A insustentável farsa
da rede de Marina ongueira
Fernando Soares Campos
Marina
Silva nunca teve intenção de fundar um novo partido. O mau exemplo de Heloísa
Helena com o PSOL é suficiente para mostrar a ela que se trata de um jogo
perigoso. Voltar para o Acre e se candidatar a vereadora, como HH em Alagoas,
seria muito humilhante, para ela e para seus atuais mentores. Aliás, lá ela está menos prestigiada do que em outras regiões. Essa “tentativa”
de registrar um partido não passou de pura encenação. Umas duas ou três semanas
na mídia está servindo para consolidar ainda mais a sua marca de vítima (“vítima do
PT”; livram a cara do PV, tentáculo da direita, no qual ela foi vítima de verdade,
deixou-se enredar por armações politiqueiras).
Muita
gente fica repetindo aquilo que a mídia empresarial fez a população acreditar: que ela
sofreu perseguição política nesse episódio de fundação da tal Rede
Sustentabilidade, ou que começou tarde demais para conseguir organizar,
angariar apoios e viabilizar o registro do “partido”. Balela! Tudo foi feito
exatamente com esse propósito, o de não dar certo. Ela não queria nem quer
fundar partido nenhum. Quer mesmo é jogar conforme mandam seus atuais mentores e
marqueteiros. Na verdade, seus donos. Ela deve saber que esses seus senhores até
poderiam permitir que ela chegasse ao trono, mas com o propósito de fazer como fizeram com
Collor de Mello, golpear, caso não atendesse as exigência do “consumidor”, ou
seja, de quem bancasse sua eleição ao Planalto. Marina sabe que é usada como
possível instrumento que possa interromper a ascensão das forças progressistas
em nosso país.
Tem
gente estúpida (pretensos esquerdistas ou progressistas) dizendo que Marina não é diferente de
político nenhum. Mas, ao afirmar isso, que ela é “igual a qualquer político”, o
sujeito pega apenas Lula como exemplo. Quer dizer, no momento em que ele diz “qualquer
político”, o leitor imagina os degradados, os desmascarados, ou a classe
política como uma categoria desclassificada. Porém, quando cita Lula como exemplo
na comparação de Marina com politiqueiros, quer apenas dizer que Lula é um canalha
como outro qualquer. O indivíduo sabe que Marina será, a partir daí, colocada
em escanteio, e o verdadeiro alvo de sua crítica passa a ser Lula. E tome
falação.
Lula
e Dilma não são perfeitos, como ninguém o é, mas são os atuais ícones da
competência político-administrativa, espelho para o Brasil e para o mundo. Moderados,
sim, reformadores com características de revolucionários. Isso é tudo de que
precisamos para a transição gradual de longos períodos de governos
subservientes para as verdadeiras conquistas no âmbito da justiça social. Dizer
que Marina é igual a qualquer político e não apontar exemplos de políticos
canalhas, apenas generalizar os políticos como canalhas e, em seguida, nominar apenas
Lula como um igual a Marina, fazendo assim com que Lula, o verdadeiro alvo do
idiota, seja, por tabela, equiparado aos cretinos, isso é de uma sutileza tal que
nem todo capacho da direita é capaz de ser tão ardiloso.
Em
relação aos verdadeiros canalhas corruptos, os sujeitos não apontam as
similitudes de Marina com eles. E, por não poderem
equiparar Marina a Lula diretamente, apenas comparam e até apontam “certas
diferenças”. Mas as diferenças de que eles falam são apenas de ordem
estratégica, no campo das ideias e propostas, que podem ser tomadas como
populismo, ou, pior, demagogia de ambos.
Eles
não falam do ser humano em si, das intenções nobres, da moral praticada e da
ética adotada, das diretrizes estabelecidas, da esperança alimentada em bases
realistas; nada disso, basta escrever umas baboseiras ao alcance dos seus pares
leitores, seu público cativo, pessoas que deles esperam apenas a confirmação do
que já imaginam e desejam, pessoas que esperam apenas massagens no ego, gente
que tem “medo do novo”. Ora, ninguém tem medo “do novo”, isso é balela. A gente
tem “medo” ou receio do velho com cara de novo, do recauchutado vendido como último
modelo. Até apreciamos maquiagens, achamos bonita a mulher maquiada, turbinada,
mas nos deslumbramos mesmo é quando vemos uma cabocla extremamente bonita ao
natural. E isso Marina deixou de ser há muito tempo. Ela não soube amadurecer
politicamente, deixou-se enganar e agora quer ser uma enganadora, o oprimido
que quer ser opressor. Mas os mestres em enganação, maquiavélicos autênticos, se
divertem com ela, que trocou a sabedoria pela esperteza e perdeu a noção da própria esperteza, de tal forma que não se lembra que “malandro demais se atrapalha”.
