domingo, 6 de outubro de 2013

Rosa Pena: O sonho que não há --- Telenovela: Ficção que agride a realidade --- Nossa opinião sobre o Pé na Cova --- Giap, o homem que humilhou dois Impérios

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O sonho que nem há


Rosa Pena

Cismo que existiremos no futuro do presente, troquei o peso do meu corpo, pelo de minha alma. Não preciso mais me rastejar de salto alto atrás do que mais quero: Você! Bato as asas que criei com minha leveza para revoar sobre seus ombros. Penso em colocar um colar de pedras em seu peito para que você não fuja, mas acabo por fazer uma gargantilha de ânsias e coloco em mim. 

Será que é necessário que nos percamos definitivamente para que o pânico cítrico do "acabou de vez" nos assalte? 

Perdemos nossos sonhos em algum bar pé sujo, mas não perdemos a vontade de estarmos um no outro num café limpíssimo...
Ou muito me engano?

Precisamos refazer o caminho de mentes descalças, orar para que voltem para nós as borboletas verdes, que fujam para Netuno os grilos sem cor e mais que tudo, 
urge acharmos nossas bocas uma dentro da outra. 

Abro o coração palpitante e espero seu lance. Um dardo mortal ou uma pétala que alisa.

Imploro: aquiete-o de vez.
 
 
Som: Buena Vista Social Club - Compay Segundo - Orgullecida

Rosa Pena, escritora carioca, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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Ficção que agride a realidade

14.09.2013
Ficção que agride a realidade. 18869.jpeg
Amor à Vida, o folhetim que a TV Globo exibe todas as noites em horário nobre, é uma afronta aos brasileiros. Um médico rico, adúltero, renega o filho gay, é pai biológico do próprio neto (do qual o filho gay, casado com uma ex-prostituta contratada pelo pai, acredita ser o genitor). Até a semana passada, o protagonista milionário idolatrava a filha.
Orlando Pontes
Médica como ele, mas fruto de uma relação do ricaço fora do casamento, a moça acabou enredada num crime que não cometeu. Mas o pai, mais sujo do que poleiro de pato, por influência do filho gay - que só pensa na herança do pai que ainda não morreu - apóia a internação da própria filha num manicômio para tratar de uma dependência química da qual ela não sofre, e que ele. Ocupado com suas amantes, não teve tempo de investigar.
Tudo isso se passa apenas numa das famílias do núcleo principal da novela. Mas existe outro casal gay onde a traição impera. Dispostos a "engravidar", os dois rapazes contratam uma médica para servir de barriga de aluguel. A doutora "seduz" um dos moços, e acaba engravidando dele pelo "método convencional".
Noutro núcleo, uma mãe, ex-bailarina de programa de TV, sonha em ficar rica usando a filha como isca para fisgar milionários. Vive orientando-a a dar o golpe da barriga. A pobre, no entanto, se apaixona por um vizinho, tão despreparado quanto ela, de quem engravida. De quebra, ele é desempregado.
O pai do desafortunado não poupa adjetivos como "corno" ou "piriguete" para chamar o filho e a moçoila por quem este se derrete e aceita passar por todo tipo de humilhação - inclusive vê-la se jogando nos braços de qualquer um que aparente ter muito dinheiro. Ainda assim, ela vive repetindo que é "difícil, dificílima!", ou "inteligência pura".
Esses são apenas alguns dos "ensinamentos" que a novela global transmite para milhões de famílias, repito, em horário nobre. Embora travestida de ficção, a trama das nove, na verdade, segue o padrão Globo de mostrar a sociedade e a cultura brasileiras ao mundo - lembremo-nos de que as novelas da emissora são vendidas para dezenas de países da África e da América Latina.
Isto é uma afronta, repito mais uma vez. Evidentemente, o povo brasileiro não precisa ser homofóbico (e não é!). Nossas famílias não devem ser, obrigatoriamente, poços de virtudes (e não são!). Nossa gente não tem obrigação de ser a mais inteligente do mundo (e não é mesmo!).
Entretanto, também não temos gays em todas as casas, nem pais prejudicando filhos ou irmãos trapaceando contra irmãos em todas as famílias, ou gente de pouco estudo se prostituindo ou vendendo os filhos em troca de uma fácil ascensão social.
Este, com certeza, não é o perfil médio dos brasileiros. Porém, se não for imposto algum tipo de controle sobre a programação de nossas emissoras de TV, em especial a líder de audiência, um dia será. Lamentavelmente.

