sábado, 19 de outubro de 2013

Mujica não é pobre, pobre, pobre de marré, marré, marré --- Americano bonzinho tá morrendo de pena dos brasileiros sufocados pelos altos preços dos combustíveis e dos automóveis --- André Lux comenta o filme "Elysium"

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Recebido por e-mail de nossa colaboradora-correspondente Urda Alice Klueger:

EU, JOSÉ MUJICA – PRESIDENTE DO URUGUAI 

Eu não sou pobre! Pobres são aqueles que acreditam que eu sou pobre. Tenho poucas coisas, é certo, as mínimas, mas apenas para ser rico. Quero ter tempo para... dedicá-lo às coisas que me motivam. Se tivesse muitas coisas, teria que me ocupar de resolvê-las e não poderia fazer o que eu realmente gosto. Essa é a verdadeira liberdade, a austeridade, o consumir pouco. Vivo em uma pequena casa, para poder dedicar tempo ao que verdadeiramente aprecio. Senão, teria que ter uma empregada e já teria uma interventora dentro de casa. Se eu tivesse muitas coisas, teria que me dedicar a cuidar delas, para que não fossem levadas... Não, com três cômodos é suficiente. Passamos a vassoura, eu e a velha, e já se acabou. Então, temos tempo para o que realmente nos entusiasma. Verdadeiramente, n ão somos pobres!”

José Mujica — Presidente do Uruguai

QUEM É JOSÉ MUJICA?Conhecido como “Pepe” Mujica, o atual Presidente do Uruguai recebe USD$12.500/mês (doze mil e quinhentos dólares mensais) por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% de seu salário, ou seja, vive com 1.250 dólares, cerca de R$2.538,00 reais ou ainda 25.824 pesos uruguaios. O restante do dinheiro ele distribui entre pequenas empresas e ONGs que trabalham com habitação.

“— Esse dinheiro me basta e tem que bastar, porque há outros uruguaios que vivem com menos”, diz o presidente Mujica.

Aos 77 anos, Mujica vive de forma simples, usando as mesmas roupas e desfrutando da companhia dos mesmos amigos de antes de chegar ao poder.

Além de sua casa, seu único patrimônio é um velho Volkswagen, cor celeste, avaliado em pouco mais de mil dólares. Como transporte oficial, usa apenas um Chevrolet Corsa. Sua esposa, a senadora Lucía Topolansky, também doa a maior parte de seus rendimentos.

A poucos quilômetros de Montevidéu, já saindo do asfalto, avista-se um campo de acelgas. Mais à frente, um carro da polícia e dois guardinhas: o único sinal de que alguém importante vive na região. O morador ilustre é José Alberto Mujica Cordano, conhecido como Pepe Mujica, presidente do Uruguai.

Perguntado sobre quem é esse Pepe Mujica, ele responde: “— Um velho lutador social, da década de 50, com muitas derrotas nas costas, que queria consertar o mundo e que, com o passar dos anos, ficou mais humilde, e agora tenta consertar um pouquinho de alguma coisa”.

Ainda jovem, Mujica se envolveu no MLN — Movimento de Libertação Nacional e ajudou a organizar os tupamaros, grupo guerrilheiro que lutou contra a ditadura. Foi preso pela ditadura militar e torturado. “— Primeiro, eu ficava feliz se me davam um colchão. Depois, vivi muito tempo em uma salinha estreita, e aprendi a caminhar por ela de ponta a ponta”, lembra o presidente uruguaio. Dos 13 anos de cadeia, Mujica passou algum tempo em um prédio, no qual o antigo cárcere virou shopping. A área também abriga um hotel cinco estrelas. Ironia para um homem avesso ao consumo e ao luxo.

No bairro Prado, a paisagem é de casarões antigos, da velha aristocracia uruguaia. É onde está a residência Suarez y Reyes, destinada aos presidentes da República. Esse deveria ser o endereço de Pepe Mujica, mas ele nunca passou sequer uma noite no local. O palácio de arquitetura francesa, de 1908, só é usado em reuniões de trabalho.
Mujica tem horror ao cerimonial e aos privilégios do cargo. Acha que presidente não tem que ter mais que os outros. “— A casinha de teto de zinco é suficiente”, diz ele. -“Que tipo de intimidade eu teria em casa, com três ou quatro empregadas que andam por aí o tempo todo? Você acha que isso é vida?”, questiona Mujica.

Gosta de animais, tem vários no sítio. Pepe Mujica conta que a cadela Manoela perdeu uma pata por acompanhá-lo no campo e que ela está com ele há 18 anos.

A vida simples não é mera figuração ou tentativa de construir uma imagem, seguindo orientações de um marqueteiro. Não, ela faz parte da própria formação de Mujica.

No dia 24 de maio de 2012, por ordem de Mujica, uma moradora de rua e seu filho foram instalados na residência presidencial, que ele não ocupa porque mora no sítio. Ela só saiu de lá quando surgiu vaga em uma instituição. Neste início de inverno, a casa e o Palácio Suarez y Reyes, onde só acontecem reuniões de governo, foram disponibilizadas por Mujica para servir de abrigo a quem não tem um teto. Em julho de 2011, decidiu vender a residência de veraneio do governo, em Punta del Este, por 2,7 milhões de dólares. O banco estatal República a comprou e transformará a casa em escritórios e espaço cultural. Quanto ao dinheiro, será inteiramente investido – por ordem de Mujica, claro – na construção de moradias populares, além de financiar uma escola agrária na própria região do balneário.