Marina e tantos outros que se deixaram levar pela mídia empresarial, em que tudo
não passa de produto a ser consumido, terá sempre momentos de falso brilho,
seguidos de longos períodos trevosos, sobrevivendo à base de antidepressivos; “naturais”,
claro!
Rede Sustentabilidade -
um partido político ou uma ONG politiqueira?
No
plano político-partidário, podemos sim admitir que Marina Silva prefira que seu
“partido” seja assimilado pelo eleitorado como sendo uma ONG. Isso por um
motivo fundamental: porque, em nosso País, o exercício das atividades
essencialmente políticas vem sendo deliberadamente desmoralizado por políticos que
estão há muito tempo desacreditados, desmascarados, gente que, quando já não
consegue sustentar a canastrona representação do papel de vestal, tenta fazer a população enxergar qualquer político como um
político qualquer, e uma instituição como o Congresso Nacional passa a ser
vista como o “antro” em que todos os
políticos estariam comungando com as mesmas más intenções e credos profanos. Até
“confraternizando-se” pela absolvição de corruptos. Apesar de ainda sustentarem
a farsa de que são “menos piores”, querem que acreditemos que “todos são
igualmente canalhas” e até vão além disso: tentam fazer os infelizes eleitores crerem
que a canalhice é um instrumento “natural”, do tipo “os fins justificam os
meios”.
Também,
apesar de Marina Silva ter saído de um dos raros partidos políticos brasileiros
que podem ser classificados como agremiação essencialmente político-partidária,
o Partido dos Trabalhadores, este é apresentado insistentemente pela mídia como
o partido dos “mensaleiros”. Quer dizer, para onde ela for, estará se unindo a
gente supostamente “idônea”.
Desde
que deixou o PT, Marina está sendo usada para tirar votos dos progressistas, dos
petistas, lulistas-dilmistas e aliados. Aproveitam-se do seu rancor, alimentam suas
mágoas e sua inveja. Invertem o sentido de ingratidão: ingratos seriam os
petistas, que não teriam reconhecido a contribuição dela para com o PT, dizem
ser uma contribuição ainda mais importante do que a dos fundadores do partido.
Assim, ela é quem se passa por vítima, quando as verdadeiras vítimas são
aqueles que acreditaram nela, que votaram nela, que a elegeram da vereança ao
senado, por ela ter-se engajado às propostas e programas do PT. Marina se vale
de determinadas atitudes governamentais, projetos que necessitam de empenho político-administrativos
e que não puderam ser implementados ou que o foram contrariando alguma proposta
inicial da agremiação. Ela sabe as razões de essas coisas terem acontecido
dessa maneira, ela sabe das dificuldades que é governar uma nação de múltiplas
nações, mas o despeito, a inveja, o rancor, o ódio mesmo, por ela não ter sido atendida
no seu projeto pessoal (ser candidata à Presidência da República pelo PT) turvam
e dissimilam sua consciência. E Marina ainda é capaz de dizer que luta contra as
forças demoníacas. Não percebe, ou finge não perceber, que está a serviço delas.
Certamente, e principalmente depois da
internet, não dá mais para vender um Collor de saias, um caçador de corruptos
endinheirados. Agora é preciso fazer de Marina uma impoluta defensora dos direitos
humanos, via ambientalismo ongueiro, socialismo liberal, moral seletiva sob a
regência Divina, eterno futurismo; linguajar culto, mas facilmente compreendido
por semialfabetizados, de forma que possa facilitar a “trabalho sujo” dos
fazedores de opinião, e estes possam fazer a cabeça das madames, das suas crias
mimadas, de jovens alienados e dos capitães-do-mato, que, por sua vez, sem o
poder de fogo de sindicalistas, tentarão influenciar porteiros, empregadas
domésticas, encanadores, faxineiros, eletricistas, pipoqueiros, seguranças,
vigias, jornaleiros, balconistas, caixas de supermercado, ambulantes,
vendedores, garçons, cartomantes, passadores do jogo do bicho e tantos outros trabalhadores
autônomos de baixa renda. Enfim, é preciso que se ponha em prática um pragmatismo
o mais abrangente possível. Pra isso basta uma Marina Arrelique, não
propriamente uma panaceia, uma salvadora da pátria, mas tão somente um
arrelique, mesmo assim um arrelique eleitoral, um purgantezinho que provoque catarse
na parcela idiotizada da classe média, que não é uma fatia insignificante, é
bastante considerável, já foi utilizada muitas vezes com sucesso. É gente que “vive
o momento”, para quem o futuro é construído com uns minguados caraminguás na caderneta de
poupança, pessoas apegadas a ninharias, mas sonhando com uma tal mobilidade
social que venha a lhe garantir acesso à ostentação, ao fausto. É gente individualista, egoísta, invejosa,
despeitada, idiossincraticamente instável, medrosa com ares de valentia. São indivíduos
confusos, de mentalidade caótica, desconexa; sujeitos complexados, complexos
oscilantes (ora de superioridade, ora de inferioridade). Não são propriamente dicotômicos,
pois nunca enxergam sequer as interfaces das realidades, menos ainda as nuances;
são, em geral, maniqueístas: Deus é Deus e Nicuri é o diabo!