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No blog da redecastorphoto...


1/10/2013[*] Pepe EscobarAsia Times Online –The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jamais subestime o Soft Power [poder suave] norte-americano.

E se o governo dos EUA estiver paralisado em sinal de luto pela morte do seriado Breaking Bad[1] pode-se dizer o mais impressionante seriado da história da televisão? Seria legítima justiça poética – porque Breaking Bad é infinitamente mais pertinente, no que tenha a ver com a psique norte-americana, que o “pico” barato, previsível, na colina do Capitólio.

Walter White, codinome Heisenberg, bem pode ter-se tornado o último, radical, absoluto herói da era Google/YouTube/Facebook. Num arco de tragédia que se estendeu por cinco temporadas, Breaking Bad fez a crônica do que tem de acontecer para que um homem aceite quem realmente é, mesmo que, no processo, acabe pagando o preço insuportável de perder tudo que ama e que ele assume como seu único tesouro: o amor da mulher e do filho.

Simultaneamente, Breaking Bad foi também um estudo entomológico do turbocapitalismo norte-americano – com os 1% que tudo-têm mostrados ou como gângsteres ou como farsa, e os que quase-têm ou nada-têm mal conseguindo sobreviver, como os professores de escolas públicas degradados, cidadãos de segunda classe.

No início de Breaking Bad, em 2008, Walter White estava morrendo de câncer. Progressivamente, ele foi-se livrando de Mr. Hyde – um plácido professor de química – em favor do Dr. Jekyll, codinome Heisenberg, barão sem concorrentes da produção de cristal de metanfetamina. Não é um pacto faustiano. É uma descida rumo à noite escura da própria alma. No final, até “ganha”, pelos seus próprios termos, e morre com um sorriso de beatitude.

Seu segredo é que nunca se tratou apenas de curtir um “barato” transgressor, de produzir o mais puro cristal de metanfetamina. Sempre se tratou do ato máximo do Marginal, do Outsider, como num romance de Dostoevsky ou de Camus: um homem que confronta seus medos, ultrapassa o umbral, assume pleno controle da própria vida e, afinal, encara as consequências, sem fazer meia volta.

E, como tudo em Breaking Bad, a música contou parte crucial da história. Nesse caso, nada menos que o encerramento ao som de My Baby Blue,de Badfinger, a mais sombria das canções de amor:

Guess I got what I deserve [Acho que tive o que mereço]
Kept you waiting there, too long my Love [Deixar você esperando lá, tempo demais, meu amor]
All that time, without a Word [Todo aquele tempo, sem uma palavra]
Didn’t know you’d think, that I’d forget, or I’d regret [Não sabia que você pensaria que eu esquecera, ou que estava arrependido]
The special love I have for you/ [Do amor especial que tenho por você]
My baby blue.


E assim vai – e Walter White finalmente admite, o que faz todo o sentido, no último episódio – que fez tudo o que fez, à moda My Way de Sinatra, não pela família, mas por ele mesmo. E aí está o mais puro cristal de metanfetamina como reflexo da mais pura revelação nesse mais puro dos seriados de televisão, abençoado por roteiro e redação sem iguais (sente-se a excitação, palpável, o entusiasmo dos redatores), direção, elenco, cinematografia de primeira, citando tudo, de Scarface  [2] a Taxi Driver via O Poderoso Chefão, com meticuloso desenvolvimento dos personagens e sensacionais viradas de enredo e roteiro.

Mas, outra vez, a espectral My Baby Blue não trata só de cristal de metanfetamina – como a Crystal Blue Persuasion de Tommy James e Shondells,usada numa espetacular montagem na 4ª temporada. Áudio a seguir: www.youtube.com/embed/XDl8ZPm3GrU

Trata-se de Jesse Pinkman, o jovem sócio usado e abusado de Walter White; Jesse é o baby, sempre a evocar o “amor especial” de Walt sob a forma de sentimentos paternos sempre espetacularmente malfadados.

