterialidade) que não cabem no conceito indígena de anga. Por outro lado, um índio animista falará na anga do vento".

Como guardar o sentido da palavra deputado numa língua indígena? Couto de Magalhães usou "homens de governo da nossa pátria" ao traduzir para o Nheengatu a certidão de batismo do neto de Dom Pedro II. Mas discordou do termo "fada indígena", usado para designar a figura lendária de Ceiuci - uma velha gulosa que vivia perseguida por eterna fome - na narrativa coletada no Tocantins, em 1865, com um tuxaua Anambé. Para ele, também a versão do pai-nosso que circulava na Amazônia era uma fada tupi, isto é, um monte de palavras desconexas que não expressavam o seu significado original.

O papa perderá uma boa oportunidade de fazer um gesto simbólico e de celebrar o guarani, reconhecido e valorizado quando usado em outros espaços sociais. Afinal, como diz um jesuíta amigo dos índios, Bartomeu Meliá, “también la historia de América es la historia de sus lenguas, que tenemos que lamentar cuando ya muertas, que tenemos que visitar y cuidar cuando enfermas, que podemos celebrar con alegres cantos de vida cuando son habladas”.   


Mas diante de tantas dificuldades, talvez seja melhor mesmo, pelo menos para os índios, que o Papa não reze em guarani. Bem ali, ao lado da aldeia Maracanã onde funcionou o antigo Museu do Índio, na paróquia do Divino Espírito Santo, peregrinos chineses rezarão em mandarim e cantonês. Longe dali, distante da Jornada Mundial da Juventude,os jovens guarani, abençoados por Nhanderu, cantarão seus cânticos sagrados tradicionais dentro da Opy, em suas aldeias.

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José Ribamar Bessa FreireDoutor em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003). É professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de mestrado e doutorado, e professor da UERJ, onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação. Ministra cursos de formação de professores indígenas em diferentes regiões do Brasil, assessorando a produção de material didático. Assina coluna no Diário do Amazonas  e mantém o blog Taqui Pra Ti . Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.


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Eduardo Campos diz que falou com Lula após protestos

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou neste sábado ter mantido conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias, após as recentes manifestações que tomaram o País.
Ele negou, porém, que as eleições de 2014 foram a pauta das conversas.
“Encontrar com o Lula não é notícia. O Lula é um amigo, um companheiro de partido. Ao longos dos últimos dias, tivemos vários contatos por telefone. Conversamos sobre esse momento do país”, afirmou Campos, em evento promovido pelo PSB no Rio de Janeiro.
Segundo o governador, a posição do PSB, definida antes das manifestações, é que as eleições de 2014 devem ser discutidas apenas em 2014.
Campos ainda afirmou que o PSB é a favor da realização de plebiscitos como um instrumento de garantir a maior participação popular nas decisões importantes da sociedade brasileira.
“O plebiscito é um instrumento que tem que ser mais utilizado na vida do País. É um instrumento presente na Constituição Federal e que só foi usado em duas oportunidades de 1988 para cá.”

[AA: Não se sabe se essa reunião foi secreta, tendo vazado apenas o exposto nesta nota]

Papa Francisco trocará 'papamóvel' por jipe em visita ao Rio



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To Secret...


Jornal: Lula e Dilma têm encontro 'secreto' em Brasília


·      Uma reunião “secreta” entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff teria ocorrido nesta terça-feira em Brasília, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo. O encontro, que foi negado de forma enfática por diversos interlocutores, acontece a dois dias da paralisação dos trabalhadores promovida por centrais sindicais de todo o País. De acordo com assessores, o último encontro oficial entre Dilma e Lula ocorreu no dia 18 de junho. Depois disso, o ex-presidente viajou para o exterior e só retornou na semana passada.
A expectativa de petistas era de que eles discutissem a queda de popularidade da presidente e a difícil relação com o Congresso. Interlocutores de Lula têm dito que o ex-presidente havia recomendado a Dilma mudanças no primeiro escalão do governo. A insatisfação com a gestão Dilma teria alimentado, nos bastidores do PT, a defesa da volta de Lula ao poder, mas essa hipótese foi descartada pelo Secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
(Clique no título para ler outras notas)
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Do nosso correspondente Hélder Câmara - Via...