Saltar
de galho em galho, como as raposas, os ratos e as serpentes politiqueiras fazem
há muitos anos, mudando de partido como quem troca de cueca, isso Marina não
queria, ou, pelo menos, não quer que a encarem como uma desesperada que se
agarra a qualquer boia salva-vidas que lhe jogarem; pois, em relativamente
curto espaço de tempo, ela apanhou o
suficiente para entender que essa prática só “beneficia” a ralé periférica das
instituições políticas, o “baixo clero”. E Marina, uma galinha que já experimentou
voos de águia (de vereadora em Rio Branco a senadora da República e ministra
cortejada por entidades de todo o mundo, teve até mesmo um bom desempenho eleitoral
para presidente da República), hoje não passa de uma “urubua” metida a condor,
ou, na verdade, uma condottiere, uma
aventureira de meia tigela, que torce para que toda a imbecilidade que vem
fazendo dê certo. Marina quer fazer barba, cabelo e bigode, mas, pelo andar da
carruagem, vai fazer apenas os pentelhos da classe média se ouriçarem um pouco
mais. Marina está destinada a ser a meia-bomba de eleitores incautos e dos
assumidamente imbecilizados.
Depois
da farsa espetacular que foi o registro da tal Rede Sustentabilidade, acaba de
se filiar ao PSB, na facção de Eduardo Campos.
Marina
não quer ser um Collor de saias nem uma Heloísa Helena domada. Eduardo Campos
não quer ser um Roberto Freire cão de guarda nem um Collor recauchutado,
fotocópia da fotocópia mal tirada. Mas uma coisa é não querer ser, outra e ser
sem querer querendo.
Marina
Silva e Eduardo Campos juntos a partir de agora representam um pacto da Mulher
Gato com Batman, a fim de derrotarem a Mulher Maravilha. O Coringa nunca se
divertiu tanto.
Leia também...
Meu nome é Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima. Me diga mesmo: num parece nome de quem nasceu em berço de ouro?! Pois é, mas num foi, não! Eu nasci numa colocação chamada Breu Velho, no seringal Bagaço, lá no Acre. Hoje eu tenho orgulho de dizer que nasci e me criei junto a essa minha gente sofrida. Mas nem sempre foi assim, nem sempre tive esse orgulho todo...
Quando eu tinha 15 anos, vivia triste, acabrunhada. Ainda nem sabia ler. As revistas que chegavam por lá eram algumas fotonovelas, como Capricho, Destino e outras bem antigas, que o homem do barracão comprava os fardos em Rio Branco e usava para embrulhar mercadoria. Antes ele emprestava pra gente. Eu apreciava as fotos e sempre aparecia alguém para ler a novela. Cheguei a pensar em ser freira. Seria melhor viver num convento do que naquele fim de mundo. Foi então que adoeci. Todo mundo pensou que fosse malária, mas num era, não! Era hepatite. Aí me levaram para a capital. Lá em Rio Branco, o bispo se compadeceu de mim e me acolheu na casa das irmãs Servas de Maria. Entrei pro Mobral e aprendi a ler e escrever. Num gosto nem de dizer que fui beneficiada pelo programa de alfabetização da ditadura militar, mas... fazer o quê?! Infelizmente essa é a verdade. Mas eu posso dizer que fui vítima da ditadura, basta ver a vida que eu levava naquele tempo!