“Estou no negócio do Império”

Walt/Heisenberg é um cientista. Seu gênio científico foi expropriado por sócios inescrupulosos no passado, que enriqueceram numa empresa de tecnologia. Como Heisenberg, finalmente o gênio científico mecânico chegou à plena fruição – de uma cadeira-de-rodas-bomba a um raid feito com ímãs e até um remix do Assalto ao Trem Pagador em 1963 na Grã-Bretanha, para nem falar da metanfetamina produzida à perfeição.
Nessa coluna da Time, um dos redatores fala da cozinha de Breaking Bad. Mas nem assim se explica por que Walter White tocou tão firmemente no nervo e tornou-se fenômeno pop global, de Albuquerque a Abu Dhabi.

Dizer que é uma narrativa clássica do “azarão” explica também só uma parte da história. No forno lento de cinco temporadas, o que se cristalizou foi Walter White como homem comum em luta contra O Establishment – que inclui todos: de criminosos dementes (um cartel mexicano de drogas, neonazistas descerebrados) a advogados abutres (Better Call Saul” [Melhor chamar o Saul]); trapacear contra ex-sócios e, por fim, mas não menos importante, o governo dos EUA (via a Agência Antidrogas [Drug Enforcement AgencyDEA]).

O nihilismo – de um tipo sub-nietzscheano – também só explica parte da história. Pode-se sentir a alegria dos redatores de Breaking Bad cada vez de detonam o conceito judeu-cristão de culpa. Mas isso nada tem a ver com um mundo sem qualquer código moral.

Basta uma olhada ao O ramo de ouro [3] de James Frazer (1905), para perceber como Walter White, em sua mente, anseia por uma sociedade tribal baseada na família. Estará, então, rejeitando o Iluminismo?

Vamos-nos aproximando mais, quando vemos Breaking Bad como uma meditação sobre o mito do Sonho Americano – hoje já extrapolado para “o excepcionalismo norte-americano”. Como o personagem Walter White admite para Jesse, ele está “no negócio do Império”. Assista cena logo abaixo: www.youtube.com/embed/DslPaayoB30

Na vida real, Walter White poderia ter sido o cérebro do complexo orwelliano-Panóptico.

Assim, com My Baby Blue soando na cabeça, acabei por encontrar minha resposta num livro que sempre levo comigo quando estou na estrada nos EUA: Studies in Classic American Literature, de D H Lawrence. [4]  Não por acaso, Lawrence foi amante apaixonado do Novo México – cenário no qual se desenrola a geopolítica de Breaking Bad. E Walter White está bem aqui, quando Lawrence disseca o [livro] The Deerslayer (or The First Warpath) [1841] [O matador de veados (ou o primeiro caminho da guerra)],  de James Fenimore Cooper.

Walter White, outra vez, incorpora “o mito da América branca essencial. Todo o resto, o amor, a democracia, o protesto contra a luxúria, é uma espécie de preliminar. A alma americana essencial é dura, isolada, estoica, e matadora. Nunca, ainda, derreteu”.

Quando Walter White converte-se em Heisenberg, metamorfoseia-se no Matador de Veados:

Um homem que dá às costas à sociedade branca. Que mantém dura e intacta a própria integridade moral. Homem isolado, quase indiferente, estoico, resistente, que vive pela morte, da matança, mas que é branco puro.
Isso é o mais intrínseco, o mais americano. Está no núcleo de todo o resto do fluxo e refluxo. E quando esse homem divide-se, quebra seu isolamento estático, e faz movimento novo, cuidado, alguma coisa acontecerá.

O gênio da sala de redação de Breaking Bad – com o criador Vince Gilligan ao centro – foi mostrar a descida de Walter White rumo ao vórtice como descida primeva, como intrinsecamente a “mais americana”. Não surpreende que Gilligan defina Breaking Bad como essencialmente “um western”. Clint Eastwood gosta de dizer que o western e o jazz são as únicas verdadeiras artes norte-americanas (ora, esquece o film noir e o blues, o rock’n roll, o soul e o funk, mas, sim, se aproveita a ideia geral).

Portanto, se pode dizer de Breaking Bad, esse western empenado, que é pintura, pintada com mão de mestre, do excepcionalismo norte-americano. E o faz vez na batida menor de uma potência solitária, moribunda, mas ainda capaz de viciar a população do planeta, até torná-la morbidamente dependente do espetáculo cinematograficamente suntuoso do descarte da ex-potência.