O Uruguai ocupa o 36ª posição do ranking de EDUCAÇÃO da Unesco, enquanto o Brasil ocupa a 88ª posição. Já no ranking de DESENVOLVIMENTO HUMANO, o Uruguai ocupa o 48º lugar, enquanto o Brasil ocupa o 84º lugar. Enquanto isso no Brasil, políticos reclamam que recebem um salário baixo para o cargo que exercem. QUE VERGONHA!!!

Mujica é um homem raro, nesses tempos de crise de valores morais e ética, dentre os políticos sul-americanos.

Compartilhe essa história, compartilhem mesmo! Os brasileiros têm que saber que existe um político de verdade, que trabalha em favor do povo e não de sua conta bancária!!!! 

É PARA SER DIVULGADA MESSSSSSSSSSSSMO
UM GRANDE ABRAÇO, 
MARIA AMALIA

BRASIL

VOCÊ QUE SABE LER E ENTENDE O QUE LEU,
COMENTE COM OS QUE NÃO SABEM.
ELES PRECISAM SER INFORMADOS !!!

JJGB

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Mujica rejeita título de “presidente mais pobre do mundo”

Pobres são aqueles que precisam de muito para viver.
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Sêneca: “Para a nossa avareza, o muito é pouco; para a nossa necessidade, o pouco é muito.”

Fernando Soares Campos, Editor-Assaz-Atroz-Chefe:

Tenho ouvido e lido muita gente identificar a filosofia “mujiquiana” como sendo a reprodução fiel da filosofia senequiana, de Lucius Annaeus Seneca, ou simplesmente Sêneca.

Há quem atribua à filosofia senequiana um conveniente guia para pessoas estoicas, resignadas diante do sofrimento e das adversidades da vida, os acontecimentos por elas considerados fatais, determinados pelo destino; portanto, tido como inevitáveis. Aquilo que os muçulmanos designam pela palavra “maktube”, vontade e desígnio de Deus, Allah (entre outros significados que os árabes conferem a essa palavra).

Mas analisemos cada uma das sentenças fundamentais nas filosofias de um e de outro:

Mujica: “Pobres são aqueles que precisam de muito para viver”.

Sêneca: “Pobre não é aquele que tem pouco, mas antes aquele que muito deseja”.

Aparentemente os dois teriam dito a mesma coisa, mas isso só aparentemente e só para o leitor apressado e que precisa de muito para entender um pouco.

Precisar não é o mesmo que desejar. Se alguém tem R$ 1 milhão e precisa de mais para tocar seu empreendimento (agrícola, industrial, educacional...), esta é uma demanda legítima.  Mas se alguém ganha apenas R$ 2.538,00 que estão atendendo às suas necessidades, porém deseja muito mais por mero contentamento de acúmulo e ostentação, isso se constitui numa atitude reprovável.

Observemos que o próprio pensamento senequiano não qualifica ou especifica o “desejo”, o que se constitui numa ligeira falha, pois o próprio desejo pode estar fundado em legítima necessidade: "desejar" muito ou pouco porque “precisa-se” de muito ou de pouco.

“Precisar” implica “desejar”, desejar a realização do suprimento da “necessidade”, e o desejo alimenta a "vontade", que é o seu veículo, a energia que conduz à realização de projetos e desejos. Eu não devo é transformar meus desejos em projetos, mas os projetos são regidos por desejos, são realizados a partir do desejo, que impulsiona a vontade.

Eu, por mau exemplo, desejo usufruir tudo de bom que já existe por aí, tudo que qualquer milionário usufrui em termos de conforto material, e quero ter facilidade de acesso a tudo que possa existir de bom e de melhor. Simplesmente desejo. Naturalmente desejo. Mas não alimento esse desejo, não animo a vontade ao ponto de transformar a sua realização em meta, em projeto de vida, invertendo a ordem natural das coisas. Por que “invertendo”? Porque sou uma pessoa que acredita piamente que mais vale ser do que ter, porém não admito que o ser prescinde do ter. O ter só pode ser prescindido de suas formas egoísticas: quero ter a qualquer custo, quero ter para mim, para os meus, mas não quero que os outros também tenham para si ou para os seus; ou: depois de mim, eu, e depois, se sobrar e eu considerar que devo fazer caridade, jogo os ossos para os outros; ou mesmo aplicando a lei de murici: cada um cuide de si.

“Ser” também é, por si mesmo, “ter”, é sólido patrimônio, inalienável. Ser o quê? Erudito? Nesse caso, é ter instrução, deter muito conhecimento, ampla cultura formal, científica. Ser sapiente é ter capacidade de interpretar a vida, as relações interpessoais, os fatos, a história, é ter domínio, teórico ou prático, de um assunto, uma arte, uma ciência, uma técnica, é ter poder de influenciar de tomar decisões acertadamente. Ser solidário é ter um desenvolvido espírito de fraternidade, de interesse em ajudar o semelhante, apoiar seus projetos legítimos, e isso só se alcança praticando e trocando experiências e informações que se tem.

“Ter” é “ser” dono, é ter o domínio, enquanto “ser” é “ter” capacidade de exercer o domínio. 

Ter a posse do "ser material" ou do "ser imaterial" é uma só forma de ter, é domínio do ser. E só faz diferença nas formas de aquisição (se adquiridas de forma honesta ou desonesta) e de emprego (se é para servir a um maior número de pessoas, ou se é para ser acumulada de forma egoística, o ser material ou o imaterial).

O próprio Sêneca também falou coisas assim:

Possuir um bem, sem o partilhar, não tem qualquer atrativo”. 
Portanto não há nenhum pecado em possuir muito e partilhar os frutos desse muito.

Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico.

Para a nossa avareza, o muito é pouco; para a nossa necessidade, o pouco é muito.”

Fico com a sentença senequiana, mas com ligeira observação: “Pobre não é aquele que tem pouco, mas antes aquele que muito deseja [por mera avareza]”.