Fui levada à atividade política e social pela Igreja Católica, mas descobri que no movimento evangélico-protestante eu teria mais chances de me projetar. Basta ver que os neopentecostais cresceram muito, as bancadas deles nas assembleias legislativas e no Congresso são muito fortes. Bom, mas com a ajuda da Igreja Católica eu aprendi a ler, escrever e acabei me formando. Na minha página da Wikipédia o pessoal resolveu deixar apenas minhas relações com a Igreja Católica, nada de evangélicos, pois isso é coisa de minha vida privada, e ninguém tem nada com isso. Ah, o pessoal também omite o nome do PT quando fala de minhas eleições; deixa apenas a sigla PT quando se refere à eleição que perdi. Mas isso é coisa desses meninos metidos a marqueteiros. Bom, de qualquer forma, isso está sendo esclarecido aqui na Wikiphedia.
(Para ler completo, clique no título)
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Publicado em 05/10/2013
CONFIRMADO: BLÁBLÁRINA SE FILIA AO PSB
“A turma do dinheiro estava decidida a manter Marina no páreo de qualquer jeito, e não aceitavam a derrota”
Saiu no Tijolaço:
CONFIRMADO: MARINA SILVA SE FILIA AO PSB
A notícia acaba de ser anunciada pela CBN, e já circula rapidamente pelas redes sociais. Marina Silva se filiou ao PSB de Eduardo Campos. As circunstâncias ainda são meio confusas, mas tudo indica que Eduardo Campos sacou uma solução brilhante da cartola: inventou uma tal de “coligação democrática” e “reconhecerá a existência política da Rede”.
Apesar de surpreendente, não deixa de ser uma solução quase racional. Marina tem poderosos apoiadores financeiros, que fizeram pesada pressão nas últimas horas. O Estadão sequer hesitou em dar nome aos bois: Natura e Itaú. Mencionou-se ainda articulação do próprio Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo.
A turma do dinheiro estava decidida a manter Marina no páreo de qualquer jeito, e não aceitavam a derrota. A sua presença é fundamental para levar a eleição para o segundo turno.
A notícia ainda precisa ser confirmada, naturalmente, por uma declaração da própria Marina Silva.
Atualização: Notícia confirmada pela Folha.
Por: Miguel do Rosário
Clique aqui para ler “Bláblárina é um salto no escuro”
Algumas verdades sobre Marina Silva
Ainda curando as feridas da rejeição do registro da Rede Sustentabilidade, o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos principais articuladores da frustrada legenda - juntamente com o tucano Walter Feldman e a "banqueira" Maria Alice Setubal, uma das herdeiras do Itaú - decidiu falar algumas duras verdades sobre a midiática Marina Silva. Em seu blog, ele cometeu o que chamou de "sincericídio". Após chiar contra a "hipocrisia cartorial" do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele não vacilou em criticar os próprios erros da ex-senadora.
"Para mim não foi surpresa alguma [a decisão do tribunal], nunca foi uma questão de fé - Deus não joga nesta liga - mas de lucidez e conhecimento baseado na experiência pregressa. Eu tinha certeza absoluta que se não tivéssemos uma a uma as assinaturas certificadas, carimbadas, validadas pela repartição cartórios de zonas eleitorais íamos levar bomba... Mas não ter entendido que o jogo seria assim e ter se precavido a tempo e horas foi uma das muitas auto complacências resultantes de uma mística de auto ilusão. Para ser direto em bom carioquês: 'demos mole'", confessa o líder "sonhático".
Para ele, a principal culpada por este erro foi a própria heroína da Rede. "Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma causa da qual compartilhamos e certamente a pessoa no país que melhor projeta o discurso da sustentabilidade, da ética e da justiça socioambiental. Possui, no entanto, limitações, como todos nós. As vezes falha como operadora política comete equívocos de avaliação estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais".
Incisivo, ele ainda afirma que Marina Silva "reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares. Tem certas características dos lideres populistas embora deles se distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm. Não tenho mais idade nem paciência para fazer parte de séquitos incondicionais e discordei bastante de diversos movimentos que foram operados desde 2010. A saída do PV foi precipitada por uma tragédia de erros de parte a parte. Agora, ironicamente, ficamos a mercê de algum outro partido, possivelmente ainda pior do que o PV".
Apesar das críticas, Alfredo Sirkis afirma que "ficarei com Marina como candidata presidencial porque ela é a nossa voz para milhões de brasileiros mas não esperem de mim a renúncia à lucidez e uma adesão mística incondicional, acrítica". Ou seja, após revelar alguns dos graves defeitos da ex-senadora - autoritária, avessa às críticas e inábil -, o deputado federal insinua que ela será candidata em 2014, deixando de lada a retórica sobre o "novo na política". A conferir!