Notas dos tradutores

[1] Referência ao seriado Breaking Bad, exibido no Brasil pelo canal AXN, aos domingos, às 20h. No Urban Dictionary, a acepção mais votada para breaking bad, aqui traduzida, hoje é, e vem da gíria do sudoeste dos EUA, significando “quebrar convenções, desafiar a autoridade e transgredir a lei”. A segunda opção mais votada hoje é: “Pirar, enlouquecer, pisar na jaca, esquecer toda a prudência e simplesmente não dar merd* de porr* nenhuma de atenção a coisa alguma, sair do modelão”. Pode-se também assistir à série. Em Portugal, a série foi apresentada sob o título traduzido de “Ruptura Total”. No Brasil, aceita-se que a expressão breaking bad signifique que o que já era ruim, piorou muito. Pode-se dizer, tentativamente, que equivalha a “sujou”, “pintou sujeira”, “dançamos”, “a gente se ferrou” [Nota (esforçada) dos Tradutores. Todas as correções e comentários são bem-vindos.]

[2] Há dois filmes: Scarface, vergonha de uma nação, Howard Hawks, 1932 e Scarface, Brian de Palma, 1983 e ambos são citados no seriado .

[3] Orig. The Golden BoughO Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: LTC, 1982. ISBN 85-245-0041-7 (edição resumida).

[4] LAWRENCE, D.H., Estudos sobre a Literatura Clássica Americana [1923], 1a. edição em port., 2012, Rio de Janeiro: Zahar.
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, EUA, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista e correspondente das redes Russia TodayThe Real News Network Televison Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu, no blog redecastorphoto.
Livros
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Miguel Falabella diz que série ‘Pé na cova’ será melhor compreendida no futuro

  • Segundo autor, programa que se prepara para a segunda temporada, traça um retrato fiel do país

Natalia Castro 
Publicado: 


RIO - Com audiência em torno dos 14 pontos, “Pé na cova” vem colecionando críticas positivas. Mas, para o autor, Miguel Falabella, o programa só será melhor compreendido no futuro.

— É um programa diferenciado, que vai ser entendido daqui a uns anos. Tenho certeza disso. Mas não fiquei surpreso com o sucesso porque ele tem vários níveis de espectador de várias classes sociais. Cada uma enxerga de uma maneira. E os invisíveis, que são a maioria desse país, se veem ali.

Segundo Miguel, a grande vantagem do programa — sobre uma família às voltas com a administração de uma funerária — é fazer um retrato fiel do país.

— Essa grande massa não sabe nada, coitadinhos. Não entendem nada, são de um ignorância profunda. É só você entrar na internet e ver como as pessoas escrevem. Você fala: ‘Meu Deus do céu, o que é isso’ — choca-se.

No ar novamente como o arrogante Caco Antibes, em episódios especiais do “Sai de baixo”, Miguel diz que a segunda temporada de “Pé na cova” “tem que ser melhor que a primeira”. Os novos episódios começam a ser gravados no início de agosto.


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Tempos difíceis para os EUA! Quando a maré vira, VIRA!

(muuuito engraçado)

Hoje (19/9/2013), deu no The Guardian – UK em: John McCain aims broadside at Vladimir Putin with reply editorial (Excerto)
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu

John McCain

O senador McCain resolveu “responder” à coluna que Putin fez publicar noNew York Times, na qual Putin DETONOU o tal de “excepcionalismo” de que Obama falara (e que já foi chamado de onanismo nacional norte-americano). Então McCain mandou sua “resposta” para o portal Pravda, que publicou.

Dmitry Peskov
O secretário de imprensa de Putin, Dmitry Peskov, disse que o presidente russo lerá, logo que possa, mas que não responderá. Claro que leremos – disse Peskov à imprensa russa. – O senador McCain tem fama de não gostar muito do presidente Putin. Mas não haverá polêmica, é claro, em torno da opinião de uma única pessoa, que vive do outro lado do mundo.

A escolha de McCain pelo portal Pravda tem ressonância histórica. O Pravda foi o jornal oficial da União Soviética, mas o portal de notícias Pravda.ru na Internet só foi criado depois de o famoso jornal russo já não existir, vendido que foi nos primeiros anos do colapso da URSS.

Há hoje, na Rússia, feroz disputa sobre qual seria o Pravda “real”, porque o Pravda impresso é hoje o jornal oficial do Partido Comunista da Rússia.