Mujica diz: “Pobres são aqueles que precisam de muito para viver”. E existem milhões de brasileiros que diriam: “Preciso de muito pra viver, preciso de uns quatro salários mínimos”. É com o que Mujica vive e é o que eles consideram muito. E isso, bem sabemos, é tão pouco!

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Recebido por e-mail de nosso correspondente Ângelo Bulhões:




Caros amigos brasileiros e ricaços, 


Vocês brasileiros pagam o dobro do que os americanos pagam pela água que consomem. 


Embora tenham água doce disponível, aproximadamente 25% da reserva mundial de água Doce está no Brasil. 

Vocês brasileiros pagam 60% a mais nas tarifas de telefone e eletricidade. Embora 95% da produção de energia em seu país seja hidroelétrica (mais barata e não poluente). 


Enquanto nós, pobres americanos, somente podemos pagar pela energia altamente poluente, produzidas por usinas termelétricas à base de carvão e petróleo e as perigosas usinas Nucleares. 

E por falar em petróleo... 


Vocês brasileiros pagam o dobro pela gasolina, que ainda por cima é de má qualidade, que acabam com os motores dos carros, misturas para beneficiar os usineiros de álcool. Não dá para entender, seu país é quase auto-suficiente em produção de petróleo (75% é produzido aí) e ainda assim tem preços tão elevados. Aqui nos EUA nós defendemos com unhas e dentes o preço do combustível que está estabilizado há vários anos US$ 0,30 ou seja R$ 0,90. Obs.: gasolina pura, sem mistura. 

E por falar em carro... 


Vocês brasileiros pagam R$ 40 mil por um carro que nós, nos EUA, pagamos R$ 20 mil. Vocês dão de presente para seu governo R$ 20 mil para gastar não se sabe com que e nem aonde, já que os serviços públicos no Brasil são um lixo perto dos serviços prestados pelo setor público nos EUA. Na Flórida, caros brasileiros, nós somos muito pobres; o governo estadual cobra apenas 2% de imposto sobre o valor agregado (equivalente ao ICMS no Brasil, e mais 4% de imposto federal, o que dá um total de 6%. 


No Brasil vocês são muito ricos, já que afinal concordam em pagar 18% só de ICMS. 


E já que falamos de impostos... 


Eu não entendo porque vocês alegam serem pobres, se, afinal, vocês não se importam em pagar, além desse absurdo ICMS, mais PIS, CONFINS, CPMF, ISS, IPTU, IR, ITR e outras dezenas de impostos, taxas e contribuições, em geral, com efeito cascata, de imposto sobre imposto, e ainda assim fazem festa em estádios de futebol e nas passarelas de Carnaval. Sinal de que não se incomodam com esse confisco maligno que o governo promove, lhes tirando quatro meses por ano de seu suado trabalho. 


De acordo com estudos realizados, um brasileiro trabalha quatro meses por ano somente para pagar a carga tributária de impostos diretos e indiretos. 


Segue...
Nós americanos lembramos que somos extremamente pobres, tanto que o governo isenta de pagar imposto de renda todos que ganham menos de US$ 3 mil dólares por mês (equivalente a R$ 9.300,00), enquanto aí no Brasil os assalariados devem viver muito bem, pois pagam imposto de renda todos que ganham a partir de R$ 1.200,00. Além disso, vocês têm desconto retido na fonte, ou seja, ainda antecipam o imposto para o governo, sem saber se vão ter renda até o final do ano. Aqui nos EUA nos declaramos o imposto de renda apenas no final do ano, e caso tenhamos tido renda, ai sim recolhemos o valor devido aos cofres públicos. Essa certeza nos bons resultados futuros torna o Brasil um país insuperável. 


Aí no Brasil vocês pagam escolas e livros para seus filhos, porque afinal, devem nadar em dinheiro, e aqui nos EUA, nós, pobres de país americano, como não temos toda essa fortuna, mandamos nossos filhos para as excelentes escolas públicas com livros gratuitos. Vocês, ricaços do Brasil, quando tomam no banco um empréstimo pessoal, pagam POR MÊS o que nós pobres americanos pagamos POR ANO. 

E por falar em pagamentos... 

Caro amigo brasileiro, quando você me contou que pagou R$ 2,500.00 pelo seguro de seu carro, aí sim, eu confirmei a minha tese: vocês são podres de rico!!!!!!!! 

Nós nunca poderíamos pagar tudo isso por um simples seguro de automóvel. Por meu carro grande e luxuoso, eu pago US$ 345,00. Quando você me disse que também paga R$ 1.700,00 de IPVA pelo seu carro, não tive mais dúvidas. Nós pagamos apenas US$ 15,00 de licenciamento anual, não importando qual tipo de veiculo seja. Afinal, quem é rico e quem é pobre? 

Aí no Brasil 20% da população economicamente ativa não trabalha. Aqui, não podemos nos dar ao luxo de sustentar além de 4% da população que está desempregada. 

Não é mais rico quem pode sustentar mais gente que não trabalha??? 


Comentários: 

Caro leitor, estou sem argumentos para contestar este ianque. Afinal, a moda nacional brasileira é a aparência. Cada vez mais vamos nos convencendo de que não é preciso ser, basta parecer ser. E, afinal, gastando muito, a gente aparenta ser rico. Realmente é difícil comparar esta grande nação chamada EUA que desde o seu descobrimento teve uma colonização de povoamento, com nosso país que foi colônia de exploração por mais de 300 anos, com nossas riquezas sendo enviadas para Portugal. E hoje ainda sofremos com essa exploração, só que dos próprios governantes que pilham e enviam nossas riquezas para suas contas bancárias em paraísos fiscais. E não fazemos nada para promover uma mudança radical de atitudes, conceitos e afirmação de nossa dignidade. Precisamos sair deste comodismo que estamos vivendo ou o sonho do País do futuro será apenas um ideal na boca dos demagogos que estão no poder. 