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A BORBOLETA VIROU LAGARTA?
O tabuleiro mexeu: Campos e Marina estarão juntos em 2014. Nasce a 'quarta via', o socialismo econeoliberal."Para destruir o chavismo do PT", diz a suave senadora que deixou o PT em 2009, 'para ser coerente com a luta 'pelo desenvolvimento sustentável'. Marina decidiu. E comunicou a seus pares em caráter irrevogável: será a vice de Eduardo Campos, que ganha assim um discurso palatável à classe média, ele que antes só falava à Fiesp e à Febraban. Marina perde a Rede, mas sobretudo, a aura de maria imaculada e ganha a companhia dos Bornhausen, os afáveis banqueiros de Santa Catarina, que terão o comando do PSB no Estado e voz ativa na esfera nacional. Os Demos também querem 'destruir o chavismo do PT' e tem precedência na fila. É natural que ocupem espaços. Parece não incomoda-la: Marina é obstinada. Tudo pela causa. A sua passa a ser a mesma de Campos, Aécio, Serra, Freire e a da plutocracia em busca de uma 'terceira via' para capturar o Estado novamente. Todos contra Dilma. Funciona?Dúvidas: quanto vai durar o casamento entre o personalismo anêmico de votos de Campos e a pureza armada de Marina? Como evitar que a identidade de propósitos da frente anti-petista apenas pulverize os votos dos já convertidos? Marina Silva prometeu neste sábado 'sepultar de vez a velha República'. São palavras fortes. Mas o que cogitaria como nova República um Heráclito Fortes, por exemplo, outro demo recém convertido ao socialismo complacente do PSB? Como diz Zizek, passada a fase alegre dos consensos, será preciso ir além, sem se transformar em um desastre.
Marina Silva cai na rede do PSB
O Espírito de 1945 hoje
Por que Ken Loach fez este filme? Os jornalistas que cobriram o Festival de Cannes – onde ele foi premiado seis vezes; duas com a Palma de Ouro -, em maio passado, perguntavam. Ele respondeu ao jornal La Repubblica de Roma: “Porque a sociedade hoje não funciona; é um caos. E para que as pessoas pensem no que pode ser feito, outra vez, na promoção do bem-estar social. Meu filme é para lembrar o que foi conseguido no passado.” Por Léa Maria Aarão Reis.
Léa Maria Aarão Reis
Sua idade e sua origem são duas chaves para entender a coerência e a profunda humanidade presentes na filmografia desse cineasta socialista, um dos grandes mestres do cinema. Sua realidade vem contida nos perfis afetuosos da classe operária inglesa e das suas lutas, na memória da experiência da guerra vivida na própria carne e nos difíceis anos do pós-guerra imediato, na Inglaterra. “Venho de um meio operário,” costuma dizer Loach. “É o mundo que conheço e que me interessa retratar.”
O seu mais recente longa-metragem, O Espírito de 45, exibido no Festival do Rio, é mais um documentário do alentado pacote de 148 documentários apresentados, este ano, entre as 380 produções da mostra.
O filme é objeto de comemoração especial. Marca o retorno do mestre inglês ao gênero do filme doc do qual se afastara há décadas e no qual é inigualável. Apresenta emocionantes imagens de época, pérolas históricas, que Loach e sua equipe garimparam em diversos depósitos esquecidos, no Reino Unido. Documentos tratados com tal apuro técnico que se assemelham a imagens produzidas hoje. Um deles mostra Churchill discursando na praça, em campanha para Primeiro Ministro pelos conservadores (acabou derrotado pelos trabalhistas) e, surpreso e constrangido, sendo vaiado. Imagem rara. “Com a vitória socialista começa uma época triunfante”, diz uma mulher em entrevista. “Na educação, por exemplo, as escolas formavam cidadãos porque as crianças aprendiam a pensar por elas próprias.” Naquele tempo, depõe outro homem, “tínhamos o controle sobre nossas vidas.”
A miséria extrema da população nos meses subsequentes ao armistício, o estado falido e exaurido pelo esforço de guerra, o desemprego, a fome, crianças andrajosas brincando nas ruas, e tocantes entrevistas com trabalhadores, homens e mulheres hoje idosos, mineiros, estivadores, ferroviários, enfermeiras, médicos e professores todos se lembram da época de agonia.