Nem o Pravda impresso, nem o portal Pravda têm grande número de leitores, e analistas russos observaram que há inúmeras outras páginas de internet e jornais impressos na Rússia, hoje, que teriam publicado a coluna de McCain.

McCain “respondeu” a Putin pelo Pravda?! Morreu nos anos 1980s e nem sabe. Só descobri que ainda existe Pravda, quando aceitaram a coluna que McCain ofereceu. – escreveu Dmitry Trenin, Diretor do Centro Carnegie de Moscou, pelo Twitter. [pano rápido]
"Pravda.ru é uma grande empresa de notícias e opinião, na Internet. A edição digital periódica, Pravda.ru, tem licença do Ministério da Imprensa da Rússia ¹ ÝË-2037, 03.11.1999. Pravda.ru foi a primeira empresa na Runet (Internet russa) a editar notícias. Este trabalho começou em Outubro de 2000, em versão inglesa, e é actualmente a edição online mais popular, no que toca à frequência de citações e de renovação da informação. Tem versão em português e existem planos para publicar versões em chinês e árabe. A Pravda.ru tem uma reputação estável e sólida e mantém-se num ranking muito alto.

É visitada mensalmente por 4 milhões de internautas e o número diário de pageviews é de 250 mil. A Pravda.ru compreende as seguintes edições: Pravda.ru - notícias e análise em russo; English.pravda.ru - em inglês; Port.pravda.ru- em português; Italian.pravda.ru - em italiano; Electorat.info - edição dedicada aos eleitores e às eleições a todos os níveis . Yoki.ru - edição especial de informação para jovens; Pravda.ru/foto/- uma fotogaleria exclusiva; Farc.ru - portal recreativo e informático; e Escover.ru - edição informática e analítica dedicada à ecologia."

Contactar versão portuguesa da PRAVDA.Ru: jornalpravda@gmail.com
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De...
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Boletim de Atualização - Nº 317 - 6/10/2013
...para a PressAA...

Giap, o homem que humilhou dois Impérios

131004-Vietnã
Morre no Vietnã, aos 102 anos, gênio militar responsável por arrasar “mito da invencível superioridade dos Estados Unidos”
Por Xavier Monthéard, no Le Monde Diplomatique | Tradução: Antonio Martins
Do nada, ele fez um exército; de um enfrentamento local, um símbolo da resistência à iniquidade. Ele venceu os franceses da batalha de Diên Biên Phu, em 1954, e depois arrasou os norte-americanos, com a Ofensiva do Tet, em 1968. Um David que triunfou sobre diversos Golias: assim se inscreve o general Vo Nguyen Giap na história do Vietnã.
Giap nasceu em 25 de agosto de 1911, em Annan, protetorado da Indochina francesa. Foi criado por sua família numa atmosfera de orgulho pela dominação estrangeira. No colégio de Hue, a leitura do Processo da Colonização Francesa, de Ho Chi Mihn, transtorna-o. A ganância dos colonizadores, seu desprezo pela população local e sua brutalidade provocam, em 1930, um vasto levante, duramente reprimido. Instruído pela prisão, Giap terá, a partir de então, vida dupla.
Forma-se em 1934, torna-se professor, casa-se. Ao mesmo tempo, ingressa no Partido Comunista, clandestino. As bases do Vietminh, uma estrutura operária e camponsesa ligada à Internacional Comunista, estão superadas. Na China, Giap recebe, em 1940, orientação de formar um exército de libertação. Tem trinta anos, seu futuro transforma-se. A partir de então, três décadas de combate – pela independência, em setembro de 1945; contra o ocupação francesa da Indochina, até 1954; contra os invasores norte-americanos, expulsos em 1975 – serão marcadas por seu gênio militar.
De volta a Dien Bien Phu, quarenta anos após vencer os franceses. Abnegação dos soldados e unidade profunda com camponeses eram conceitos-chave para Gia
De volta a Diên Biên Phu, em 1994, quarenta anos após vencer os franceses. 
Abnegação dos soldados e unidade profunda com camponeses eram conceitos-chave para Giap
Sem formação militar acadêmica, Giap refina o conceito de “guerra popular prolongada”: um exército de camponeses firmemente apoiado na população. Suas tropas souberam ser respeitadas nos vilarejos por sua abnegação, que contrastava com a arrogância francesa e norte-americana. Em contrapartida, os civis ajudavam os soldados e tornaram possíveis proezas logísticas. Basta vislumbrar as dificuldades do cerco de Diên Biên Phu: durante 55 dias, jangadas e bicicletas, que se esgueiravam pelas trilhas da floresta, abasteceram de alimentos e munições um exército sob chuva de bombas e napalm.
Para Giap, a guerra revolucionária comportava três fases: a defesa estratégica, a guerrilha e a contra-ofensiva. Ele foi insuperável nas duas primeiras, mas se mostrava às vezes impaciente, nas operações de grande amplitude. Soube, porém, transformar uma derrota tática, como a de Têt, numa vitória política: a opinião pública norte-americana tremeu, quando descobriu a onipresença dos “Vietcongs”.
Afrontado por uma lógica de aniquilação, Giap desenvolveu uma estratégia que fez voar em pedaços o que ele chamava de “mito da insuperável potência das tropas norte-americanas”. Segundo um de seus biógrafos, Cecil B. Currey, Giap foi “talvez o único gênio militar do século 20 e um dos maiores de todos os tempos” – porque “desencadeou uma batalha contra seus inimigos a partir de uma situação de grande fraqueza, começando quase sem tropas, porém capaz de vencer sucessivamente os vestígios do império japonês, os exércitos da França (à época segundo império colonial) e os Estados Unidos, então uma das duas superpotências do mundo”
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Só recentemente reconhecemos imensa riqueza humanitária das civilizações indígenas. Depois de cinco séculos de canibalização, será possível um futuro comum? (M.D.)