Assina: Alexandre Garcia 

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Editor-Assaz-Atroz-Chefe: No momento em que tentávamos deliberar sobre a publicação desta matéria, o pauteiro Xiko Kandid, médium audiente-vidente, entrou em transe e passou a atender a um grupo de espíritos interessados em dar palpite sobre a missiva supostamente recebida por Alexandre Garcia, palpiteiro pautado pelas propinas provenientes das plenamente poderosas petroleiras do planeta.

Xico Kandid, ao perceber o espírito exaltado dos espíritos desencarnados, os quais faziam tremendo alvoroço, cada um querendo ser o primeiro a ditar sua mensagem, bateu forte na mesa e gritou: “Vamos parar com essa chacrinha! Isso aqui não é a Globo nem sucursal do inferno de onde vocês vêm! Façam fila”.

Enfileiraram-se, e, enquanto o pauteiro médium psicodigitava as mensagens, os outros batucavam devagarzinho na mesa e cantarolavam o refrão de um ponto de umbanda: “Gira, gira, pomba-gira, tranca-ruas te trancou”.

As mensagens foram se formando na tela do monitor:

John Snowden Senior: Fui agente da CIA durante muitos anos, mas, como todo agente que sabe demais, morri envenenado, queima de arquivo, quando desfrutava merecidas férias em Porto Rico, em 1984, e pretendia vender aos russos uma cópia do projeto Star Wars, o sistema de defesa proposto por Reagan, capaz de neutralizar um ataque de mísseis nucleares da nossa arqui-inimiga União Soviética.

Mas eu estou aqui é pra falar da carta que ditei, no último 1° de abril, para o meu amigo Alexandre Garcia, meu parceiro de labuta na organização e implementação da Operação Condor.

Certamente o que falei vale pra ele e para os brasileiros que são remunerados miseravelmente na faixa de 1 a 100 salários mínimos. O que quero dizer é que, mesmo o mais miserável, aquele que aqui no Brasil ganha 1 salário mínimo, R$ 678,00, cerca de US$ 300,00, lá nos Estados Unidos daria para ele pagar o IPVA, US$15,00, e com os US$285,00 restantes viveria folgadamente, abasteceria o carro com quase 1.000 litros de gasolina purinha! O que é suficiente para rodar de Costa a Costa, ida e volta.

Ao Alexandre eu já aconselhei: vende a sua kitch zona sul e, com os R$ 40 milhões da venda, faz como a Gisele Bundchen, constrói uma mansão em Brentwood, Califórnia. Com o salário dele, que, aí no Brasil, mal dá pra pagar a conta do botequim, aqui ele pagaria: criadagem, vadiagem, galinhagem, cafajestagem, crocodilagem, deduragem, chantagem e tantas outras sacanagens; ainda sobraria pra fazer agiotagem. Quanto às propinas que ele recebe pelas caguetagens e escrevinhagens de lorotagem, estas poderiam ser poupadas em paraísos fiscais, garantia de uma velhaca velhice na maior vagabundagem. [Subiu]

Pintou outro...

Michael Jackson: Quero dar meu testemunho...

Cinco minutos depois...

Xiko Kandid: Pode falar, das piruetas, tou esperando, sou todo ouvidos!

Michael Jackson: Só falo se você mandar esses desafinados parar de assassinar o ponto de umbanda.

Xiko Kandid: Escuta aí, seus desentoados, o pop do Santa Marta quer silêncio.

Michael Jackson: Esse cara que falou aí tem razão. Eu ganhava até US$ 10 milhões só para comparecer a uma festa de aniversário, como a do príncipe Azim de Brunei, na Inglaterra, vivia razoavelmente bem. Aí resolveram que eu deveria fazer uma turnê pelo Brasil.

Tudo que ganhei aqui, além da minha poupança, gastei com passagens de ônibus, lanches no McDonalds, cervejas e gorjetas numa birosca do morro Santa Marta. Também paguei pedágio aos traficantes. Fiquei duro, sem condições de pagar o aluguel da mansão em Beverly Hills e até mesmo as quentinhas que um buffet me fornecia à base de pendura. Tive até que morrer para incrementar as vendas dos meus álbuns e filmes e, com isso, garantir o futuro dos meus filhos.

No Brasil tudo é caro! O jabá para se apresentar num programa vagabundo de televisão custa os olhos da cara! Pra fazer merchandising nos noticiários e novelas, não querem menos que 99% do que o artista vender. Lá nos Estados Unidos a gente só perde 1% da bilheteria e produtos. Pronto, já falei, agora vou subir...

Xiko Kandid: Peralá! Não é assim não. Você é um superstar, e, nesse caso, a gente também cobra jabá, se quiser que divulguemos sua imagem e opinião aqui pela PressAA...

Michael Jackson: Agora eu já não pago nada em espécies, é tudo à base de troca-troca.

Xiko Kandid: Como assim?!

Michael Jackson: Eu já tenho certa influência com São Pedro. Às vezes vou até a portaria do Paraíso e fico lá batendo um papo com o barbudo.

Xiko Kandid: E daí?!

Michael Jackson: Daí que eu posso falar pra ele mandar chuva pro Nordeste e fazer estiagem no Rio.

Xiko Kandid: Fechado! Pode subir. Próximo!