A montagem de cenas e sequências capta com vivacidade (uma das marcas do cinema de Loach) e intenso realismo a atmosfera de 1945 quando centenas de milhares de pessoas viviam em favelas. “Às vezes”, comenta um velho, “eu e mais oito crianças, meninos e meninas, dormíamos na mesma cama convivendo com pulgas, percevejos e ratos. A comida ainda era racionada e comia-se pão e geléia dias a fio.”
A narrativa do filme começa com uma imagem ícone da época, a jovem radiante nas festas populares da vitória, em Piccaddily. Em seguida, a energia e o entusiasmo das pessoas construindo o estado de Bem-Estar Social britânico e a consciência de união e solidariedade que tomaram conta do Reino Unido - o espírito de 1945. Uma nova Londres é construída, com moradias dignas para os trabalhadores. Casas com banheiros também no andar térreo (antes, só no andar superior) e um pequeno quintal, o tão caro backyard dos ingleses.
A partir de então se seguem as nacionalizações. Keynes participa do governo como conselheiro informal. Em 1946 o Ministro da Saúde Anerin Bevan cria um Serviço Nacional de Saúde, o célebre NHS (National Health Service). Parte do princípio que é inadmissível o elemento comercial interferir na relação entre médico e paciente. “Meu avô“, diz uma mulher, “só começou a usar óculos aos 70 anos, com a criação do NHS. Antes, sem dinheiro, lia usando um pedaço de vidro de fundo de garrafa à maneira de lupa.” Outro trabalhador aposentado comenta com orgulho: “Eu ficaria envergonhado de ser cidadão de um país tão rico como os Estados Unidos, sem um sistema de saúde semelhante ao nosso.”
O filme vai seguindo passo a passo os anos seguintes. Em 1947, nacionalização das minas. Os mineiros passam a trabalhar em condições seguras. Dos portos - até 47 os estivadores não contavam com salário fixo. Um ano depois chega a vez das ferrovias, outro acontecimento histórico. Em 1949 o gás é nacionalizado e, em 1951, o ápice do estado de Bem-Estar Social é celebrado com o Festival da Inglaterra.
No terço final do filme, Loach apresenta o desastre tatcheriano dos anos 70. Uma única imagem marca a aparição da Primeira Ministra em um dos seus primeiros discursos em praça pública no qual invoca São Francisco de Assis (!). É vaiada.
Começa o desmonte do estado de Bem-Estar Social e das suas estruturas. Redução dos salários, demissões em massa, o enfraquecimento dos sindicatos e a repressão policial. Em 1984 a água é privatizada, em 86 o gás, em 87 a aviação comercial e em 88 as grandes manifestações de rua são reprimidas violentamente pela polícia de ferro. Em 1989 é a vez das docas e a volta do trabalho informal dos estivadores. No mesmo ano a eletricidade é privatizada, em 94 é a vez dos portos. Um milhão de jovens ingleses engrossava, então, as fileiras dos desempregados. Em 2011 foi a vez dos correios. As imagens são desalentadoras.
Vemos empresas terceirizadas contratadas, hoje, para atuar no serviço público, em especial nos hospitais. ”Não há mais nenhum país para os pobres”, diz uma idosa para a câmera de Loach. “E estaremos acabados se o governo conseguir terminar com o Serviço Nacional de Saúde.” Será a última fronteira.
Por que Kenneth Loach fez este filme? Os jornalistas que cobriram o Festival de Cannes – onde ele foi premiado seis vezes; duas com a Palma de Ouro -, em maio passado, perguntavam. Ele respondeu ao jornal La Repubblica de Roma: “Porque a sociedade hoje não funciona; é um caos. E para que as pessoas pensem no que pode ser feito, outra vez, na promoção do bem-estar social. Meu filme é para lembrar o que foi conseguido no passado.” E aproveitou para lamentar: “Não há mais esquerda na Europa. Ela se desmanchou na social-democracia e foi devastada pelas divisões internas.”
O Espírito de 45 é um filme esférico. Depois das sequencias otimistas com imagens das festas do Labour Party, nas ruas, tratadas em tecnicolor, ele volta à mesma imagem do início. A moça de Piccadilly no meio de uma multidão exultante e a trilha musical insinuando o que pode ser transformado, novamente, hoje. É uma daquelas músicas das bandas dançantes de época pinçadas por George Fenton, compositor e colaborador de Loach em onze filmes do mestre.
Mas uma ponta de tristeza vem do trompete de Harry James.
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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