Miguel do Rosário, O Cafezinho

‘Era previsível que a grande mídia procurasse, de todas as formas, diminuir as manifestações organizadas pelas centrais sindicais. Mas fizeram pior: houve um esforço deliberado para denegri-las.

Não é de hoje que a mídia brasileira se assume como um partido político fundamentalmente antisindical e antitrabalhista.

O rancor da mídia contra sindicatos e centrais sindicais é fácil de entender. Com todos os seus problemas, eles são a expressão da classe trabalhadora organizada e constituem o único meio pelo qual os mais pobres podem ascender a posições políticas importantes.

Nenhum pobre jamais ganhará uma eleição sem apoio sindical. O núcleo duro de todos os partidos de esquerda é formado por sindicatos, centrais e movimentos sociais organizados.

Nota-se ainda um esforço, maquiavelicamente calculado, para criar uma polarização entre as manifestações de junho e as de ontem, 11 de julho. As comparações numéricas foram sempre no sentido de aumentar as primeiras e diminuir as últimas.”

Matéria Completa, ::AQUI::
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Fernando Soares Campos



Bicho-papão, mateus de reisado e meganha eram os mais alucinantes personagens de minha infância. Essas medonhas figuras, folclóricas ou reais, me provocaram delirantes pesadelos. Mas, na pré-adolescência, final dos anos 1950, outros seres abomináveis passaram a ocupar meu terrificante imaginário. Foi quando assisti aos primeiros faroestes cujos enredos enfocavam a campanha do lendário General Custer contra os índios sioux. A partir de então, Cavalo Louco, o chefe sioux, e seus pavorosos selvagens invadiram minhas oníricas aventuras, ameaçando rasgar meu peito e rachar meu crânio com suas apavorantes machadinhas. Felizmente, na hora agá, sempre aparecia a Sétima Cavalaria, tendo à frente um bravo corneteiro executando o toque de avançar, e a tropa me salvava daquelas desalmadas criaturas.

Além dos sioux, também os navajos, comanches e apaches rastejaram pelo quintal de minha casa em madrugadas de lua cheia. Naquelas horas, os regougos de gatos e gatas no cio me provocavam incontroláveis tremores; pois, nos meus devaneios, eu acreditava que fossem os sinais para o ataque. Nem os alemães, japoneses e árabes juntos em uma só produção hollywoodiana dos anos 50 me apavoravam mais que índio norte-americano.

(Clique no título para ler crônica completa. Para navegar no Portal Maltanet, clique AQUI)

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Em Sampa...


Facebookada





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O Mundo com PressAA
El jefe de Estado venezolano aseguró que posee pruebas de que la oposición venezolana se asesora con Estados Unidos para atentar contra el Plan Patria Segura. También cuestionó “la envidia que siente la derecha fascista de que Venezuela sea presidenta del Mercado Común del Sur".

La Pupila Insomne


Simuladores en la historia de Cuba


Los interesados en la vuelta al pasado quieren imponer la moda de reivindicar algunas figuras tuvieron una funesta trayectoria en la Cuba anterior a 1959.
Algunos quieren hacer ver que Fulgencio Batista no sabía que en su gobierno – 1952-1958 – se estaba asesinando a mansalva a la juventud cubana, ni conocía de las vinculaciones de la mafia estadounidense con sus funcionarios; que Carlos Prío no estuvo involucrado con la droga, el robo y la deshonestidad presente en su mandato; o que el Doctor Ramón Grau San Martín era tan honrado que no tuvo responsabilidad con la vergonzosa y generalizada Sigue leyendo 
("Cuba, Cuba, Cuba, diz a lei americana que Fidel é comunista, mas não disse que Batista matou vinte mil cubanos" - Canção de ninar entoada pelas crianças em Sant'Ana do Ipanema, na Terra dos Marechais, logo após a triunfal vitória dos revolucionários)

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Não mate sua saudade, você pode precisar dela...




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 Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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  PressAA


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