O computador entrou em turbulência, emitindo ruídos e roncos, o monitor passou a tremeluzir: Brruuummm... Proc! Proc! Pric! Pric! Shiiiii... Brrruuummm... Logo cessou o barulho e a imagem na tela do monitor se estabilizou. O nome da alma penada foi se formando sílaba a sílaba...

Ge-ne-ral Ma-to-so de Pi-ja-ma (normalizou-se a conexão): Antes de tudo, quero empenhar minha solidariedade ao glorioso herói yankee John Snowden Senior, pelos serviços prestados à Revolução de 64, na época auxiliado pelo nosso ordenança Alexandre Garcia, hoje seu cavalo nas sessões de quimbanda dos terreiros do Projac.

Eu fui para reserva em 1986, quando o Brasil vivia sob as mais justas e eficientes medidas político-econômicas, o Plano Cruzado, que congelou o salário mínimo em Cz$804,00, o equivalente a US$67,00. Eu ganhava 200 salários mínimos de proventos militares, mais o rendimento da poupança que fiz com os honorários pelo lobby prestado a uma multinacional durante a Redentora. Estava indo razoavelmente bem, dava pro gasto, sem luxo ou supérfluos.

Veio o governo Collor e tomou a minha poupança, fiquei só com os US$13.400,00. Até que poderia viver com isso, um sacrifício de patriota que sempre fui. Mas pouco tempo depois, no governo FHC, o salário mínimo baixou para alguma coisa próxima a US$60,00. Foi aí que escrevi pro nosso amigo Snowden, e, já naquela época, ele me disse que com os US$12.000,00 que eu ganhava viveria muito bem na Califórnia.

Com um mês de salário, comprei as passagens e roupas novas para mim e pra minha patroa. Com mais US$20.000,00 que havia economizado, desembarcamos em San Diego, compramos um trailer pela bagatela de US$10.000,00 e gastamos o restante com rifles, pistolas e munição, para caça e proteção pessoal.

Fomos morar nas margens de uma rodovia no deserto. Linda paisagem! Lindo cenário! Todo final de mês nós íamos até a cidadezinha mais próxima a fim de receber a ordem de pagamento que nosso procurador depositava ao receber meus proventos aqui no Brasil. Ele só cobrava 50% pelos seus serviços, o resto era nosso e dava pra gente viver em paz.

Nossas despesas eram mínimas, comprávamos enlatados e completávamos nossa dieta com lagartos , que eu caçava toda manhã, e cactos do deserto. Mas não tinha gosto de calango nem de mandacaru das caatingas do Nordeste brasileiro, não! Era tudo alimento exótico, desses que custam os olhos da cara aqui no Brasil.

Gastava munição com as caças e também com os disparos que fazia à noite para assustar os ladrões e as gangues de motoqueiros, os Hells Angels. Mas as balas são muito baratinhas por lá. Tem até promoção: “Se for pra matar cucaracho e árabe, pague 1 e leve 3”.

Morri em 2002, enfartado, quando soube que aconteceu um golpe de Estado no Brasil, e os comunistas tomaram o poder. Não tinha plano de saúde, por isso não pude ser atendido em hospital algum e fui enterrado ali mesmo, no deserto.

Minha mulher vendeu o trailer por uma bagatela, mas deu pra comprar a passagem de volta para o Brasil, uma tentativa de influenciar os meus colegas reféns do novo regime e fazer nova revolução.

Ela morreu no início deste ano, em sua casinha de 3 quartos, sala, copa-cozinha, banheiro, dependências de empregada, jardim, quintal e móveis bem modestos, comprados numa loja do Recreio dos Bandeirantes; mas a casinha é no suburbano bairro de Maria da Graça. Passou muita necessidade, pois no final da vida recebia uma minguada pensão equivalente a míseros 100 salários mínimos, metade do que ganhávamos nos governos democráticos de Sarney e FHC. Pra que dá R$67.800,00, ou US$30.000,00, no Brasil? Isso é uma fortuna para quem mora em Nova York! Dá pra comprar um Mitsubishi zerinho e morar nele, estacionado num engarrafamento na Manhattan Bridge...

Os pauteiros recomeçaram a batucada : “Gira, gira, pomba-gira, tranca-ruas te trancou”.

Ploft! Subiu...
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Mais um meio plágio do conto "Saudades do Apocalipse":

Filmes: "Elysium"

DECEPÇÃO

A tentativa de misturar ficção científica com crítica social não funciona como em "Distrito 9"

por André Lux*, crítico-spam

O diretor Neill Blomkamp chamou a atenção do mundo cinematográfico com o interessante "Distrito 9", um filme que misturava ficção científica com crítica social e trazia uma forte mensagem contra o racismo.

Com o sucesso do longa (que chegou a ser absurdamente indicado ao Oscar de melhor filme) ele obviamente foi recrutado por Róliudi para tentar repetir a façanha, agora com mais dinheiro. Só que dificilmente um raio cai duas vezes no mesmo lugar e seu novo filme, "Elysium", é uma decepção em todos os sentidos.

A tentativa de misturar ficção científica com crítica social também se faz presente, mas não funciona como em "Distrito 9". A causa principal disso é que o mundo do futuro apresentado pelo cineasta não faz sentido e nunca ficamos sabendo como funcionam as engrenagens políticas dele.

A trama acontece em 2154 e mostra a Terra devastada por poluição e superpopulação. Nessa época, os ricos se mudaram para uma estação espacial chamada Elysium e vivem totalmente separados do resto do mundo. Um rapaz pobre, feito por Matt Damon quando adulto, sonha em viajar até lá, mas depois de uma vida de crimes, é obrigado a trabalhar em condições desumanas em uma fábrica de policiais-robôs. Depois que um acidente de trabalho o condena à morte, ele tenta desesperadamente chegar a Elysium, pois lá existe uma máquina que cura milagrosamente todas as doenças.