Talvez ela tenha nos livrado do extremismo classe-média e xenófobo que atormenta os Estados Unidos e muitos países europeus. Por Luis Nassif, em seu blog

Após abertura e diálogo propostos pelo Irã, discurso agressivo do primeiro-ministro Netanyahu na ONU soa grotesco. Obama permanecerá submisso a Telaviv?

Morre no Vietnã, aos 102 anos, gênio militar que arrasou o “mito da invencível superioridade dos Estados Unidos”. Por Xavier Monthéard

Presidente russo evitou ataque à Síria, mas lidera governo que viola direitos humanos. Ainda assim, sua eventual premiação não seria incoerente com história da honraria. Por Vinícius Gomes

Semana de Mobilização Indígena em SP: Entoando cantos e sons da floresta, guaranis buscam reconquista da terra, cuja perda é simbolizada pelos bandeirantes. Milhares apoiam. Por Bruna Bernacchio

Novo relatório da FAO confirma: 14,5% dos gases do efeito-estufa são gerados por criação de gado, especialmente bovino. Atividade é, além disso, grande responsável por desmatamento. No Página 22

Paulo Sacramento condensa horror e maravilha da metrópole, em obra com personagem feminina incomum. Pode ser filme brasileiro da temporada. Por José Geraldo Couto

Em Curitiba, projeto convida população a retocar paisagem urbana e desacinzentar espaço intimamente ligado ao transporte coletivo. Por Eme Viegas, na Hypeness

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Esta postagem vai com especial dedicação para a nossa colaboradora, assídua correspondente, Lou Micaldas

Quando dólares falam mais alto


Publicado em 03/10/2013 por [*] Mário Augusto Jakobskind

Engana-se quem pensa que já se conhecem todos os fatos relacionados com o golpe civil militar de 1964 que derrubou o Presidente constitucional João Goulart. Nos últimos meses, graças ao trabalho das Comissões da Verdade, sejam estaduais ou a Nacional, muito fato novo vem sendo divulgado. 

Mas um fato desta semana, protagonizado por João Vicente Goulart, ao ouvir uma denúncia do então Major do Exército, Erimá Pinheiro Moreira, poderá mudar o entendimento de muita gente sobre a ocorrência mais negativa da história recente brasileira. O alerta tem endereço certo, ou seja, aqueles que ainda imaginam terem os golpistas civis e militares agido por idealismo ou algo do gênero.

O Major farmacêutico em questão, hoje anistiado como Coronel, servia em São Paulo em 31 de março de 1964 sob as ordens do então comandante IIº Exército, General Amaury Kruel (foto com Jango). Na manhã daquele dia, Kruel dizia em alto e bom som que resistiria aos golpistas, mas em pouco tempo mudou de posição. E qual foi o motivo de o general, que era amigo do Presidente Jango Goulart, ter mudado de posição assim tão de repente, não mais que de repente?