A alegoria social aí é óbvia, porém é pouco desenvolvida e o resto do filme não faz qualquer sentido. Para chegar à estação dos ricos, o protagonista procura Spider, um gangster local que vive de tentar mandar os pobres coitados para Elysium em troca de grana. Esse sujeito é feito pelo brasileiro Wagner Moura (O capitão Nascimento de "Tropa de Elite"), que se esforça em dar vida um personagem muito mal desenvolvido.

Suas ações levantam todo tipo de questionamento: como ele consegue arrumar todas aquelas naves para transportar o pessoal pelo espaço? Por que as autoridades não rastreiam a trajetória delas e prendem os "bandidos"? Como é possível para ele implantar tecnologia nas pessoas que é reconhecida pela máquina que cura doenças? Como seus ajudantes são capazes de fazerem cirurgias complicadas como a que implanta um exoesqueleto metálico no corpo do protagonista, inclusive em seu cérebro?

O filme tem ainda outros furos terríveis no roteiro que só ajudam a diluir ainda mais o seu conteúdo. A estação Elysium parece não ter qualquer tipo de defesa anti-aérea e para derrubar as naves que tentam invadí-la, a chefe de segurança (feita de maneira péssima pela Jodie Foster) tem que acionar um agente secreto (interpretado pelo mesmo ator de "Distrito 9" que com sua cara de nerd não convence nem um minuto como vilão malvado) que está na Terra para lançar foguetes nelas! Hein, como assim?

"Vai uma cirurgiazinha no cérebro aí, chefia?"
Também não fica claro como funciona aquela sociedade. Existem dois governos paralelos, um em Elysium e outro na Terra? Enfim, os furos se amontoam e eu poderia gastar mais seis parágrafos aqui citando-os.

O maior problema, contudo, é o excesso de cenas de ação e luta, todas elas esticadas e redundantes, no que parece ser uma tentativa de nublar a consciência do espectador para que não perceba todos os furos do roteiro. Mas não funciona, principalmente porque elas são mal encenadas e feitas no irritante modo "câmara tremida" que deixa a gente com vontade de vomitar. O final também beira o ridículo e é totalmente incoerente com a proposta do filme.

Apesar de bem intencionado, "Elysium" naufraga em suas pretensões basicamente porque não tem uma história lógica para contar e precisa enfiar um monte de tiros, lutas e explosões para tentar disfarçar. Todavia, o filme foi detonado por um colunista da revista Veja, que chamou-o de "lixo ideológico da esquerda caviar de Hollywood". Ou seja, conseguiu irritar os porta-vozes da extrema direita tupiniquim, o que, convenhamos, é um grande mérito.

Cotação: ** 1/2

*André Lux é jornalista e colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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Saudades do Apocalipse
Escrito em março de 2000
Fernando Soares Campos



243ª ZCOSGTA. 15 de outubro de 2053. 

Como cheguei aos 74 anos de idade, não sei; sei apenas que aqui cheguei. Nasci a 16 de dezembro de 1978, logo completarei 75. Na virada do milênio, eu concluía o curso de Engenharia Florestal, uma teimosia vocacional, ou uma esperança infundada. Infundada sim, pois tudo indicava que num futuro bem próximo tal profissão seria declarada obsoleta. Sabia-se que muito em breve as nossas florestas seriam transformadas nos imensos desertos em que realmente as transformaram. E ninguém precisava de bola de cristal para prever tal desfecho. Antes da desertificação, o Brasil foi loteado em áreas semelhantes às capitanias hereditárias do início da primeira colonização, e os lotes serviram para liquidação das dívidas contraídas junto aos organismos financeiros internacionais. No final do segundo milênio, nova ordem econômico-financeira do mundo globalizado levou os chamados países do Terceiro Mundo à bancarrota e, na segunda década do século XXI, transformou-os em simples possessões; domínios à moda antiga, agora sob a denominação de ZCOSGTA’s - Zona sob Controle da Organização Supranacional para Gerenciamento dos Territórios Alinhados -, ou seja: as zonas sob controle são os territórios alinhados gerenciados pela OSGTA, a superorganização que os administra. Esta 243ª ZCOSGTA corresponde ao antigo Estado do Rio de Janeiro. São Paulo foi dividido em duas zonas: a 238ª (norte) e a 239ª (sul). Todo o Brasil (exceto a Região Amazônica, pois esta área já havia sido ocupada por um consórcio internacional anos antes) foi dividido em 45 ZCOSGTA’s. No início, aquilo era apenas o que chamavam de imperialismo suave, o soft imperialism, que encontrava defensores mesmo entre nós. Defensores?! Não, mais tarde (tarde demais) os reconhecemos pelo que realmente são: entreguistas. Depois veio essa degradante condição de tutela imperialista nos moldes antigos. Tão ou mais violenta que as ocupações nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (raros são os registros que restam sobre esta fase da História). Fomos uma das primeiras nações a se submeterem ao controle da OSGTA, que à época ainda atuava sob os disfarces de FMI, Bird e de outras instituições financeiras internacionais. 