Mineiro de Alvinópolis, Erimá Moreira, hoje com 94 anos, e há muito com o fato ocorrido naquele dia trágico atravessado na garganta, decidiu contar em detalhes o que aconteceu. O militar, que era também proprietário de um laboratório farmacêutico e posteriormente convidado a assumir a direção de um hospital, foi procurado por Kruel no hospital. Naquele encontro, o general garantiu ao major que Jango não seria derrubado e que o IIº Exército garantiria a vida do Presidente da República.

Pois bem, as 2 da tarde Erimá foi procurado por um emissário de Kruel de nome Ascoli de Oliveira dizendo que o general queria se reunir com um pessoal fora das dependências do IIº Exército. Erimá indicou então o espaço do laboratório localizado na esquina da Avenida Aclimação, local que hoje é a sede de uma escola particular de São Paulo. Pouco tempo depois apareceu o próprio comandante do IIº Exército, que antes de se dirigir a uma sala onde receberia os visitantes pediu ao então major que aguardasse a chegada do grupo.

Erimá Moreira ficou aguardando até que apareceram quatro pessoas, um deles o presidente interino da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), de nome Raphael de Souza Noschese, este já conhecido do major. Três dos visitantes carregavam duas maletas grandes cada um. Erimá, por questão de segurança, porque temia que pudessem estar carregando explosivos ou armas, mandou abrir as maletas e viu uma grande quantidade de notas de dólares. Terminada a reunião foi pedida que a equipe do major levasse as maletas até o porta-malas do carro de Amaury Kruel, o que foi feito.

De manhã cedo, por volta das 6,30 da manhã, Erimá Moreira conta que mais ou menos uma hora e meia depois da chegada no laboratório ligou o rádio de pilha para ouvir o discurso do comandante do IIº Exército. Moreira disse que levou um susto quando ouviu Kruel dizer que:

(...) se o Presidente da República não demitisse os comunistas do governo ficaria ao lado da “revolução”.

Erimá Moreira então associou o que tinha acontecido no dia anterior com a mudança de postura do Kruel e falou para si mesmo:

(...) pelo amor de Deus será que ajudei o Kruel a derrubar o Presidente da República?

Ainda ouvindo o discurso de Kruel, conta Erimá, chegaram uns praças para avisar que tinha uma reunião marcada com o general no QG do IIº Exército.

Na reunião, vários militares, alguns comandantes de unidades, eram perguntados se apoiavam Kruel.

(...) eu não aceitei e pedi para ser transferido.

Indignado, Erimá Moreira dirigiu-se a um coronel do staff do comandante do IIº Exército para perguntar se o general Kruel não tinha recebido todo aquele dinheiro para garantir a vida do Presidente:

Me transfiram daqui, que com o Kruel no comando eu não fico.

Aí então – prossegue Erimá Moreira – me colocaram de férias para eu esfriar a cabeça. Na volta das férias, depois de um mês, fiquei sabendo pelo jornal que o Kruel havia me cassado.

A partir de então o Major e a família passaram maus momentos com os vizinhos dizendo à minha mulher que era casada com um comunista.

Naquela época, quem fosse preso ou cassado era considerado comunista.

Algum tempo depois contei esta história que estou contando agora ao General Carlos Luis Guedes, meu amigo desde quando servimos em unidades militares em São João del Rey. Fiz um relatório por escrito e com firma reconhecida. O General Guedes tirou xerox e levou o relato para a mesa do Kruel. Em menos de 24 horas o Kruel pediu para ira para a Reserva. Fiquei sabendo que com o milhão de dólares que recebeu do governo dos Estados Unidos comprou duas fazendas na Bahia.

Ao finalizar o relato, o hoje Coronel Erimá Moreira mostrou-se aliviado e ao ser perguntado se autorizava a divulgação desse depoimento, ele respondeu que:

(...) não tinha problema nenhum.

Nesse sentido, sugerimos aos editores de todas as mídias que procurem o Coronel Erimá Pinheiro Moreira para ouvir dele próprio o que foi contado neste espaço.

Sugerimos em especial aos editores de O Globo, periódico que recentemente fez uma autocrítica por ter apoiado o golpe de 64, que elaborem matéria com o militar que reside em São Paulo.

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[*] Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.


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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA



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