22 de novembro de 2053 

De onde vem essa chuva oleosa que cai incessantemente? Quais as causas disso? Ainda não estão claramente definidos os motivos que a provocam. Há cerca de cinco décadas, no final do século XX, a cinematografia hollywoodiana , baseando-se nas experiências vividas em Hiroxima e Nagasaki, explorou esse cenário em produções futuristas. Atribuíam-na às conseqüências de um cataclismo atômico. No entanto, apesar de não se haver efetivado o terceiro grande conflito mundial, a hecatombe nuclear definitiva, aqui estamos debaixo desse gosmento chorume, antes só visto nos aterros sanitários. Nas ruas, as pessoas atingidas pelas primeiras precipitações desse viscoso líquido escuro acreditavam que estavam sendo alvo de uma estúpida brincadeira, achavam que alguém lhes atirava óleo queimado do alto dos edifícios. Tal equívoco provocou muitas discussões, brigas e até agressões seguidas de assassinato. Mas logo fomos informados sobre esse obscuro fenômeno. Chove sem parar. Se é que podemos chamar esse corrimento atmosférico de chuva. É como se o céu se encarregasse de permanentemente nos lembrar as agressões ambientais que cometemos nos últimos cem anos: imprudentes desmatamentos, excessiva poluição atmosférica, irresponsáveis represamentos e desvios de cursos fluviais, agressivos testes com ogivas nucleares e as mais criminosas agressões ambientais. Não, não cessa nunca. Ocorrem apenas mudanças no índice pluviométrico e na temperatura do lodo austral - denominação que alguns cientistas dão a esse óleo pluvial, por acreditarem que o fenômeno tenha origem no espaço aéreo perpendicular ao imaginário eixo polar sul, onde supostamente o globo terrestre processaria a poluição geral do Planeta, centrifugando os poluentes e redistribuindo-os sob a forma de gases concentrados, os quais se condensam e se precipitam dessa maneira chorumenta. É uma das muitas teorias sobre essa chuva mefítica (o mau cheiro lembra a catinga que se exalava dos canais que margeavam a extinta Ilha do Fundão), a de menor aceitação nos meios acadêmicos; porém a mais difundida entre a população, que hoje é extremamente mal informada (todas as notícias e informações gerais nos chegam via agência oficial da OSGTA, sob o crivo do Departamento de Censura). O que se conhecia como estações climáticas agora são períodos marcados pela intensidade das precipitações de chorume e sua temperatura. E não mais ocorrem em fases definidas. Outono, inverno, primavera e verão agora são condições temporais momentâneas, com início e duração até previsíveis pelos observatórios meteorológicos; todavia sem a verificação das fases estabelecidas pelos solstícios e equinócios como antigamente. Portanto, depois de um breve outono de duas semanas, poderemos retornar a um rigoroso verão, com temperaturas elevadíssimas e chorume abundante, durante toda a semana ou mesmo todo o mês seguinte. Sei que teremos um Natal hibernal, apesar de estarmos passando por um período de verão com a temperatura atingindo os 47 graus, porque ontem tomei conhecimento das previsões do infalível Departamento de Meteorologia: "Nas três próximas quinzenas a temperatura do chorume tende a ficar em torno dos 15 graus negativos" - se essa coisa congelasse, teríamos neve negra no Natal. 

16 de dezembro de 2053 

Aniversario hoje. Completei os 75. Não haverá comemoração. Há muito tempo não se festejam aniversários. Não há motivos que justifiquem comemorações. Poucos, entre os que vivem (sobrevivem) aqui na Crosta, chegam a esta idade. Sabe-se que os milionários que moram nos SiJO’s, os Sideral Joint Ownerships, já ultrapassam em muito os 100 anos de idade. O primeiro condomínio espacial, o SiJO-001, foi instalado nos anos 30 deste século XXI. As informações que nos chegam são precárias, porém dizem que três ex-presidentes dos EUA no século XX vivem hoje numa dessas estações. Dos brasileiros famosos que se tem notícia, fala-se de dois ex-empresários das comunicações, ambos já senis em 2000, mas atualmente desfrutando seus cento e muitos anos nas estações orbitais, verdadeiras cidades suspensas no espaço sideral. 

25 de dezembro de 2053 

É Natal. Por incrível que pareça, a música característica desta época ainda é Jingle Bells, o hino do Natal - sempre que entramos no mês de dezembro, o alto-falante do abrigo toca-o dia e noite. Basicamente não há justificativa para confraternizações de qualquer tipo. Contudo o Natal ainda é lembrado. Nas entradas dos abrigos subterrâneos, onde vive a maior parte dos litosféricos, são montados presépios. É uma iniciativa feminina, nos últimos tempos as mulheres sempre se encarregam de instalar as lapinhas (lembrei-me de minha infância, em minha terra chamavam presépio de lapinha). Existem atividades que só as mulheres exercem, montar presépio é uma delas. Nem antropólogos, nem sociólogos, nem psicólogos, ninguém consegue explicar as razões; mas o fato é que a mulher ocidental orientalizou-se (para usar este termo que foi um neologismo muito em moda nos anos 20-XXI), abandonou a postura feminista incrementada nos anos 70-XX, desistiu dos propósitos de emancipação profissional, de prover a subsistência em concorrência com os homens e reassumiu a condição de aparente submissão ao domínio masculino. Pela via contrária, ocorreu a ocidentalização das orientais. Pelo menos foi isso que vimos enquanto tínhamos acesso à Internet. Até o final da época das televisões via cabo e satélite, assistimos a muita manifestação feminista (no Oriente) e feminina (no Ocidente). Agora, sem rádio, televisão, jornal, revista ou Internet (só nos resta o Boletim Oficial, lido diariamente através dos alto-falantes), não sabemos mais a quanto andam as outras partes do mundo. Acredito que, hoje em dia, nenhum movimento de protesto ou reivindicação faz sentido em qualquer parte, pelo simples fato de não se ter a quem protestar ou reivindicar. As ZCOSGTA’s não passam de mero conceito geográfico, não têm governo próprio. Muita gente não sabe nem mesmo o que vem a ser governo. Há muito tempo não se usa o termo governar, mas sim, gerenciar. Os núcleos humanos são essas aglomerações sem identidade própria. Não se sabe ao certo o que são. Há muitos anos o termo comunidade caiu em desuso. A administração da OSGTA está restrita a pouquíssimas áreas. É o que chamam de gerenciamento mínimo, neoliberalismo (aqui está ele de volta, neomaquiado). Suas atuações mais marcantes estão restritas às áreas de Comunicação, por motivos óbvios, e Transporte - neste caso, especificamente porque temem migrações em massa. Migrar para onde? - estamos sempre a nos perguntar uns aos outros. Desconfiamos que ainda possam existir na Crosta algumas áreas livres do chorume pluvial. Mas isso é apenas especulação. 

13 de janeiro de 2054 

Ontem à noite ouvi uma conversa entre uns companheiros aqui do abrigo. São pessoas na faixa dos 40/45 anos, como a maioria dos habitantes dos abrigos subterrâneos. Esses companheiros sabem de muita coisa referente à época pré-chorume. Fgno, que parece ser o mais velho dos três, perguntou: "O que se imaginava que viesse depois do Armagedon?" Pxton respondeu: "O Livro Sagrado falava de condenação e salvação; inferno pra uns, paraíso pra outros". Aí Rtno acrescentou: "As pessoas especulavam sobre como se daria o Armagedon. Muitos imaginavam o Dia do Juízo como um momento em que se desencadeariam aterrorizantes fenômenos; mas esperava-se um evento com dia e hora marcada pelo Criador". Estou registrando este diálogo porque me lembrei de uma série de artigos escritos em 2019 por um sociólogo alemão, o qual defendia a tese de que o século XX corresponde ao período apocalíptico profetizado nos livros sagrados das diversas correntes religiosas. Para ele, o narcotráfico, que se disseminou pelo mundo até meados da segunda década do século XXI, seria a representação de um dos cavaleiros do apocalipse. (Em 2016 foi condenado e enviado para uma prisão submarina o último grande chefe do cartel das drogas na Amazônia. O SUJAZ, Sistema Unificado de Justiça Arbitrária para as Zcosgtas, atualmente prefere a aplicação do degredo interplanetário ao confinamento em prisões subaquáticas, ou à pena capital, por acreditar que tal castigo é mais exemplar que a própria morte.) Sua tese, até o presente aceita pela maior parte da população, é, ao meu ver, uma lucubração fantasiosa, sem nenhum respaldo científico. A bem da verdade, é preciso reconhecer que, tirante o nazi-fascismo dos anos 30 e dos 40-XX, os demais fatos históricos do século passado se transformam em romanescos acontecimentos, quando comparados a esta catastrófica situação dos dias atuais. Mesmo o narcotráfico, que chegou a dominar praticamente todo o mundo e ameaçou transformar a população terrestre numa ignava massa de dependentes químicos, está, na categorização mundial da malignidade, em posição inferior às organizações político-financeiras que controlam o mundo atual, lá dos palácios flutuantes, no Olimpódromo (nome dado à via espacial transitada pelas estações orbitais onde vivem as elites dominantes). As viagens à Crosta, para aqueles maquiavélicos manipuladores da Economia, são aventuras radicais: só desembarcam aqui e circulam entre nós fantasiados de astronauta. Na verdade, quem nasceu e criou-se no espaço, nos SiJO’s, ou mesmo quem vive por lá há muito tempo, não tem biorresistência para suportar a atmosfera insalubre aqui da Crosta. 

17 de janeiro de 2054 

(Costumo intervalar de períodos bem mais longos estes registros memoriais, porém um novo argumento me fez voltar aqui mais breve que de costume.) 

Ontem me caiu nas mãos um velho exemplar de "O Século XX e o Apocalipse", uma compilação de textos publicados entre 2015 e 2030, os quais teorizam sobre a hipótese de que o século passado corresponda ao período apocalíptico anunciado pelas profecias dos livros sagrados; conforme as conjecturas daquele sociólogo alemão, a quem me referi no registro de 13 de janeiro último. Os autores dessa obra são unânimes na opinião de que o Paraíso e o Inferno correspondem hoje à vida no Espaço e na Crosta, respectivamente. Assim, insistem em afirmar que os processos seletivos de condenações e absolvições, conforme as terrificantes revelações proféticas do livro Apocalipse, estejam explícitos nesta separação entre nós, os "excluídos" (habitantes da Crosta), e os "escolhidos" (habitantes dos SiJO’s). Mas garantem que ainda resta uma chance para os que aqui ficaram: salvarem-se através do processo de arrependimento e expiações e, finalmente, se submeterem a uma prova de incontestável fidelidade ao SUED - Sistema Universal de Educação e Disciplina, ou - como no original - Discipline&Education Universal System - DEUS. 

05 de fevereiro de 2054 

Sei que até aqui estou dando a entender que discordo dessa suposta tese que faz do século XX a Era Apocalíptica, na qual teria ocorrido o catastrófico Armagedon, o grande conflito entre o Bem e o Mal. No entanto a minha opinião não é simplesmente discordante. Na verdade, quem vive (?) os dias de hoje e viveu pelo menos o último quarto do século XX sabe que, de todas as atividades criminosas, de todos os cânceres sociais conhecidos até o presente, de todas as formas de corrupção ou de qualquer outra degradação moral possível, enfim, dentre tudo aquilo que possa ser classificado como danoso ao ser humano, nada pode se comparar (menos ainda se equiparar) ao ganancioso domínio político do poder econômico, nem ao entreguismo dos vendilhões da Pátria, nem ao funesto poder bélico das arrogantes superpotências. Fatores que, interagindo, formam o maior complexo de geração das desgraças que hoje assolam o Planeta. Depois disso, só nos resta sentir Saudades do Apocalipse. 
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

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